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Aramis

Foz, o bom mercado para o som da América Latina

A construção da Via Veneto, em Santa Felicidade, tirou de Curitiba o seu monumento kitsch: o restaurante "Jatão", que durante dois anos foi uma verdadeira atração turística ao inverso, pela sua arquitetura de mau gosto. Ficará entretanto, na lembrança dos curitibanos mais velhos, e a professora Julieta Fialho dos Reis, incansável garimpeira de tudo que se relaciona ao kitsch entre nós, lamenta que aquela construção em forma de avião (com uma asa cortada, por imposição da Prefeitura, na época), não tenha sido melhor documentada. Se no "Jatão", os poucos que o viram conseguiram esquecer, de quem o idealizou e construiu a memória é fraca. E para que fique o registro, aqui está o seu nome: Elmo Waltrick, catarinense de Lages, 41 anos - que sempre gostou de se apresentar como "o garçom artista". O simpático Elmo, o garçom-artista, há 8 anos está longe de Curitiba. Embora aqui tenha se dado bem, conseguindo tornar-se dono de movimentados restaurantes dançantes em Santa Felicidade - como o "La Ronda" e o "Sete Belo", auferindo lucros suficientes para construir o "Jatão", acabou trocando o frio curitibano pelo calor de Foz do Iguaçu. Hoje, Elmo é o diretor artístico das churrascarias do Grupo Rafain, em Foz do Iguaçu, que com duas casas imensas (uma delas com dois mil lugares), e mais o Rafain Center, o maior centro gastronômico do Estado, além de um hotel quatro estrelas, tem peso na vida turística daquela região. Um aspecto importante em Foz do Iguaçu é o cada vez maior mercado para artistas populares nos restaurantes e hotéis locais. Só a churrascaria das Cataratas, do grupo Rafain, emprega nada menos que 45 artistas profissionais, que, carteira assinada, sobrevivem exclusivamente dos shows que ali fazem. São grupos de cantores e músicos bolivianos, argentinos, mexicanos, paraguaios e brasileiros - as vezes se intercambiando entre si - que apresentam-se durante os almoços e jantares agradando o público. Para aumentar o cachê, alguns dos conjuntos vendem diretamente, fitas cassetes com suas músicas, gravadas no estúdio que Elmo Waltrick montou no fundo de sua residência. Mesmo com pouca qualidade técnica de gravação, os conjuntos da casa têm sua fitas, a Cz$ 200,00 a unidade, para oferecer à clientela. E os turistas, sempre generosos, esgotam sucessivas edições, obrigando Elmo a fazer, noite afora, novas tiragens em sua aparelhagem doméstica. Por exemplo, três paraguaios que após oito anos de vivência no México - Feliciano de Assuncion, Reylando Garcia e Ramon Lara, retornaram com chapelões coloridos e o nome de "El Mariachis Paz Trio", estão entre os que mais agradam o público e vendem suas fitas, com aquelas canções repletas de gritos e solos de pistão, como "Malaguena" e "Guadalajara". Os irmãos Chaskis - com idade variando entre 24 e 40 anos - Adolfo, Apolinário, Francisco, Adriam, mais o Dyone Pacheco, 28 anos, e o paulista Floriano Salinas, 30 anos, tiveram que adotar novo nome artístico quando chegaram ao Brasil. Conta Francisco: - "Na Bolívia, tínhamos o nome de Raízes da América e chagamos a gravar discos. Quando chegamos em São Paulo, encontramos outro grupo que também se dedicava à música latino-americana que tinha registrado o mesmo nome. Como éramos estrangeiros e estávamos chegando, preferimos adotar nova razão artística". Assim, o Raízes da América boliviano se transformou em Inka Chaskis, que com seus instrumentos típicos, ponchos e muito entusiasmo, desfila um repertório no qual entre as composições próprias e os maiores sucesso latinos, não falta, é claro, "El Condor Passa" e "Carnavalito". De três discos que trouxeram, montaram uma fita que também está entre as mais vendidas no roteiro das churrascarias Rafain. Pó (Angelo Luís Ferreira), 33 anos, um gaúcho de Porto Alegre, que é bom de samba e residiu alguns anos em Curitiba - aqui fazendo o roteiro das churrascarias - também se fixou em Foz do Iguaçu. A frente dos companheiros Edi, Antenor, Júnior e Juquinha e de três mulatas que não estão no mapa, como diria Sargentelli - Dulce, Sérgia e Deborah - formou o "Brasil Samba Show", um dos pontos altos dos espetáculos que Elmo programa nas casas que dirige. Falando em Sargentelli, o grupo Rafain acaba de adquirir a concessão "Oba, Oba" para reaproveitamento do amplo espaço na churrascaria que se localiza no quilômetro 6,5 da Rodovia das Cataratas e ali montar uma casa de shows. Elmo explica: - "O know how virá do Rio de Janeiro e mesmo Sargentelli talvez apareça para prestigiar a inauguração, mas a casa é nossa, sem qualquer participação econômica do empresário carioca". Enquanto outra churrascaria de grande movimento - a "Cabeça de Boi", desativou a parte artística, ao menos temporariamente, nos hotéis de quatro e cinco estrelas é sempre possível encontrar artistas fazendo shows nos bares e restaurantes. Guilherme Raplanas, 54 anos, 30 de hotelaria, o comandante do Bourbon - e que a partir de maio volta a Curitiba para administrar o novo hotel do grupo (ex-Iguaçu), seleciona sempre conjuntos típicos e bons instrumentistas para a casa. No piano-bar do hotel, um pianista é acompanhado por um cantor de pretensões operísticas, capaz de dar dó-de-peito até em "As Times Goes By". E na hora do jantar, no Bourbon, alterna-se um clarinetista de pretensões jazzísticas com um conjunto de harpistas paraguaios, com o inevitável repertório de guarânias que repete, ad nausea, "Ipacaraí" e "Índia".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
5
15/01/1988

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