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Aramis

A ficção que faz pensar

Se a ficção-científica torna-se cada vez menos ficção e muitas vezes um apavorante "documentário de antecipação" - como o já clássico "No Mundo de 2020" (Solyleent Green), pode-se dizer que "A Passagem de Cassandra" (Cine Lido, até hoje), está entre os mais importantes filmes de um gênero recente, explorando comercialmente, e que até agora produziu poucas obras de vigor: o cinema-catástrofe. Produção comercial, do astuto e organizado Carlo Ponti, "Cassandra Croissing" tem a seu favor um roteiro elaborado com uma precisão, trabalho do próprio diretor George Pan Cosmatos, assessorado por Robert Kanz e Tom Mankiewicz. Com Kantz, aliás, Pan já havia realizado, há seis anos, o corajoso "O Carrasco de Roma", sobre o nazista Kapler que comandou o fuzilamento de 300 italianos em represália a uma ação da resistência italiana contra o exército alemão. O filme, corajoso em sua denúncia da omissão do Vaticano, teve problemas com a justiça e Ponti acabou sendo condenado - pena que, evidentemente não cumpriu. "A Travessia de Cassandra" é igualmente válido em sua denúncia: até que ponto age um serviço de segurança (no caso americano) para encobrir um grande erro. Um ataque terrorista à sede da Organização Mundial de Saúde, em Genebra (onde, por tanto tempo, trabalhou o cientista Newton Freire Maia) provoca que o sobrevivente da ação fique contaminado com um vírus desconhecido. A fuga para Estocolmo, num trem transcontinental - com mil pessoas - provoca toda a situação de drama e desespero, que a direção segura de Cosmatos aproveita com energia e ritmo. É claro que todas as situações paralelas são exploradas - o médico ironicamente chamado de Chamberlain, como o famoso personagem da televisão, numa interpretação máscula de Richard Harris, os conflitos com sua ex-esposa, Jennifer (Sophia Loren), a velha dama ninfômana (Ava Gardner, ainda bem conservada), gigôlo-traficante (Martin Shee), o agente federal (O.I. Simpson), o velho refugiado (Lee Strasberg) etc. Enfim, toda uma natural galeria de personagens para dar interesse humano a este filme rodado na Suíça-França, com excelentes recursos técnicos. Fotografia primorosa de Ennio Guarnieri, nervosa trilha sonora de Jerry Goldsmith. Seria exagero classificá-lo de um marco dentro do gênero cinema-catástorfe, mas é, sem dúvida, um filme-denúncia corajoso e bem mais decente do que tantos exemplos de superproduções do gênero que têm aparecido nos últimos meses.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
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02/11/1977

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