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Aramis

Êta mineirada que é solidária na música

Com "Cidade Veloz" (Chorus), Flávio Venturini chega ao seu terceiro elepê fazendo um disco que congrega ritmos e estilos diferentes, reunindo, como diz o letrista e poeta Murilo Antunes, "com a mesma embalagem a experimentação: a calma e a navalha, o simples e o exuberante". Ex-integrante do 14 Bis, muitos anos de estrada, unindo as virtudes de tecladista, vocalista e compositor, Flávio Venturini atinge um público jovem, formado no rock, mas com maior evolução cultural e, neste seu novo disco, mostra estar em boa forma, além de muito bem acompanhado. Assim destacam-se as participações de amigos como Milton Nascimento, Túlio Mourão e Toninho Horta na canção "A Casa Vazia", parceria com Mário Borges. Já Beto Guedes e Lo Borges cantam com Flávio a canção que ele e Murilo fizeram para Chico Mendes ("O Medo não Cria"), cuja letra diz: "Há um temor nuclear de tudo se acabar / meu coração devastado / O medo não cria / Não traz alegria / Não faz avançar o amor". A exatidão musical marca o disco que tem base no baixo de Paulinho Carvalho, bateria de Nenem e participações especiais de Luiz Alves (baixo) e Maurício Einhorn (harmônica), Cláudio Venturini, Torquato Mariano e Yuri Popof. E os velhos amigos do 14 Bis fazem com Flávio a "Saga do Violeiro", uma bela toada calcada em sons autênticos. Se Venturini mescla vozes e som instrumental, outro mineiro, Nivaldo Ornelas, desenvolve apenas um trabalho instrumental, mas que está hoje consagrado em cinco elepês e algumas trilhas marcantes - além de premiações iniciadas há 11 anos, quando com seu terceiro elepê solo, mereceu o troféu Villa-Lobos. Dois anos depois, com a trilha para o curta "João e Rosa" de seu conterrâneo Helvécio Raton, obtinha o prêmio de melhor trilha no Festival de Brasília, onde, em 1984, voltaria a conquistar mais um Candango com a belíssima música de "A Dança dos Bonecos", do mesmo diretor - cuja edição em elepê, por ele tentada, infelizmente não aconteceu. Uma adaptação do clássico romance de Fernando Sabino, "O Encontro Marcado", para o teatro, em 1982, ganhou sua trilha sonora, premiada pela Associação dos Críticos de Teatro de Minas Gerais. No ano seguinte, seria a Associação Paulista de Críticos de Arte que o consideraria como o melhor instrumentista de sopros e, em 1983, seu elepê solo "Viagem Através de um Sonho", receberia o Prêmio Chiquinho Gonzaga, dado aos melhores trabalhos independentes. Agora, temos "Colheita do Trigo", que, na feliz definição de Lúcia Sweet, é "uma delicada flor musical, de tonalidade alegre, em que cada música é uma pétala", resultando "um disco para enfeitar os ares com melodias perfumadas, de belíssimos acordes". Realmente, dentro de uma obra gravada que inclui trabalhos de muita imaginação - a partir de seu primeiro elepê ("Portal dos Anjos", Polygram, 1978), e que incluiu "A Tarde", (1982, editado somente na França), "Viagem Através de um Sonho" (independente, 1983); "Som e Fantasia" (com Marcos Rezende, 1984) e "Planeta Terra" (1989, edição da IBM), "Colheita de Trigo" significa um passo adiante, numa produção extremamente bem realizada - e, como não poderia deixar de acontecer, com fraternal presença de amigos como Milton Nascimento, Flávio Venturini, Robertinho Silva, Túlio Mourão, Paulinho Braga e Cid Ornelas. Com a experiência de quem tem valorizado notáveis discos de nomes como Gismonti, Milton, Túlio e Wager Tiso, mais presença em uma dezena de álbuns de cantores, Nivaldo alcança uma maturidade para desenvolver uma sonoridade especial, linguagem muito própria, especialmente, emoldurada por arranjos perfeitos e presenças exatas - como a faixa que dá título ao disco, "Sentimentos não Revelados" (neste com vocal de Milton), "Sorriso de Crianças" (com um coral infantil), o terno "Adeus à Infância" (em duo com Pierre Luc Vallet, autor do tema), "12 de Outubro" ou "Cello Romanceado". Um álbum de primeira classe, para encantar público de qualquer parte do mundo. xxx Nos discos do chamado "grupo mineiro" nota-se o oposto do axioma cruel que Nelson Rodrigues cunhou ("o mineiro só é solidário no câncer"). Ao contrário, musicalmente a solidariedade mineira se traduz na integração dos melhores músicos - ao menos da geração irmanada pelo "Clube da Esquina" que significa a fusão de instrumentistas do primeiro time numa mesma produção. Nota-se isto no excelente "Teia de Renda", novo trabalho solo de Túlio Mourão, tecladista com uma obra das mais respeitáveis e que vem desenvolvendo um trabalho notável. Assim, nesta produção feita em colaboração com a Visom - mas distribuída pela BMG/Ariola, somam-se aos seus teclados, o baixo de João Baptista, a bateria de Robertinho Silva, além de participações especiais como Jurim Moreira (bateria em "Visões"), Nivaldo Ornelas (sax em "A Caçada"), Milton Nascimento (vocal em "Visões"), Uakti Oficina Instrumental ("Amormeuzinho" e "Baile dos Meninos") e Pat Metheny ("Depois da Paixão"). LEGENDA FOTO - Nivaldo: uma grande colheita sonora.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
6
12/08/1990

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