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Aramis

Geléia Geral

Inquieto, criativo, Evandro Mesquita foi o líder do grupo Blitz, que no início dos anos 80 decolou com força total. Vinha de outra proposta unindo a vanguarda ao deboche (Asdrubal Trouxe o Trombone) e com a fase do Blitz acabando, Evandro conseguiu fazer vôos solos. Foi considerado uma das imagens mais populares na comunicação com o público jovem (o que lhe valeu um supercomercial para a Pepsi-Cola, que lhe rendeu milhares de dólares), a gravação de um primeiro elepê que vendeu o suficiente para um segundo, "Planos Aéreos" (Polygram/Phylips) lançado agora mas que estava pronto há muitos meses. Evandro o define como um disco a procura de sons, mescla de ritmos. "Entrei organicamente na estória de mexer com os ritmos e buscar a personalidade no Caldeirão de sonoridades que é o Brasil". Assim é que a sanfona de Sivuca entra num momento certo e o "rap" e o samba convivem com a guitarra de rock em razoável harmonia. Neste vôo, Evandro traz parcerias com gente moça com Chacal, Celso Fonseca, Patrícia Travassos, Paulo Adan, Vinícius Cantuária, Frejat e Ronaldo Bastos, entre outros. xxx Se a sanfona de Sivuca convive com a juventude de Evandro, falemos de outro grande acordeonista: Dominguinhos (José Domingos de Moraes), pernambucano de Garanhuns, 47 anos completados no último dia 12 de fevereiro, cada vez melhor. Com a aposentadoria do velho Lua - doente, está afastado dos estúdios (a RCA lhe prepara uma homenagem, com seus maiores sucessos, numa caixa de 4 elepês, como já havia feito com Nelson Gonçalves), Dominguinhos é o legítimo sucessor do Rei do Baião. Só que sem desprezar as músicas de origem, Dominguinhos é um esplêndido compositor, afinado intérprete vocal, sem contar seu virtuosismo no acordeon. Assim é que nas 12 faixas de "É Isso aí! Simples como a Vida" (Continental), temos a fusão das origens com um material moderno, em parceria com sua companheira Guadalupe ("Roça Roça", "Me Pede um Carinho", "Forró em Timbaurba"), Anastasia ("Já vou Mãe") e novos parceiros - como Nando Cordel, outro nordestino de grande força ("Remelexo", "É Doce Feito Açúcar"). Excelentes músicos o acompanham - como Amilson Godoy nos teclados e Arismar do Espírito Santo no baixo, fazendo deste um disco de primeira categoria. Brasileiríssimo, capaz de atingir vários segmentos de seu público. xxx Identificado por anos como a "Acordeonista de Teixerinha", a gaúcha Mary Terezinha sem abandonar o instrumento vem procurando novos vôos. Tendo deixado o velho Teixerinha antes mesmo de sua morte, formou com seu novo amor, o astrólogo e aventureiro Ivan Trilha, uma parceria que resulta em muitas composições - como as cinco que estão em "Kilômetro 1" (Continental, março/88). Inteligentemente, Mary soube buscar também outros bons autores, como o missionário Horácio Guarano ("Se se Cala o Cantor"), o irônico Gildo de Freitas ("Carta pra Mamãe") e, especialmente, a maior expressão da música gaúcha, o esplêndido Telmo de Lima Freitas, que com ele divide a interpretação do belo "Rio Paraná". Telmo é, em nossa opinião, o grande compositor nativista gaúcho e só a sua participação nesta faixa já justifica uma boa vontade com Mary Terezinha. xxx Enquanto a gaúcha Mary Terezinha busca um repertório de melhor nível, procurando parcerias de respeito como a do pesquisador e poeta Antonio Augusto Fagundes (em "As Rosas do Sertão"), a nordestina Cremilda prefere as canções picarescas, com versos de duplo sentido. Sente-se isto nas 13 faixas de seu novo elepê ("Forró & Suor", Continental), descontraído, irônico, mas que esbarra nas limitações para um público pouco exigente. "Ladrão de Bode", "A Cantiga da Doida", "Pagodiá", "Futebol do Amor" podem divertir, mas não ultrapassam ao segmento específico a que se destinam. xxx Como Rubem Braga, Nara Leão, Carlinhos de Oliveira e Roberto Carlos, Gilberto Lemos nasceu em Cachoeiro do Itapemirim, a mais famosa cidade capixaba. E é um representante brega para fazer com que aquela localidade também seja conhecida do público mais humilde. Canta músicas assumidamente românticas e agrada, tanto é que "Liga Pra Mim", seu quinto lp (Polygram, março/88) saiu com uma grande vendagem (seus quatro discos anteriores já passaram do milhão de cópias vendidas). Cantor desde os 12 anos, Lemos integra aquela faixa de artistas que transam um romantismo brega, capaz de dar um bom retorno em vendas. Seis das 12 faixas deste disco são de sua autoria. xxx Já que hoje abrimos espaço para falar deste intérpretes tão populares quanto marginalizados na chamada grande imprensa, registre-se mais: Ozdeias de Paula. Aos 36 anos, 17 de carreira, já vendeu mais de um milhão de cópias num gênero que prefere não rotular: "Quando se fala em música religiosa, a maioria das pessoas pensa imediatamente em música chata. O que eu faço, no entanto é uma música popular cuja roupagem é dada pelos valores fundamentais do ser humano". Um dado para provar sua popularidade: 25 elepês gravados, um dos quais já editado nos Estados Unidos - país em que tem feito shows. xxx O primeiro disco de Via Negromonte, uma mineira que saiu do Brasil aos 17 anos e foi viver em Nova Iorque, passou meio despercebido. Agora, a CBS lança seu novo disco ("Noites Sem Dormir"), no qual esta sensual cantora-instrumentista, além de compositora, passeia por vários gêneros e vai do rock ao funk com embalo. Via já estudou dança com Alvin Ailey, sapateado com Iris Hiskey e esteve até numa das montagens de "West Side Story" na Broadway. Fez vídeo-clips com David Bowie e Grace Jones e chegou a pintar em produções de Coppola, Nile Rogers e Peter Goodwin. Em seu elepê, exibe parcerias com Cláudio Rabello e o nordestino Fausto Nilo, mas a surpresa maior é a gravação de "desejo", do ex-beatle George Harrison, que aparece como uma parceria (versão?) com Arnaldo Niskier.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
18
10/04/1988

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