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Aramis

Geléia Geral

Dentro de uma visão sem preconceitos da música popular, o bregue está a merecer cada vez mais atenção - não só de sociólogos e estudiosos do compotamento do público mas, em termos de marketing. Se assim não fosse, o gênero não cresceria tanto em termos de lançamentos. Afinal, sem ter divulgação na mídia impressa e confinado a prefixos declaradamente bregas, artistas que se dedicam a este gênero têm parcelas expressivas no mercado. E as gravadoras, atentas aos números, não desprezam estes populares capazes de garantirem grandes vendas. Uma etiqueta sofisticada como a Eldorado, ligada ao grupo "O Estado de São Paulo", criou um selo especial - o Paralelo - para abrigar bregas e rurbanos, como Jailton Martins, que cantando "Vou Voltar pra Bahia", "Chorei Porque Te Amo", "Homenagem ao Senhor do Bonfim", tem, seguramente um público muito fiel na Boa Terra. xxx A 3M, iniciando-se no mercado fonográfico, em associação com a RCA, também apresenta em seus dois primeiros suplementos um destaque grande dos bregas. Por exemplo, contratou Gilliard, que durante anos esteve como um dos maiores vendedores de discos na etiqueta RGE, ali criando sucessos como "Aquela Nuvem", "Não Diga Nada" e mais recentemente, "Pouco a Pouco". Também na linha de Gilliard - ou seja, com aparência de galã, surge Zezé Di Camargo, ex-componente de uma dupla rural do Centro-Oeste, goiano de Pirinópolis, que busca a faixa do bregue jovem e chic, trazendo canções românticas e até se dando ao luxo de revelar uma compositora, Fátima Leão, autora de sete das doze músicas incluídas no disco, Zezé garante que esta nova Fátima da MPB, "consegue dizer todas as coisas que eu gostaria de cantar, de passar adiante às pessoas". Outro brega no elenco da 3M é Magno, amigo de infância e parceiro de Gilliard, vindo de uma vivência na noite paulista - o que lhe obrigou a ter um repertório eclético - de Waldick Soriano aos Beatles. Em LP pela 3M ("Amor, Amor"), ao lado de composições próprias, procurou também incluir canções de autores mais interessantes, como "Canto de Carimbó", dos paranaenses Manoel Cordeiro, Nilson Chaves e Vital Lima - este numa participação especial. Na linha urbana, através do selo Terra Nova, a 3M, incluiu em seu primeiro suplemento a dupla Mococa e Paraíso, bastante conhecidos do público específico. Mococa, por exemplo, gravou durante 18 anos com o companheiro Moracy (falecido em agosto de 1984), tempo em que fizeram nada menos que 33 LPs. Criaram sucessos como "A noiva do meu bairro", "Pranto escondido", "O grande milagre" entre outros. Agora, formou uma dupla com Paraíso - que também já participou de diversas duplas, como Cristiano e Cristalino e Scoth e Smith, posteriormente chegou a formar uma dupla com Tião Carreiro, substituindo o seu parceiro Pardinho. Experiência, portanto não falta a estes dois intérpretes urbanos (Paraíso, por exemplo, é parceiro de José Fortuna em mais de 300 músicas e tem cerca de 700 letras inéditas). A dupla começa uma nova carreira com o LP "Os Homens não devem chorar", onde além da conhecidíssima faixa título, registraram um repertório com todos os ingredientes para conquistar o público mais simples. xxx Não são apenas etiquetas novas como a 3M ou que não dispõem de catálogos internacionais - como a Continental - que se voltam ao recompensador mercado brega. A poderosa EMI/ Odeon não dispensa intérpretes do gênero e dá especial atenção a um cantor chamado Reginaldo Rossi, que em 20 anos de carreira já gravou dezoito elepês - aos quais acrescenta-se agora "Com todo