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Aramis

Fafá, o canto afinal (depois da política)

Afinal Fafá de Bélem (Maria de Fátima Palha Figueiredo, Belém), chegando aos 30 anos - completados no último dia 10 de agosto - decidiu parar de badalar politicamente e dar um pouco atenção a sua carreira. Catapultuada [alçada] ao sucesso há 10 anos, transformada em sex symbol por uma discutível promoção sócio-etílica, sua carreira quase foi para o brejo. Vítima de empresários irresponsáveis, falhando em compromissos (só em Curitiba, deu dois canos lendários no público que desejava aplaudí-la no Guaíra), um casamento desfeito, experiências com drogas (que agora combate), Fafá agarrou-se na campanha das Diretas. Mesmo com estigma de se ter transformado numa espécie de Urubu Canoro, acabou ganhando uma projeção mais político-promocional de que artística. Da forte, afinada e marcante cantora do final dos anos 70, decaiu para uma intérprete ridícula, mal produzida e chegando até a apelação ufanista de gravar o "Hino Nacional". Finalmente, freando tanta irresponsabilidade musical, Fafá retorna agora num elepê ao menos digno de ser ouvido. Não deve ter sido fácil contornar seus arroubos político-promocionais e fazê-la entender que mais do que o momentâneo poder peemedebista (que ela tanto cultiva e aproveita) é usar a sua bonita voz em um repertório bem escolhido, com bons arranjos. Max Pierre e Ana Sabugosa, produtores de "Atrevida" (Sigla/Som Livre, agosto de 1986), conseguiram fazer com que a cantora Fafá retornasse num elepê equilibrado, com bons arranjos e um repertório de alguns momentos inspirados - especialmente graças às músicas de Ivan Lins - uma surpreendente parceria com Maysa (1936-1977), guardada por tantos anos ("Pra não mais voltar"), "Coração de Isopor" (parceria com Lincoln Olivetti, Vitor Martins e a própria Fafá), mais "Minha Estrela" e "Atrevida", com Martins. Ivan sempre foi um compositor de vigor, com momentos inspirados e estas suas quatro contribuições valorizam este retorno de Fafá, que, como boa paraense, também buscou um reencontro de origens e a simplicidade com gravações de Lambadas da sua terra incluindo até um trecho de "A Carta", de Carlos Santos, o intérprete mais popular da região Norte. Como não poderia faltar um toque de sensualidade - marketing que Fafá busca sempre sem seus discos - regravou "Cavalgada" (Erasmo-Roberto Carlos) e para completar bem a versão de uma bela música de Marvin Hamlisch/Carole Bayer Seger: "Meu Homem" Comparado ao lamentável disco que fez no ano passado, este "Atrevida" mostra que nem tudo está perdido para Fafá. Ao contrário, agora com a cabeça no lugar, conscientizando-se, de que mais do que palanques do poder temporário, vale sua força vocal, há muito a ser feito em termos musicais. Potencialidades para tanto ela tem. É só uma questão de administrar o seu talento, sem cair em piroquetas e modismos para ficar nas primeiras páginas dos jornais como "A Musa das Diretas".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
14/09/1986

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