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Aramis

Graças a Farkas, a visão do Nordeste

Graças à colaboração de entidades e instalações diversas e mesmo produtores nacionais, a Sala Arnaldo Fontana do Museu Guido Viaro, tem, eventualmente, realizado algumas exibições de filmes importantes. Francisco Alves dos Santos, a quem se deve a continuidade na programação naquele espaço, conseguiu sensibilizar o produtor Thomaz Farkas a ceder os documentários que vem produzindo desde os anos 60, para projeção a partir de amanhã. Proprietário da Fotóptica - uma das maiores empresas na área de som & imagem em São Paulo, Farkas financiou a realização de alguns curta-metragens, que, entretanto, tiveram pouca circulação fora do eixo Rio-São Paulo. Constituem-se, entretanto em documentos importantes da realidade Nordestina, já que diferentes cineastas - a maioria quando realizou estes filmes estava em início de carreira - procuraram visões bastante pessoais, de aspectos com os quais se identificaram. Franciscano Alves dos Santos opina que << toda a cultura nordestina praticamente está registrada pela filmografia de Farkas, sem contar aqueles que registram temas sulinos e brasileiros, de um modo geral >>. Farkas não só deu condições a produção de muitos documentários, como também se arriscou a dirigir alguns, como << Paraíso Juarez >> e << Todo Mundo >>, este focalizando as torcidas futebolísticas no Brasil, e que encerrará o ciclo, no dia 25, com a presença do próprio realizador. *** Particularmente sempre defendemos o documentário como uma das mais válidas fórmulas de investimento cultural. E por isso é das mais louváveis a preocupação em prestigiar os realizadores honestos. E talentosos e que se disponham a focalizar aspectos de nosso Estado. *** O que começa a ser feito, por exemplo com os documentários de Araken Távora, focalizando o artista plástico Poty Lazarotto, na série << O Mundo mágico de... >> e Paranaguá, na série de cidades históricas. Outros projetos estão em andamento, inclusive alguns desenvolvidos com jovens cineastas que vêm se agrupando junto ao Museu da Imagem e do Som, hoje a unidade da Secretária da Cultura e do Esporte, que graças ao trabalho de seu diretor, Cesar Fonseca, tem mais fortalecido a área do cinema no Paraná. *** Voltemos ao ciclo de documentário de Thomas Farkas, intitulado por Chico Santos de << realidade e cultura nordestino >>. O primeiro programa inclui os curtas << O Rastejador >>, de Sérgio Muniz, << A Morte das Velas do Recôncavo >>, de Guido Araújo e << O Homem de Couro >>, de Paulo Gil Soares, programados para amanhã, sob a temática << o homem e o meio >>. Na terça-feira (O Mito), três dos mais atraentes programas: << Memórias do Cangaço >>, de Paulo Gil Soares; << Vitalino/Lampeão >>, e << Padre Cícero >>, de Geraldo Sarno. Ex-assistente de Glauber Rocha, Gil realizou ao menos um longa-metragem, importante (<< Proezas de Satanás na Vila de Leva e Traz >>, (1968), onde abordava um tema em que é especialista: a demonologia na cultura popular nordestina. Quando realizou << Memória do Cangaço >>, em 1965, Paulo Gil (hoje integrante da equipe do << Globo Repórter >>) tinha 30 anos e buscou mostrar as origens do cangaço, especialmente no período 1935-39. Entrevista alguns sobreviventes da luta, policial e cangaceiros e apresentações o coronel José Rufino, da Polícia Militar Baiana, resnponsável pela perseguição a morte de mais de 30 cangaceiros. À medida que o velho militar narra sua história, são mostradas seqüências autênticas de filmes realizados em 1936, por um mascate árabe que conseguiu se introduzir entre o famosos bando de Lampião (Antônio Virgulino). Contando seus combates mais perigosos, o coronel Rufino apresenta também três cangaceiros que contam suas histórias e apresenta ainda 3 perseguidores, entre os quais Leonício Pereira, que cortava as cabeças dos cangaceiros << para que fossem tiradas fotografias >>. *** A mostra prosseguirá com programas abordando migração (<< Viramundo >>, de Sarno); sócio-econômico (<< Viva Cariri >> e << O Engenho >>, de Sarno; << Erva Bruxa >> e << Jaramantaia >>, de Paulo Gil); arte popular (<< A Vaqueira >>; << A Mão do Homem >>, de Paulo Gil; << Jornal do Sertão >>; << A cantora >> e << Os Imaginários >>, de Sarno; << Oeste >>, de Sérgio Muniz e << Paraíso Juarez >>, de Thomas Farkas); misticismo e religião (<< Visão de Juazeiro>., de Eduardo Escorel e << Frei Damião, Martelo dos Hereges >>, de Paulo Gil). Alguns destes documentários já foram projetados há 8 anos passados, no Teatro do Paiol - quando ainda investia a hoje onerosa Fundação Cultural - mas naquela unidade já se promovia atividades culturais. Com tanto - ou mais - público do que aparece agora na sala Arnaldo Fontana.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
18/05/1980

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