coração", seu oitavo disco desde que foi contratado pela Odeon. Neste LP, Reginaldo mantém o estilo que lhe deu popularidade junto a grandes faixas de público, incluindo versões como "Eu Acho que Vou Chorar" (de "There´s No More Corn On the Brasos") ou canções em que canta amor e desamor, tristezas e abandono, como "Sem me dizer adeus" (Majó/ Wagner), "Com outro rapaz" (de sua autoria), além da kitsch mas nostálgica "Eu não presto mas te amo" de Roberto Carlos. Bom pernambucano, Fernando Rossi incluiu até uma faixa chamada "Diário de Pernambuco", homenagem ao tradicional jornal de Recife, cidade em que nasceu há 41 anos. xxx Produzindo discos bregue em alguns de seus selos ou simplesmente distribuindo etiquetas que se dedicam ao gênero brega, a Polygram também fatura na área. Por exemplo, o próprio gerente comercial, Ely Oliveira recomendou especial tratamento ao novo disco de Carlos Augusto, que pelo selo Tropical, é candidato a receber um Disco de Ouro, tal a aceitação de sua música "Vai Cartinha", incluída em seu novo LP "Falando de Amor". Com muitas músicas próprias, Carlos Augusto também não dispensa uma versão para "A Steel Guitar and Glass Wine", antigo êxito de Paul Anka, encerrando um pot-pourri no qual entrou até "Coração de Papel" que Sérgio Mendes fez nos tempos em que buscava seu espaço na jovem guarda. Outro brega de sucesso que a Polygram distribui é Balthazar, cujo novo LP ("A Volta de Sarah"), teve produção da J.R. Discos, etiqueta de Salvador. A paixão de Balthazar não fica apenas em Sarah - a qual dedica um pot-pourri abrindo o lado B. No melhor ufanismo verde-amarelo, lembrando os tempos de Tom & Dito, dedica o disco ao presidente José Sarney. (sic) xxx Ao mesmo tempo que reforça seu elenco jovem com o ingresso de Lulu Santos, num elepê definido como "forte, incisivo, com toda a variedade de estilos própria do talento deste cantor e compositor", a RCA continua a investir em novos grupos. É o caso do Caprarole, testado no mercado com um mix com as faixas "Me Dá Um Pouco de Você" e "Girar". Para compensar incógnitas como estas, a RCA está lançando novos discos de Joanna, Alcione e, um que merece especial destaque: o de Carlinhos Vergueiro, compositor dos mais corretos e que há 12 anos vem buscando seu espaço num mercado difícil. Agora, Vergueiro traz parcerias com Chico, Sueli Costa, Vinicius Cantuária, Paulo Cesar Pinheiro e até Nonato Buzar, com arranjos de Hugo Fattoruso, Zeca Assumpção e Cristóvão Bastos. Um momento muito especial: "Minha Nega", parceria de Carlinhos com o grande Adoniran Barbosa e Paulinho Boca de Cantor. Maiores comentários, quando o disco pintar nas lojas. xxx Muita promoção em cima da estréia de Evandro Mesquita, ex-Blitz, em sua estréia na Polygram. O mix promocional traz a faixa "Greg e sua Gangue", parceria com Guto e Chacal. O jornalzinho "Central de Boatos", irreverente e numa linguagem jovem, que a Provence produz para a Polygram distribuir nas lojas, dedicou nada menos que duas edições para badalar a estréia de Evandro em LP. Trecho do depoimento do próprio a respeito deste seu lance: "O disco é uma mistura de tudo que vem me sensibilizando ultimamente. É múltiplo como a minha cabeça, que funciona a mil por hora" (sic). Vanguardeiro badalado - ex-Asdrubal Trouxe o Trombone, ex-Blitz, Evandro incluiu até uma música de raízes indígenas - "Tribo dos Tuamães", enquanto que em homenagem ao pagé Sapaim e sua tentativa de curar o cientista Augusto Ruschi, criou "Assim Falou Sapaim".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
26/10/1986

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