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Aramis

A família Caymmi, o nosso maior patrimônio musical

Artur Xexéo, nosso bom amigo, jornalista do primeiro time do "JB", escreveu um texto preciso, excelente sobre um disco que, seguramente, estará em nossa relação dos dez melhores lançamentos do ano: "Família Caymmi em Montreaux"(Polygram, abril/92). Raramente uma gravação ao vivo, com todos os riscos que uma produção oferece, resulta num trabalho tão emotivo, seguro e brasileiríssimo como esta reunião do patriarca-mor da MPB, o velho-jovem Dorival, 78 anos a serem completados no próximo dia 30, e seus filhos Danilo, 44 anos completados dia 7 de março, Nana (Dinair Tostes), 51, que completa no próximo dia 29 e Dori, 49 anos a serem feitos no dia 26 de agosto. Artur Xexéo escreveu: "Muito poucos países, mas muito poucos mesmos, podem sentir o orgulho de incluir entre seus habitantes uma família tão musical, promover tão poucos registros - em discos em apresentações ao vivo - da arte de Dorival Caymmi e seus filhos. Só por isto este "Família Caymmi em Montreaux" já teria sua importância justificada. São 17 faixas em que o virtuosismo de Dorival, Nana, Dori e Danilo desfila com a calma e a sabedoria típica dos baianos. E que provam que quando existe talento, o regionalismo - há algo mais baiano que as canções de Dorival Caymmi? - é eficiente em qualquer lugar do mundo. Mesmo em países que não tem famílias tão musicais". Gravado no suíço Festival de Jazz de Montreaux - um evento cada vez mais aberto, no qual, no ano passado, Miles Davis fazia uma de suas últimas apresentações e o inacreditável grupo "Les Mysteres de Voix" [bulgares] impressionava a todos, a íntegra da apresentação não pode ser editada (o que resultaria num álbum duplo), "por causa de obrigações contratuais que tínhamos com Emi-Odeon, com quem fizemos dois discos" explica Danilo, atualmente arrebatando corações cantando "Esse amor", tema de Maurício Mattar na novela "Pedra sobre Pedra". Sem a participação de Dori (*), que está agora residindo nos EUA, o espetáculo teve um replay durante apenas três noites (12 e 14 de março/92), no Imperator, no Rio de Janeiro. O disco registra a festa mais ou menos do jeito que ela foi. Primeiro o caçula Danilo - talento que só agora o Brasil está reconhecendo devidamente - com "Você já foi à Bahia", do pai; duas homenagens ao amigo Antônio Carlos Jobim (com quem vem trabalhando há anos) - "Samba do avião" e Gabriela" e, mostrando a seguir o seu lado de compositor com o praticamente inédito "Brasil nativo" (parceria com Paulo César Pinheiro) e o clássico "Andança", parceria com Edmundo Souto e Paulinho Tapajós, que em 1968, foi a terceira classificada no III FIC (Rede Globo) e revelou a cantora Beth Carvalho. Em seguida, duas vozes imensas se unem: "Dorival e o filho Dori - cujo timbre é o que mais se aproxima do grande baiano, com "Argaço mar", "A lenda do Abaeté", "Nem eu", "Noite de temporal" e "Marina", estas duas últimas já no lado B do disco. Finalmente, entre a maravilhosa Nana, para nós, uma das maiores cantoras brasileiras de todos os tempos, e que, num país razoavelmente civilizado em termos sonoros, devia ser intimada a gravar ao menos um novo disco por ano - e não amargar exílios fonográficos tão longos como há anos suporta. Como já disse de Dalva de Oliveira (Vicentina de Paula Oliveira, 1917-1972), Nana é daquelas cantoras tão emotivas, que se dá tanto às canções que interpreta, que parece pari-las em cada nova performance - com toda dor e alegria do parto (o que justifica, respeitosamente, a adjetivação de "cantora que canta pelo útero"). Nana por si, já justifica a imediata aquisição deste disco magnífico, enriquecido com projeto gráfico de Ruth Freithof e fotos de capa e encarte de Ana Lontra Jobim. Nana canta, de início, "Razão de viver" (Eumir Deodato-Paulo Sérgio Valle) e, prossegue com clássicos do pai - "Nesta rua tão deserta" e "Sábado em Copacabana", parcerias com Carlos Guinle - da chamada "fase urbana" de Doriva, e depois o canto da "Suíte dos pescadores" - "Dois de fevereiro" e encerrando com "Saveiros", de Dori e Nelson Motta, segundo lugar na parte internacional do I Festival Internacional da Canção (Rio de Janeiro, 1966). No final, Dorival, Nana e Danilo, encerram com as duas canções mais famosas do monumento Dorival: "Saudade da Bahia" e "Maracangalha". Numa época de tão poucos lançamentos de categoria na MPB, "Família Caymmi em Montreaux" é um bálsamo revigorante. Feliz, [realmente], o país que tem uma família musical como estes maravilhosos Caymmis. (*) NOTA Radicado há 3 anos em Los Angeles, Dori Caymmi tem feito temas para muitas trilhas sonoras e gravou no ano passado o belíssimo "Brazilian serenata", que foi indicado ao Grammy na categoria "World Music", concorrendo com o disco de Milton Nascimento e o percussivo "Planet [drumm]", com Mick Hart, Airto Moreira e Flora Purim - que foi a gravação premiada. Infelizmente, devido à incompetência promocional e comercial da Warner no Brasil, o "Brazilian serenata", de Dori Caymmi não teve divulgação em seu lançamento entre nós e dificilmente se encontra nas lojas de discos do Paraná. FOTO
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
19/04/1992

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