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Fernanda Montenegro, a atriz, a cantora e agora a escritora

Fernanda Montenegro e Fernando Torres estiveram por algumas horas em Curitiba na terça-feira. Foi uma viagem rápida mas importante. Chegaram pela manhã e durante um almoço-reunião com a professora Maria Cristina Andrade Vieira, coordenadora de projetos culturais do Banco Bamerindus acertaram os detalhes finais da participação do Banco da Nossa Terra no patrocínio de "Suburbano Coração" em sua temporada paulista (Teatro Cultura Artística, a partir de 23 de abril). Em cartaz desde 15 de abril de 1989 no Teatro Clara Nunes, no Rio de Janeiro, esta nova peça de Chico Buarque-Naum Alves de Souza, terá agora uma temporada de cinco meses em São Paulo. Posteriormente será levada apenas a Belo Horizonte e Brasília. "Infelizmente. Devido as dificuldades de produção, cenários e elenco, além de um conjunto musical, torna-se impossível estender a excursão nacionalmente, como fizemos com "Fedra" e "Dona Doida" - explica Fernanda, que, nas duas temporadas anteriores teve como gerente executiva, nas excursões, a curitibana Verinha Walflor, sua grande amiga. Acompanhando Fernanda e Fernando, vieram dois executivos da área de comunicação - o jornalista Quartim de Moraes, ex-secretário de imprensa do governo de São Paulo - agora dedicando-se apenas a grandes consultorias, assessorias e eventos e Oscar Colucci, da Colucci & Associados Propaganda, que tem participado de projetos culturais, na área teatral que obtém patrocínio do Bamerindus. "Temos tido tantos sucessos que a nossa preocupação é sempre escolher bem e certo aquilo que devemos indicar e apoiar" explica Colucci, lembrando que só a credibilidade e admiração que Fernanda Montenegro merece faz com que "Suburbano Coração" seja um espetáculo de sucesso. xxx Com a elegância que a caracteriza como a grande dama do teatro brasileiro - a primeira de nossas maiores atrizes, Fernanda Montenegro na segurança de seus assumidos 60 anos - 40 dos quais dedicados ao teatro - garante que após encerrar a temporada de "Suburbano Coração" - que, será encerrada em agosto, só tem um projeto: férias. - Estou necessitando mesmo de um longo período de descanso, junto ao Fernando (Torres, seu marido há 37 anos). Antes de embarcar em férias, Fernanda deverá liberar os originais de dois livros que está escrevendo e que terão lançamento quase simultâneo. "Em Busca do Ouro", reunindo textos-reflexões, nos quais desenvolve "de forma informal mas sincera e pessoal" o que observou ao longo destas quatro décadas em que fez cerca de 80 peças (entre as quais algumas do teatro brasileiro), atuou em poucos filmes ("A Falecida" e "Eles Não Usam Black-Tie" de Leon Hirzman; "Tudo Bem", de Arnaldo Jabor; "Trancado (por dentro)" de Arthur Fontes e uma relação com a televisão que vem desde os tempos pioneiros em 1951. Embora com presença em poucas telenovelas - mas sempre de forma marcante - Fernanda Montenegro, ao lado de Fernando Torres, esteve nas primeiras emissões de teleteatro pela pioneira Tupi, em São Paulo e sempre soube manter um relacionamento profissional com esta mídia - para ela também de grande importância e sobre a qual nos falou com vagar, para entrevista a ser publicada em próximo ALMANAQUE dominical. "Em Busca do Ouro" terá edição pela Funacem, ainda sem data de lançamento. Já o segundo livro, com toques mais biográficos - mas sem ser, exatamente, uma biografia tradicional - ainda não tem título definido e sairá pela Rocco. xxx Na semana passada, a filha do casal - Fernandinha Torres, 24 anos, viajou para a Cidade do México, onde está sendo rodado "One Man's War", o segundo longa-metragem de Sérgio Toledo, cineasta revelado em "Vera", há quatro anos. Produção internacional, em torno de um incidente político ocorrido no Paraguai (país em que o filme iria ser rodado inicialmente), "One Man's War" dará a Fernanda Torres - melhor atriz do Festival de Berlim-1986 por "Eu Sei Que Vou Te Amar" - uma projeção internacional. Ela contracena com o inglês Anthony Hopkins (conhecido no Brasil após "Nunca Te Vi, Sempre Te Amei") e a argentina Norma Alejandro ("A História oficial"). Embora tendo já várias peças em seu curriculum - a última foi "Orlando", baseado em Virginia Wolf - Fernanda Torres "é antes de tudo uma atriz do cinema e da televisão", reconhece sua mãe Fernanda. O orgulhoso pai-coruja Fernando Torres acrescenta: - "É uma questão de identificação com o veículo, com a técnica de chegar a uma faixa maior de público". Fernanda admite que o cinema a assusta um pouco. - "A repetição das cenas, os preparativos, a tensão, enfim tudo aquilo me faz preferir ao teatro". Tem ido pouco ao cinema. Nos últimos meses, apenas duas produções dinamarquesas - "A Festa de Babette" e "Pele. O Conquistador" a entusiasmaram. Nem por isto, mostra pessimismo em relação a uma nova geração de quem faz cinema. Prova é que trabalhou, praticamente de graça, ao lado de Paulo Gracindo, em "Trancado (por dentro)", um curta metragem que após ser levado a vários festivais, saiu agora em vídeo. Em "Suburbano Coração", Fernanda mostra um lado até hoje desconhecido de seu talento: o de cantora. Pelo menos duas das seis canções de Chico Buarque (algumas delas, como "Bonita", já gravadas por Maria Bethania e Zizi Possi) são por ela soladas. - "Mas não penso em editar a trilha do espetáculo em disco. Poderia ser, talvez, até um documento, mas a produção do álbum ficaria caro e, infelizmente, no atual momento que vivemos, não dá para pensar em despesas extras". xxx Primeira pessoa a ser convidada pelo ex-presidente José Sarney para ocupar o então recém-criado Ministério da Cultura, Fernanda soube após o almoço no Tower Bourbon, na terça-feira, de que o cineasta Ipojuca Pontes (marido da atriz Theresa Rachel) havia sido escolhido por Fernando Collor para a Secretaria da Cultura, que substituirá o Minc. Sem fazer comentários maiores, ela repetiu apenas porque não quis ocupar o Ministério há 4 anos: - "Há várias razões, mas em primeiro e principal lugar, é que eu sou antes de tudo uma mulher de teatro. E o meu trabalho é no palco". LEGENDA FOTO - Fernando e Fernanda: "Suburbano Coração" agora em São Paulo, com patrocínio do Bamerindus.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
18/03/1990

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