Login do usuário

Aramis

Exportando o som da cuíca de Oswaldinho

Ao criarem o selo Som da Gente, em 1980, Teresa Sousa e Walter Santos, donos do Nosso Estúdio - um dos melhores, se não o melhor, do País - tinham em mente o prestigiamento à música instrumental. Trabalhando no dia-a-dia com os melhores instrumentistas, gente de grande talento mas marginalizada em termos artísticos e com raras chances de fazerem seus lps-solos, Walter e Teresa, também compositores de mão cheia (Walter chegou a fazer dois históricos Lps no início da Bossa Nova) preencheram um espaço no mercado. E o catálogo do Som da Gente, nestes 5 anos, se fortaleceu com esplêndidas produções que, por sua qualidade tiveram aceitação internacional - assim como está acontecendo com as produções de outra etiqueta alternativa, voltada ao instrumental - a Carmo, de Egberto Gismonti. Só que a internacionalização do catálogo do Som da Gente fez com que Walter e Teresa, através do pedido de representantes no Exterior, sentissem uma necessidade: a falta de discos de samba, com percussão e, eventualmente, vozes - afinal, ainda o gênero que identifica externamente o Brasil. Assim, para não quebrar a filosofia da marca Som da Gente - tradicionalmente instrumental (apesar de por ela ter saído o esplêndido lp de Tetê Espíndola, "Pássaros na Garganta", há 3 anos), a solução foi criar uma nova marca - a Somda, inaugurada com um excelente lp para aceitação internacional: "Preto no Branco" com Oswaldinho da Cuíca (Oswaldo Barro, paulista do bairro de Bom Retiro, 46 anos). Instrumentista notável, Oswaldinho toca todos os instrumentos de ritmo usados nas escolas de samba. Do tamborim ao surdo, do pandeiro ao agogô, do reco-reco ao repenique, passando por apitos e chocalhos, domina a todos com natural espontaneidade. Mas se destaca, naturalmente, na cuíca, instrumento por natureza limitado e difícil, a ponto de conseguir solar melodias na tonalidade - como a esplêndida "Cuíca Manhosa". Carnavalesco emérito, Oswaldinho está entre os que levaram o samba da noite para a avenida Ibirapuera e depois na Rua Santo Antônio e há anos atuam na direção da Escola de Samba Vai-Vai, merecendo, há 11 anos passados, o título de primeiro Cidadão Samba Paulista. Modesto, Oswaldinho não se considera percussionista ("Percussionista é quem tem formação musical e toca instrumentos de orquestra, como o xilofone e o tímpano"). Também não gosta de ser chamado de compositor embora há muito se destaque por seus vitoriosos sambas-enredo (quatro deles estão reunidos no pot-pourri que fecha o disco). Também não se considera cantor, embora há 20 anos cante à frente de seus próprios grupos (o atual é o Velhos Amigos, que lembra os Demônios da Garoa) e canta em seis da nove faixas do disco. Oswaldinho se diz, simplesmente, um sambista. - "Porque [para] ser sambista é preciso nascer dentro de uma quadra, é preciso conviver, participar da comunidade que faz o samba. O samba exige a participação." E "Preto no Branco" é um ótimo disco de Samba - provando que hoje São Paulo não merece mais ser chamada "o túmulo do samba", como disse o poeta Vinícius de Moraes, 25 anos passados, provocando a maior ira dos paulistas. Produzido pelo próprio Oswaldinho, com arranjos de Edson José Alves, este disco vai atingir, tranqüilamente, o mercado internacional - que o Som da Gente já vem beliscando com outras produções. Três das nove faixas são apenas instrumentais: em "Cuíca Manhosa", Oswaldinho mostra todo seu virtuosismo, chegando até a brincar com a citação pianística "Bife": Nas duas outras - "Alegria Geral" e "Cavaco Malandro" (em parceria com o cavaquinhista Biro-Biro), mostra o ritmo autêntico das escolas de samba paulistas. Já nas faixas cantadas - todas de sua autoria - Oswaldinho monta um variado painel com pagodes, partido alto, balanço, samba romântico e samba-de-enredo. Os destaque ficam com "Pagode da Bicharada", samba dolente e cadenciado que por sua letra engraçada e maliciosa, já está com execução proibida em rádio/TV; em "Contra Senso", samba-balanço, o arranjo de Edson Alves dá um destaque à banda Savana; "Não Agüento Mais" tem uma letra crítica ao quadro social; um pot-pourri mostra o lado samba-de-enredo de Oswaldinho. LEGENDA FOTO - Oswaldinho da Cuíca: som internacional
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
5
06/04/1986
Tomei a liberdade de reproduzir a matéria em meu blog. Sou encantada pelo som da cuíca.

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br