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Aramis

Gonzaguinha, indignação sem perder o romantismo

"É a gente que viver pleno direito A gente quer viver todo respeito A gente quer viver uma nação A gente quer é ser um cidadão" Gonzaguinha dá a volta por cima. O indignado substituiu ao guerrilheiro das canções daqueles anos duros mas sem perder a ternura e o romantismo, como ensinava o Chê. O resultado é "Corações Marginais" (Produção Moleque/WEA). seguramente um dos melhores discos deste (fraco até agora) musical 1988. Gonzaguinha está explêndido em todas as faixas, começando pelo seu afro mergulho ("Tanacara") e deixando, ao final, uma luz no fundo do túnel ("Primavera: começo da vida"). Bastariam duas faixas para consagrar este elepê: "Os Meninos do Brasil", com uma belíssima parte instrumental introduzindo a uma letra pungente, fazendo-o "primo" de "Meu Guri" e "Pivete" (ambas de Chico Buarque), como cantos sobre a infância, tão injustamente abandonada. "É" - na simplicidade desta letra-palavra (que há 16 anos foi tema para uma das melhores peças de Millôr Fernandes), Gonzaguinha esbraveja sobre os (des)caminhos deste país, dando seu grito de alerta: "É a gente não tem cara de panaca/ A gente não tem jeito de babaca/ A gente não está com a bunda exposta na janela/ pra passar a mão nela". Com os músicos que há anos o acompanham - Pascoal Meireles (bateria), Jota Moraes (arranjos, teclados, flauta), Jamil Pontes (sax alto, flauta), Mingo (percussão) - mais Jaime Alem (guitarra, viola, violão) e Rose (voz em "É"), Gonzaguinha nas nove faixas de "Corações Marginais" retorna a sua fase mais forte de criação, com canções em que a emoção e a razão se equilibram - num menestrel que jamais negou fogo e, aos 43 anos - a serem completados no próximo dia 22 de setembro - atinge um grande ponto em sua carreira. Cantando claro, sem perder aquele estilo todo seu - e com as canções perfeitas a esse momento - "Mágica", "Corações Marginais", "Tudo", "Rái", "Qualquer Situação de Amor" e "Acalma", afora as já citadas - nos traz um lançamento maior, para ser ouvido inúmeras vezes por todos que amam a música de melhor (e mais consciente) qualidade que se faz neste nosso país. Um disco com a cara do Brasil, na poesia de Gonzaguinha ao dizer: "O coração da cidade não abre nunca aos domingos/ Crianças, mulheres e homens, brincando, sorrindo, se amando na festa da marginalidade".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
12
04/09/1988

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