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Fogo pesado contra Loureiro no Guaíra

Pela primeira vez na história das artes cênicas no Paraná a categoria uniu-se totalmente na elaboração de um documento contundente - resultado daquela que na opinião de experientes profissionais, foi "a mais inflamada assembléia geral já feita com artistas paranaenses" - em que é exigido, literalmente, a demissão da atual diretoria da Fundação Teatro Guaíra - agora reduzida a uma autarquia com muito menos autonomia. Em linguagem direta, sem meias palavras, o documento espalhado por nada menos que 8 laudas datilografadas, divididos em subtítulos bem humorados - "Do Olimpo ao Paraná", "Gritos, Sussurros e Ranger de Dentes", "Máquina de Idéias", "É o Gabinete no Palco?", etc. - demonstrando a fúria que dominou a maioria dos participantes - mais de uma centena - na reunião ocorrida na noite de segunda-feira, 11, no anfiteatro do Edifício Dom Pedro I. A extensa redação do documento - que para conseguir maior divulgação deveria ter passado por uma copidescagem que tornasse mais objetivas as inúmeras denúncias que formula - reflete, entretanto, o clima a que se chegou, em apenas cinco meses, a "administração" do ator carioca Oswaldo Loureiro na Superintendência do Teatro Guaíra. Provocando rejeição total desde que teve seu nome aventado para a função - em substituição ao estimado advogado e administrador cultural Constantino Baptista Viaro, quando este - mesmo confirmado no cargo - preferiu demitir-se, "devido a incompatibilidade com a nova administração cultural" - Oswaldo Loureiro não conseguiu estabelecer diálogo com a classe artística. Ao contrário, a julgar pelas acusações, críticas e xingamentos que foram levantados na assembléia - e documentadas no manifesto que desde a tarde de quarta-feira, 13, está sendo distribuído em todo o Estado - sua administração - bem como o diretor administrativo, Jeremias Petenatti - está a exigir ao menos detalhadas explicações, até agora negadas não só à classe artística mas a própria opinião pública. Problemas que vão desde a desativação da comissão de Artes Cênicas até irregularidades internas, bem como a cobrança de promessas oficiais feitas quando da posse (já contestada na ocasião) dos novos diretores, recheiam o extenso manifesto que assinado pelos presidentes de quatro entidades de classe - Aluízio Cherobim (Sindicato dos Trabalhadores em Espetáculos e Diversões do Paraná), Danilo Avelleda (Associação dos Produtores), José Basso (Associação dos Produtores Independentes), Ronald Catarino (Associação dos Funcionários da Fundação Teatro Guaíra) e mais J. Carlos Ribeiro, representando os grupos de teatro amador do Estado. xxx Mais grave do que as acusações direcionadas a problemas administrativos-funcionais e mesmo financeiros - que no mínimo exigem uma clara e transparente explicação - é o fato da ausência de uma política cultural definida para as artes cênicas - mal, aliás, que não é privilégio da atual gestão (o mesmo repetindo-se na área da incompetente Fundação Cultural de Curitiba) - é o fato das produções artísticas enfrentarem hoje uma situação de descalabro, ao ponto de uma encenação oficial do Teatro de Comédia do Paraná, como "O Guerrilheiro da Inconfidência", com custo de Cr$ 30 milhões, levar o autor do texto, o jornalista e dramaturgo paulista Roberto Wagner, a solicitar, na Justiça, sua interdição, por não concordar com os cortes e modificações feitos em seu texto - premiado no concurso de peças Maurício Távora. Independente das alegações oficiais do sr. Loureiro e assessores para justificar a montagem - sem qualquer consulta a Wagner (e suprimindo também a trilha sonora original criada pelo pianista e compositor Jota Moraes) - este fato, gravíssimo, veio colocar ainda mais lenha numa fogueira de vaidades, interesses e frustrações - incandescente há meses. Ex-dirigente de entidades artísticas no Rio de Janeiro, com um curriculum de atuações em peças, filmes e atuações na televisão, é estranho que o carioca Oswaldo Loureiro - confiante apenas na "força" de sua amizade e prestigiamento total por parte de Eduardo Requião de Mello e Silva, secretário especial do governo do Estado, não tenha, nestes meses em que ali se encontra, procurado estabelecer um diálogo positivo com os setores que, com toda razão, estranharam sua imposição para um cargo que exige habilidade, competência e confiança. xxx Quem conhece (e admira) o governador Roberto Requião - que desde sua adolescência sempre teve sólidas preocupações intelectuais e, ao contrário do que vem acontecendo com demagogos de nossa vida política, aproveitam-se de "ligações artísticas" para fazer merchandising cultural, acredita que não deve ser sua intenção alimentar um rompimento com um importante setor que, embora reduzido numericamente, tem grande repercussão na opinião pública: os artistas e intelectuais. Por mais autonomia e apoio que tenha o seu irmão, Eduardo, e confiança que deposite em Oswaldo Loureiro - por ele definido quando de sua posse como "uma máquina de idéias" e que teria um milhão de dólares para movimentar a vida cultural no Paraná - é de se esperar que, após esta manifestação corajosa da classe artística - superando divergências e interesses internos - mereça, no mínimo, alguma explicação e mudança dos rumos numa área importantíssima que, infelizmente, até agora tem estado recheada de críticas e graves acusações.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
15/11/1991

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