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Aramis

Foram poucos gols na futebolgrafia

Considerando que o Brasil é o país do futebol, a musicografia inspirada pelo esporte-rei não é tão significativa quanto deveria. Quem ainda mostrou, recentemente ("O Estado de São Paulo", 25/5/85) a pobreza musical em termos de futebol como temática foi o jornalista Zuza Homem de Mello, ex-presidente da Associação de Pesquisadores da Música Popular Brasileira e produtor do programa de maior audiência na Jovem Pan, em São Paulo. Em uma objetiva pesquisa, Zuza começa lembrando que muito provavelmente a primeira música ligada ao futebol mais conhecida coincide ter sido feita pelo mais querido músico deste país: Pixinguinha. É o choro "1 x 0", inspirado na vitória sobre o Uruguai, em maio de 1919, quando o Brasil foi campeão sul-americano - gol do lendário Friedenreich na segunda prorrogação. Choro de dificílima execução, sem letra, a ligação com o futebol fica por conta do título. Zuza observa que as músicas de futebol surgiram sempre nas épocas da Copa. Em 1938, Raul Torres, compositor e cantor sertanejo, compôs o cateretê "A Copa do Mundo". Logo, Carmen Miranda gravaria o samba "Deixa Falar", que iniciava com a participação de Ary Barroso narrando um hipotético gol de Perácio no jogo Brasil x Checoslováquia. A letra, citando clubes do Rio, exalta o Diamante Negro (Leônidas da Silva). Ary Barroso personificava bem a ligação entre a MPB e o futebol, pois ao lado de sua carreira de compositor, foi um notável locutor esportivo. Também é do Carnaval de 38 o passo doble "Touradas em Madrid" (João de Barro / Alberto Ribeiro), que, 12 anos depois, seria cantada pela torcida do Maracanã, no "olé" que o Brasil deu na Espanha. Há 43 anos, Moreira da Silva grava o choro "Copa Roca". Na mesma época, Wilson Batista fez muitos sambas e marchas usando o futebol como tema - várias delas gravadas por Roberto Silva (que, em recente show no Paiol, recordou algumas delas). Entre a músicas de Batista com temas futebolísticos estão "Boteco do José" (gravado por Linda Batista); "E o Juiz Apitou" (1942, primeira gravação de Vassourinha); "O Samba Rubro-negro" (1955); "O Samba do Tricampeão" (1956); "Mané Garincha" e o samba "Mais Uma Taça" (1959) e o chá-chá-chá "Rei Pelé" (1961). Antes do final da Copa de 50, Ary Barroso mostrava otimismo com "O Brasil Há de Ganhar", lançado por Linda Batista, enquanto o inspirado Lamartine Babo (genial autor dos hinos dos clubes cariocas) fez a "Marcha do Scratch Brasileiro", gravada por Jorge Goulart. Leonidas voltou a ser tema em "Diamante Negro" (David Nasser e Marino Pinto), lançado pelos Vocalistas Tropicais. Registra Zuza Homem de Mello que em 1950 ocorreu também o primeiro caso de explorar a motivação da vitória do Brasil na Copa do Mundo: o disco de Rubens Peniche e os Vagalumes do Luar, com duas marchas ("Marcha da Torcida" e "Colosso do Maracanã"), gravado alguns dias antes da derrota do Brasil a 16 de julho de 1950, no Maracanã. xxx Em 1958, com a primeira vitória do Brasil, na Suécia, a música futebolística começou a motivar os publicitários. Os primeiros a se voltarem a temática foram Maugeri Neto, Victor Dagô e Lauro Muller em "A Taça do Mundo É Nossa", com os Titulares do Ritmo - que faria sucesso quatro anos depois, na Copa do Chile. Miguel Gustavo faria, entretanto, a música definitiva: "Pra Frente, Brasil", em 1970. Ligados ao futebol - que praticamente com intensidade - compositores como Fagner e Toquinho além de abordarem esta temática em suas composições tem até convocado ídolos como Zico e Sócrates para participações especiais em gravações. Chico Buarque que, líder de um time de peladeiros fanáticos na Barra da Tijuca, se voltou ao futebol em "Bom Tempo", enquanto João Bosco e Aldir Blanc tem ao menos duas antológicas músicas falando de futebol: "Gol Anulado" e "Incompatibilidade de Gênios". Martinho da Vila compôs "Calango Vascaíno" e Gonzaguinha, no auge da raiva com as declarações de Édson Arantes do Nascimento de que o brasileiro não estava preparado para votar, lhe dedicou uma dura resposta em "Por Falar no Rei Pelé". Voltaria a falar de futebol em "Geraldinos e Arquibaldes", enquanto Thomas Roth e Luiz Guedes também cometeram sua incursão nesta área em "Rola Bola". O campo é amplo: há dezenas de outras músicas que falam, direta ou indiretamente no futebol. Um campo para pesquisa mais aprofundadas e ao qual o bom Zuza apenas deu o pontapé inicial em seu artigo "Em tempo de Copa, músicas históricas".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
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22/06/1986

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