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Aramis

Feche os olhos e lembre os bons tempos da Jovem Guarda

Depois da exumação da Bossa Nova - cujos 30 anos, comemorados entre 1988/89 (considerando o disco marco "Canção do Amor Demais", com Elizeth Cardoso e o "Chega de Saudade" com João Gilberto) justificaram inúmeras reedições e homenagens (embora, não tantas quanto merecia o mais importante movimento já existente na MPB), parece chegar a vez da Jovem Guarda começar a ser escavada, com a montagem de elepês com faixas de históricos momentos do movimento e mesmo estudos a respeito. Infelizmente, a proposta mais ampla, o álbum "Censurar Ninguém se Atreve", uma coletânea do rock brasileiro por diversos intérpretes (Nora Ney, Agostinho dos Santos, Rosemary, Renato e seus Blue Caps, The Avalons, Clério Moraes, Sérgio Murilo, Sônia Delfino, Fernando Costa, Conjunto Alvorada, Regianne e Eduardo Araújo) teve uma tiragem pequena (mil cópias) e tão independentes (Wop Bop, Rua Barão de Itapetininga, 255, loja 25, São Paulo), que nem chegou a ser comercializada fora de São Paulo. O projeto foi de Carlos Alberto Pavão, 47, funcionário desde 1980 da Eletrobrás, ele próprio participante do movimento da Jovem Guarda com uma gravação incluída no álbum. Paralelamente, agora em março, Pavão lançará o livro "Rock Brasileiro: 1955/1966", oferecendo uma importante contribuição para a MPB, já que num preconceito injustificável, até hoje raros foram os pesquisadores e ensaístas que se detiveram para analisar os anos da Jovem Guarda (e mesmo os predecessores, como Carlos Gonzaga, George Freedman, Sérgio Murilo, etc.). Pavão, assim, no disco que produziu e no livro propõe uma reapreciação do movimento que, há três décadas e meia - logo após Bill Hally ter explodido com "Rock Around the Clock" (que, vejam só, no Brasil, teve da romântica Nora Ney sua primeira gravação, incluída no elepê "Censurar Ninguém se Atreve"), ingressaram naquilo que se pode chamar de pré-música jovem. xxx Se o elepê "Censurar Ninguém se Atreve" tem que ser solicitado à Wop Bop, em São Paulo, a EMI/Odeon, que soube, astutamente, capitalizar ainda nos anos 50, o movimento da Jovem Guarda, acompanhando-o com vários grupos que teve por contrato, montou o álbum "Feche os Olhos e Sinta o Melhor da Jovem Guarda", com uma cuidadosa produção. A capa é de Romero Cavalcanti, há um delicioso texto do jornalista Joaquim Pereira dos Santos, editor da "Revista de Domingo", do "Jornal do Brasil" e o repertório selecionado vale por uma viagem ao tempo. Vejam que junção de êxitos de quase três décadas passadas: "A Festa do Bolinha" (Trio Esperança); "Feche os Olhos" (Paulo César); "Coruja" (Deny e Dino); "Coração de Papel" (Sérgio Reis); "Pensando Nela" (Golden Boys); "Vem Quente que Eu Estou Fervendo" (Eduardo Araújo); "Já Cansei" (The Fevers); "Mamãe Passou Açúcar em Mim" (Wilson Simonal); "O Bom" (Eduardo Araújo); "Filme Triste" (Trio Esperança); "O Ciúme" (Deny e Dino); "Escândalo em Família" (Década Romântica); "Alguém na Multidão" (Golden Boys); "Se Você Pensa" (Wilson Simonal); "Vem me Ajudar" (The Fevers) e "Michelle" (Golden Boys e The Fevers). Muitas páginas poderiam ser escritas em torno das múltiplas leituras que reedições como "Censurar Ninguém se Atreve" e "Feche os Olhos e Sinta o Melhor da Jovem Guarda" estimulam - a viagem ao tempo, as contradições de uma outra época, a ingenuidade perdida. Mas, simplesmente, podem ser músicas para se curtir, com uma nostalgia jovem. Se editadas também em CD, estes dois discos encontrarão público fiel. Afinal, quem curtiu estes sucessos na época, hoje passa da casa dos 40 anos - e muitos dispõem de cacife para voltar auditivamente aquela época comprando o CD. Fica a sugestão!
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
17
11/02/1990

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