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Gilda Poli escuta muito para ajudar cinema no PR

Brasília - Pela primeira vez na história dos festivais de cinema no Brasil, uma executiva de primeiro escalão do governo do Paraná compareceu para acompanhar debates, sentir o clima de um evento competitivo e, humildemente "ouvir para aprender", como fez durante três dias, a secretária Gilda Poli, da Cultura. [Convidada] pela diretora executiva da Fundação Cultural do distrito federal, Maria Luiza Dornas, para participar do painel "Pólos Regionais", na tarde de domingo, a secretária da Cultura antecipou sua vinda para a sexta-feira, acompanhando assim o simpósio "Cinema Brasileiro, Urgente" que, durante três dias, reuniu autoridades federais, representantes de órgão estaduais, produtores, distribuidores e cineastas discutindo, em termos objetivos, a situação da indústria audiovisual no Brasil. Coordenado pelo produtor mineiro Tarcísio Vidigal, 37 anos, que realizou (com direção de Helvécio Ratton) "A Dança dos Bonecos", tem em pré-produção "O Menino Maluquinho" (baseado em Ziraldo) e aqui já trouxe os dois primeiros pilotos de sua produção para TV "Radical Chic", inspirado nos cartuns de Miguel Paiva, o simpósio teve um clima de otimismo - apesar de, concretamente, não saírem promessas definitivas. O secretário Sergio Rouanet, da Cultura, mostrou toda sua mineirice de embaixador: enviou dezenas de pessoas ligadas à comunidade cinematográfica - desde tycoons da produção como Luís Carlos Barreto até jovens curta-metragistas - como Fernando Morini e Jussara Locatelli (de "A Loira Fantasma") que participaram ativamente de várias reuniões aqui realizadas até segunda-feira última. No painel "O Cinema e o Estado", na quinta-feira, Rouanet mostrou sensibilidade para com os problemas do cinema (e vídeo) no Brasil, como colocações equilibradas - embora, obviamente, não tenha se comprometido com promessas financeiras que independem de sua vontade. Comparado ao clima do ano passado - quando Ipojuca Pontes, seu antecessor, siquer compareceu ao Festival e o então liquidante da Embrafilme, Adnor Pitanga, limitou-se a ter uma tímida circulada no bar da piscina do Kubitschek Plaza, o comportamento do secretário da Cultura foi mais uma demonstração da política soft do governo Collor - tentando uma reabertura de diálogo com a inteligência brasileira. Cineastas mais escolados produtores sofridos com mil dificuldades que fizeram dezenas de filmes ficarem interrompidos nos últimos meses, mostram-se cautelosos - sabendo que mais do que palavras e projetos, são necessárias atitudes concretas para recuperar o tempo perdido e retomar uma produção que, no ano passado, chegou a mais de 120 filmes por ano - e que nos dois últimos dois anos, caiu para menos de dez filmes concluídos (alguns deles iniciados há 5 ou 4 anos, como "Vai Trabalhar, Vagabundo II: a volta", de Hugo Carvana; "O Corpo", de José Antonio Garcia" e "Matou a Família e foi ao Cinema", de Neville D'Almeida). Em São Paulo, no ano passado, o único longa-metragem rodado foi "Sua Excelência, o Candidato", de Ricardo Pinto e Silva que abriu o festival no dia 3. Este ano, em São Paulo, apenas dois filmes foram rodados (mas que agora estão a espera de recursos para finalização): "Perfume de Gardênia", de Guilherme de Almeida Prado e "A Causa Secreta", de Sérgio Bianchi, paranaense de Ponta Grossa - e que, com razão, está tentando conseguir recursos junto a órgãos oficiais do Paraná - que, tão generosamente, financiaram em 1989/90, "Rádio Auriverde", o polêmico (e ofensivo) filme que busca denegrir a Força Expedicionária Brasileira - aqui exibido com alguma polêmica e, sobretudo repulsa de grande parte da crítica e do público - além de protestos vigorosos de militares - especialmente dos veteranos expedicionários. Sempre ao lado de sua fidelíssima chefe-de-gabinete, professora Elvira Ferreira de Sá, a secretária Gilda Poli ouviu muito e fez apenas duas intervenções no painel sobre a criação de Pólos Cinematográficos. Uma delas, ao questionar a ameaça de um corporativismo e regionalismo - que pode ameaçar tais projetos - deu a nota para que reacendesse a tradicional rivalidade entre realizadores cariocas e paulistas, com acelerados debates - especialmente entre o carioca Neville D'Almeida (diretor da refilmagem de "Matou a família...") e o paulista Chico Botelho (que já rodou um filme com seqüências em Piraquara, "Janete"). Felizmente, o bom senso de João Batista de Andrade evitou que as discussões ficassem mais aceleradas. Curiosamente, Francisco Nogueira - embora tendo vindo a Brasília, em nome da Fundação Cultural de Curitiba - sem convite oficial - não teve qualquer participação, sequer como ouvinte, nas reuniões mais importantes. Preferiu usar a mordomia concedida para tratar particularmente junto a embaixada de uma bolsa de estudos que está reinvindicando para o Exterior. Durante os 14 anos que dirigiu a Cinemateca do Museu Guido Viaro, o sempre lembrado e estimado Francisco Alves dos santos, sempre era convidado dos festivais, e nunca teve [qualquer] auxílio oficial em suas despesas. E sua presença ser produtiva, tanto é que a denúncia aqui feita da violência por ele sofrida em abril último, ao ser afastado na Cinemateca , teve a maior repercussão - com nomes de expressão cinematográfica lamentando que Curitiba não tenha mais um defensor do cinema nacional á frente de um órgão mantido com recursos públicos - como é a Fucucu. Retornando segunda-feira ao Paraná, com escala em Londrina, para abertura do Festival de Música, a secretária Gilda Poli, levou dezenas de anotações para formular, a curto prazo, um programa mínimo que discipline a atuação do governo do Estado na área audiovisual. "Aprendi muito em Brasília, ouvi bastante e quero levar ao governador Roberto Requião uma proposta em que o cinema e o vídeo do Paraná tenham um tratamento especial, sem protecionismo e que dê a todos os realizadores de talento idênticas oportunidades" garantiu a secretária da cultura aqui em Brasília. Apresentada por este repórter à jornalista Mary Ventura, uma das coordenadoras do festival e responsável pela belíssima produção da abertura, com a exibição de "Limite", 1931, de Mário Peixoto, acompanhada pela Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional, surgiu a possibilidade desta projeção acontecer, entre agosto/setembro, no auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, com a Orquestra Sinfônica do Paraná sob a regência de Silvio Barbate, que fez as transmissões das peças originalmente selecionadas por Bruno Pedreira para a ilustração sonora do [revolucionário] filme-mito, que pouquíssimos conhecem, e que agora, em cópia restaurada, 35 mm, com a trilha sonora ao vivo - alcança a mesma dimensão das recentes experiências feitas com dois outros clássicos do cinema mudo: "Napoleão", de Abel Gance e "Intolerância", de D.W. Griffith.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
10/07/1991

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