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Fundo Municipal do Cinema ainda está só no papel

O Fundo Municipal de cinema, uma iniciativa inédita em Curitiba, ainda não saiu do papel, embora tenha servido até de modelo para outras cidades do País. Criado através de uma lei municipal assinada em 13 de agosto de 1985, o FMC corre o risco de tornar-se mais uma daquelas iniciativas badaladas nacionalmente mas sem qualquer sentido por falta de regulamentação. A lembrança de que a iniciativa ainda não entrou em prática é do Conselho Nacional da Associação Brasileira de Documentaristas, que esteve reunido em Curitiba no final da semana passada. "Sua regulamentação - diz a moção de apoio do Conselho - é a aguardada expectativa pelos documentaristas brasileiros que com sua implantação, contarão com mais uma fonte regionalizada de recursos destinados à produção do filme cultural. Na mesma moção, mais duas referências ao Paraná: "Que a Secretaria da Cultura e do Esporte implante a Comissão Estadual de Cinema, mecanismo que democratizará os recursos destinados à produção cinematográfica regional" e "que o governo do Paraná abra o debate público e democrático a todos os segmentos organizados da sociedade paranaense interessados na instalação e funcionamento da TV Educativa do Paraná. Deste debate não poderá estar ausente a Seção Paraná da Associação Brasileira de Documentaristas, a exemplo do que ocorre em outros Estados". DOCUMENTO - A conclusão final dos debates da Associação Brasileira de Documentaristas resultou num documento - Carta de Curitiba - altamente reivindicativo, mas também de cunho político. Além de denunciar que centenas de filmes culturais não chegam ao público porque a obrigatoriedade de exibição do curta-metragem não vem sendo cumprida, a Carta de Curitiba manifesta-se pela ampla liberdade de expressão (em repúdio ao veto de "Je Vous Salue Marie") e exigiu a abolição da censura para toda a atividade cultural, particularmente a cinematográfica. Posicionou-se, tendo em vista a mobilização em torno da Constituinte, pela "necessidade da defesa, preservação e enriquecimento da identidade cultural do povo brasileiro". E não se esqueceu de repudiar a imunidade da violência no campo e solidarizar-se aos "trabalhadores rurais e a todos que corajosamente lutam contra a injusta distribuição de terra no Brasil". Para o Conselho Nacional da ABD, o afinal, "o avanço do processo de democratização amplia a função social dos meios de comunicação audiovisuais, notadamente o cinema". No entanto, observa que o filme cultural "só realizará plenamente sua vocação crítica e de instigação à reflexão quando regularizar seus canais de acesso à sociedade". CINECLUBES - O 1º Encontro de Cineclubes da Região Sul, realizado paralelamente, também aprovou uma série de moções de cunho político-social, não se esquecendo nem mesmo de aspectos ecológicos - como a construção de uma rodovia no Parque Nacional do Iguaçu - e internacionais, como os conflitos na África do Sul. As moções aprovadas pelos cineclubistas: "Pela extinção do Dentel. Liberdade para o funcionamento das rádios livres e sistemas UHF, legítimas manifestações populares. Por 60% do espaço na publicação de quadrinhos (desenhos, charges para a produção nacional). Apoio geral e irrestrito à luta dos sem-terras. Repúdio pela impunidade dos constantes assassinatos dos líderes sindicais camponeses. Repúdio ao asfaltamento da estrada do Colono no Parque Nacional do Iguaçu. Pelo ensino público e gratuito em todos os níveis. Pela preservação da Ilha do Mel. Contra o turismo predatório. Repúdio à censura do filme "Je Vous Salue Marie" e música "Merda". Estimular a exibição do filme como forma de desobediência civil. Repúdio à política racista do governo da África do Sul. Condenação das ditaduras militares do Chile e Paraguai. Solidariedade efetiva nas lutas de todos os povos oprimidos e explorados". LEGENDA FOTO 1 - Os realizadores reunidos em Curitiba, pela função social do cinema.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
2
08/06/1986

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