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Aramis

"Gráfica" vai a Portugal para ganhar mais espaço

Sem dúvida que Zeno José Otto e Nilson Mueller, dois jovens publicitários que no início dos anos 60 instalaram um pioneiro estúdio de arte publicitária no 6º andar do Edifício Barão do Rio Branco - o Grifo - mostraram olho clínico quando se entusiasmaram com os primeiros trabalhos apresentados por um jovem vindo de Paranaguá, magro e tímido, que desejava trabalhar com a arte do desenho. Em pouco tempo, o garoto provava imenso talento criativo aliado a uma competência técnica que deixou Zeno e Nilson, mais velhos e experientes, de queixos caídos. Mais de duas décadas se passaram desde então e o garoto cresceu. Passou por várias agências e, nos últimos anos, como free-lancer atendendo agênicas e clientes não só do Brasil, mas mesmo do exterior. Resistindo a convites (aparentemente) irresistíveis, de algumas das maiores agências do país - interessadas em contar, com exclusividade, com seu talento, prefere ficar em Curitiba, trabalhando em sua mansão-estúdio, em horários anti-convencionais - de madrugada, preferencialmente, após assistir dois ou até três filmes em vídeo (apaixonado por cinema, nem por isto deixa sua casa e raramente é visto em qualquer compromisso social). Aos sábados, entretanto, com a esposa, Agnalda Trinkel, coreógrafa e professora de balé, anonimamente volteia nos restaurantes dançantes de Santa Felicidade. Como um casal de namorados. xxx Osvaldo Miranda Jr. ou simplesmente Miram - em termos profissionais, Mirandinha para os mais íntimos, atinge hoje, antes dos 40 anos, uma posição especial na criação e artes gráficas do Brasil - não só pelas centenas de premiações (muitas internacionais) que tem conquistado, em trabalhos dos mais diversos, mas também como editor de revista que hoje começa a constar da pauta de exportação: Gráfica já chegou a Portugal - com lançamento de uma edição especial durante a VI Bienal Internacional de Arte (cidade de Vila Nova de Cerveira, fronteira com a Espanha, a partir do dia 30), o que abre as portas do mercado europeu - e começa a interessar até distribuidores do Japão, com uma possível edição internacional - já que desde o número um, previdentemente, Miran, cuidou de incluir sempre os textos em português e inglês. Um artista de sua voltagem criativa não poderia burocratizar-se com administração e finanças e, assim, após perder dinheiro numa fase inicial que se estendeu por mais de dois anos, agora Miran passou a ter três amigos para estruturar a publicação - com imensas possibilidades de retorno, não só através de assinaturas (em todo o mundo), mas também de anúncios especiais. Orestes Woestchoff, 39 anos, deixou uma bem remunerada função na JJ Comunicação, para se dedicar integralmente a parte comercial da Gráfica, fundando com Carlos Ferreira da Costa, a Casa de Idéias, que passou a possibilitar maior tranqülidade para Miran concentrar-se apenas na criação e edição da revista, sem se aborrecer com problemas financeiros. Isto porque, há dois anos, para poder bancar a sua edição chegou até a vender seu automóvel e, contra sua vontade, atrasar algumas edições. Acreditando nas possibilidades do mercado internacional, a partir de um ponto de apoio na Europa, outro publicitário, Evaldo Schleder Dilho se transferiu para Lisboa há alguns meses e o primeiro resultado é a produção de uma edição dupla, 150 páginas, 5 mil exemplares (normalmente a tiragem era de mil exemplares), com trabalhos gráficos de artistas portugueses - a partir da capa de João Machado, o mesmo designer que criou a programação visual da VI Bienal Internacional de Arte da Vila Nova de Cerveira. xxx A imprensa nacional começa a abrir um merecido espaço para a importância da Gráfica, que na opinião de Jaguar "é muito melhor do que a Graphis" (conceituadíssima editada na Suíça) , "porque o Miran é mais exigente em qualidade, enquanto a Graphis está se tornando uma picaretagem sofisticada", diz ainda Jaguar. Outra citação que não pode faltar ao trabalho de Miran, é o mestre americano Herb Lubalin, em 1981, pouco antes de morrer: "para mim, o especial talento de Miran é a sua cabeça inventiva, sua disposição de aventuar e sua magistral habilidade gráfica. Mas é particularmente raro encontrar alguém que possa deslumbrar com o desenho, sem ofuscar o significado". Miran continua em sua simplicidade e timidez, evitando sair de sua casa (até a semana passada não tinha decidido sua viagem a Portugal). Em janeiro, conforme contou ao jornalista Luiz Cláudio Oliveira, de O Estado de S. Paulo (que no "Caderno 2", tem aberto grandes espaços para divulgar o seu trabalho), Miran não foi a exposição de artistas brasileiros, organizada pela Art Directeur Clube, em Nova Iorque, e publicada pela revista Print, em um número especial - e na qual ele foi o artista com o maior número de trabalhos expostos. xxx A partir do número 19, a Gráfica passou a ser produzida industrialmente pelos Gráficos Burti, de São Paulo, por razões exclusivamente operacionais. Miran defende a qualidade das indústrias gráficas de Curitiba - tradição, aliás, desde o início do século e explicada pela presença de mestres vindos da Alemanha que formaram gerações de excelentes profissionais. O número 19 de Gráfica traz capa e dedica as 12 primeiras páginas a Sandra Filippucci, artista americana que fez ilustrações computadorizadas para Datamation, Post-Gravate, Medicine Magazine, Byte, etc., combinando elementos de colagem em computador nos seus pastéis para clientes como Monsarito, IBM, McGrow-Hill, Newday Magazine e outros dos maiores grupos americanos. Em sua preocupação de mostrar em textos objetivos e grandes ilustrações a cores, trabalhos dos mais representativos artistas gráficos, ligados a publicidade e comunicação, Miran sempre equilibra material vindo do exterior com brasileiros. No número 19 há, por exemplo, um caderno de 15 páginas dos caricaturistas Lula (Luiz Fernando Palomanos Martinho), 24 anos e Paulo Cavalcanti, 25 anos; o canadense Mark Summers, 33 anos, com suas criações em preto e branco, ocupa 13 outras páginas, enquanto Francesc Petit, nascido em Barcelona, mas brasileiro por adoção, diretor de uma das 5 maiores agências do país - a DPZ - lhe cedeu trabalhos em branco e preto da mostra "Primavera em Catalunya" e originais de "Guia de Barcelona". Finalmente, uma secção reúne trabalhos de vários artistas brasileiros, mais jovens, como Marcos Horta, Maurício Mortton, Geraldo Leão, Alfredo Gomes França, Roselis Arbigaus, Sérgio Liuzzi, entre outros. LEGENDA FOTO - A capa criada pela americana Sandra Filippucci para o número 19 de "Gráfica", hoje uma revista de conceito internacional.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
22/07/1988

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