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Aramis

Ganhou o melhor, mas...

Mereceu, não resta a menor dúvida. Vigoroso, belo, sincero e, sobretudo, político, "O Último Imperador" era, em termos de consistência, o filme mais importante dos cinco principais candidatos ao Oscar. "O Império do Sol", de Steven Spielberg e "Esperança e Glória", do inglês John Boorman - ambos visões da II Guerra Mundial, pela ótica das crianças, são revisitações nostálgicas - no primeiro, do romancista J. C. Ballard (livro já lançado no Brasil pela Record); no segundo, as próprias memórias amarcodianas, de Boorman, da Londres massacrada pelas bombas V-8, de Von Braun, nos dias de sangue, suor e lágrimas em que a velha Ilha resistia a Hitler. Filmes enternecedores - especialmente pelas trilhas sonoras antológicas, de levar o público às lágrimas, e que não ficariam mal se fossem premiados. Ao contrário... Mas sem a dimensão maior de um painel histórico-social como fez o marxista Bernardo Bertolucci, 49 anos, no afresco de uma parte pouco conhecida da história da humanidade - a Oriental, neste último século "O Último Imperador" é um filme dentro dos enunciados de tese-antítese-síntese: o raciocínio marxista da história, a visão dos homens lutando (e dominados) pelo poder, se sucedendo a regimes - feudal, republicano, comunista, mas sempre na mesma azia que o mando dá aos homens e que me faz lembrar uma frase do filósofo da madrugada curitibana, o jornalista Fernando Alexandre: - O poder e o prazer nunca vão para a cama juntos... O poder torna as pessoas feias. Talvez se "Um Grito de Liberdade", o inglês Richard Attenborough - painel sobre a luta contra o appartheid, na África do Sul - tivesse chegado a ter maiores indicações, inclusive na categoria de filme e direção, o páreo estivesse equilibrado em termos políticos. Como ficou, a vitória de Bertolucci, foi fácil. "Feitiço da Lua", uma comédia que revisita, com cores e som dolby, a ternura daquela fase de teleplays de Paddy Chayfsky ("Marty", "Despedida de Solteiro", "A Festa de Casamento" da segunda metade dos anos 50, é um momento de ternura e emoção, tendo merecido os três Oscars - atrizes - Cher e Olympia Dukakis, e roteiro original (John Patrick Stanley). De "Atração Fatal", o filme-canalha do ano, se fez justiça: nenhuma premiação. Não merecia mesmo e só já ter obtido tantas indicações, provou a senilidade dos sexagenários membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Quem corujou, viu no vídeo toda a festa do Oscar - com mulheres elegantes e atores - envelhecidos ou não (este ano, foram poucos os casais de jovens artistas convocados), numa festa que poderia ter sido melhor. Quem não pôde acompanhar, terá além dos compactos reprisados nesta semana, os filmes - já em exibição ou ainda chegando - para aproveitar o maior comercial que existe no cinema, este sexagenário boneco dourado chamado Oscar.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
13/04/1988

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