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Aramis

"Falstaff" e "Messias"

Há muitos anos que a Polygram acredita naquilo que foi slogan de um dos mais felizes projetos de Maurício Quadro: o brasileiro não tem medo de música clássica. Assim é que mensalmente esta fábrica tem feito preciosas edições com o melhor do que existe em orquestras e virtuoses nos Estados Unidos e Europa. E tem mais: não se limita a álbuns simples, mas lança também coleções, como as sinfonias de Brahms com a Orquestra de Viena, nas regência de Leonard Bernstein - como aconteceu há menos de 60 dias, ou então de caixas com 3 ou 4 elepês, contendo as íntegras de óperas e cantatas definitivamente eternizadas como o que melhor se produziu até hoje. No final do ano passado, aconteceram duas destas produções: "Falstaff" de Handel. Ensina J. Jota de Moraes que quando Verdi (1813-1901) resolveu escrever "Falstaff", já no final de sua vida, ele era mais que uma glória nacional: era considerado, ao lado de Wagner, o maior compositor operístico de todo o século XIX. Assim, sua nova "comédia lírica", feita sobre um excelente libreto de Arrigo Boito alimentava-se de duas fontes prestigiosas: "As Alegres Comadres de Windsor" e "Henrique IV", peças de Shakespeare. E, em vez das árias brilhantes e de melodias facilmente memorizáveis, o espetáculo estreado em 1983 no Scala de Milão oferecia um espirituoso divertimento construído sobre recitativos cantantes, apoiados em uma orquestra bastante condimentada (para Verdi, obviamente). Bem diz J. Mota de Moraes ("Jornal da Tarde", 24/12/84): "Ainda hoje, são mais numerosos aqueles que elogiam essa ópera pelo fato de ela ser uma prova de que Verdi era capaz de escrever "grande música" do que aqueles que se referem a ela como uma fonte de prazer". Nesta gravação que a Deutsche Grammophon/Polygram colocou nas lojas do Brasil há alguns meses, temos Renato Bruson como Sir John Falstaff. Na opinião de outro respeitado crítico, Zito Baptista Filho, Brusson é uma poderosa voz, "expressiva na autolisonja ou na autocomiseração, jogado à água gelada do Tâmisa num cesto de roupa suja para fugir de uma aventura galante que não houve, prorrompe em impropérios contra um mundo ladro e cão em que se sente vilmente desrespeitado. As "comadres" são Katia Ricciareli, Brenda Boozer (meio-soprano) e a esplêndida Lúcia Valentini-Terrani. Como acentuou ainda o crítico d'"O Globo", os momentos líricos são deixados aos jovens namorados Fenton (Dalmácio Gonzales) e Naneta (Barbara Hendricks), que namoram em nervoso ritmo de proibição, mas ainda têm direito a um luar mais demorado, que é a única cena tranquila nesta comédia em que Verdi tem o cuidado de pôr um pouco do clima diríamos quase mendelssohniano do "Sonho de uma Noite de Verão". A direção musical desta montagem, com a Los Angeles Phillarmonic Orchestra é de Carlo Maria Giulini. O Los Angeles Master Chorale tem regência de Robert Wagner. No final de 1984, a Polygram não poderia ter feito uma edição mais significativa: "O Messias" de George Frideric Handel (1685-1759), marcante não apenas como obra apropriada ao espírito da Festa Magna da Cristandade mas como uma (das muitas) edições que o quarto centenário do nascimento do mestre Handel. E embora seja uma obra que tem tido, mesmo no Brasil, inúmeras gravações - além de merecido aqui montagens (até o Teatro Guaíra, no ano passado, arriscou-se a uma produção com esta obra imortal), a gravação da Philips, em digital, que sai agora traz aspectos de grande interesse aos que curtem a obra de Handel. De princípio, a qualidade dos solistas Margaret Marshall (soprano), Catherine Robbin (meio-soprano), Charles Brett (contratenor), Anthony Rolfe Johnson (tenor), Robert Hale (baixo) e Saul Quirque (menino-soprano). A participação do Coro Monteverdi é de especial importância para realçar a beleza desta obra-prima - e os solistas são Crispian Steele - Perkin (trumpete), Elizabeth Wilcox (violino), Alastair Ross (órgão e cravo) e Timothy Masson (violoncelo).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24/03/1985

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