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Aramis

A grande voz de Jamelão

Será que Jamelão só terá o reconhecimento merecido após a sua morte? Afinal, é incrível que este cantor personalíssimo, uma das mais marcantes vozes, aos 64 anos, não tenha o reconhecimento que merece! Identificado como o maior intérprete de Lupicínio Rodrigues (1914-1974), Jamelão (no registro civil, José Bispo Clementino dos Santos) tem uma carreira extensa, centenas de gravações, longa passagem como crooner daquela que é a mais brasileira de nossas orquestras - a Tabajara. Entretanto, nos últimos anos, poucos tem-se lembrado deste grande intérprete, o que fez com que o disco "Recantando Mágoas/A Dor e Eu" (Continental, outubro/87), adquira um especial significado. Mais uma vez, Jamelão revisita o repertório de seu amigo Lupicínio Rodrigues, de quem gravou os maiores sucessos. Alguns são sambas conhecidos de todos, outros menos populares, mas todos ganham uma dimensão especial na sua voz. Produção esmerada de Marcus Pitter, a voz de Jamelão vem emoldurada por alguns dos grandes instrumentistas que com ele se identificam há anos, quase uma amostragem completa da grande Tabajara (também merecedora de um novo disco): Jaime Araújo, Salomão, Vavá, Luiz e Geraldo Medeiros nos saxes; lnedyr, Sobrinho, Maurílio e Wagner nos pistons; Manuel Araújo, Guilherme, Tião e José Rodrigues nos Trombones - enfeitando, assim, as interpretações que Jamelão dá a "Maria Rosa", "Eu e Meu Coração", "Castigo", "Esses Moços", "Cadeira vazia", "Pra São João Decidir", "Volta'', "Ex-Filha de Maria", "Rosário de Esperança" e "Nunca" - todas do grande boêmio que foi Lupe. Enquanto Jamelão lembra Lupicínio, o MPB-4 presta sua homenagem aos 50 anos da morte de Noel Rosa, com "Feitiço Carioca" (Continental), gravado há meses mas só agora nas lojas. Do MPB-4 não é preciso falar muito: melhor grupo vocal do Brasil, resiste há 24 anos às intempéries da MPB, com um trabalho cada vez mais sólido. E de um show que só Curitiba não assistirá (devido a falta de datas no Guaíra), nasceu o repertório desta bela homenagem ao Poeta da Vila - com seus sambas mais famosos e um menos conhecido ("Quem Dá Mais"), que não poderia ser mais atual. De quebra, a capa e contracapa tem caricaturas de Nássara. Precisa acrescentar algo mais? Um disco indispensável a que ama a MPB.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
6
15/11/1987

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