Ao se pensar numa série de projetos e/ou programas, em andamento ou em intenção, em relação à região de Itaipu - e mais especificamente em relação aos 8 municípios lindeiros ao lago - a equipe de consultores contratada pelo Instituto Iguaçu de Pesquisa e Preservação Ambiental, analisou, cuidadosamente, as intervenções que estão ocorrendo - ou a ocorrer até o final do milênio - numa imensa área. Entre estas intervenções destacam-se a chamada Ferroeste - Ferrovia da Produção; a Usina Hidrelétrica de Ilha Grande, as hidrovias Paraná-Tietê e Foz do Iguaçu-Buenos Aires, além do conjunto de pontes em Guaíra. Outros aspectos também foram considerados: o Portal do Iguaçu, a exploração do comércio livre bilateral e o Centro Náutico de Guaíra. A projetada extensão da linha ferroviária (hoje parando em Guarapuava) até Guaíra e, numa segunda etapa, se bifurcando na direção paraguaia (via Salto Del Guaírá e chegando a Assunção) e outro ramal indo para Mato Grosso do Sul, passando por Dourados e Miranda até chegar a Corumbá (de onde passará a Bolívia e chegando à cidade de Santa Cruz de La Sierra) já é bastante conhecida. A Usina de Ilha Grande, dentro do chamado "Plano 2010" da Eletrosul - Eletrobrás, para ter seu reservatório fechado dentro de 7 anos, gerando uma potência de 14.000 MW, inundará 3.270 km2 (sendo 734 km2 no Paraná) provocando o surgimento de um novo lago. Mais distantes, ainda, estão os projetos que prevêem os aproveitamentos do Rio Paraná em hidrovias (Paraná-Tietê/Foz do Iguaçu-Buenos Aires), que com construções imensas - como a eclusa na Usina de Itaipu - se voltarão para o início do próximo milênio. xxx Em compensação, a curto e médio prazos, outros projetos adquirem contornos de realidade. A implantação pela Itaipu do Centro Náutico e Recreativo de Guaíra é uma das bases para desenvolver o turismo na região. Situado às margens do lago e na malha urbana de Guaíra (que já dispõe de razoável infra-estrutura hoteleira), este centro náutico, com conclusão, em primeira etapa, previsto ainda para 1990, compõe-se de três setores: a Marina propriamente dita, um setor sócio-cultural-esportivo e a área de camping, ocupando um terreno de 300 mil metros quadrados. E, (atenção iniciativa privada) a infra-estrutura que ali será instalada permitirá além da realização de eventos náuticos, uma série de promoções culturais, exposições, seminários, feiras e a já tradicional Festa das Nações, que une as sete etnias que colonizaram o município. xxx O conjunto das intervenções acima citadas, se realmente forem concretizadas, produzirão impactos não somente na área específica dos municípios lindeiros ao lago, mas com um raio de abrangência muito maior. Em termos demográficos, mesmo que se desenvolva uma política agrícola de diversificação (ocasionando a retenção de parte da população da área rural) haverá uma taxa de urbanização da população na ordem de 80% - o que fará as cidades da região crescerem bastante. Guaíra, por sua própria posição geográfica, será a primeira a receber impactos significativos. xxx O complexo da usina hidrelétrica da Ilha Grande, a ponte ligando Mato Grosso do Sul (obra inclusive iniciada e há muito reivindicada pela comunidade local) e a Ferroeste, produzirão mudanças na estrutura (principalmente na área urbana) de Guaíra. Uma projeção fácil de ser feita: o surgimento de um polo prestador de serviços de comércio pesados, visto que não há no Estado de Mato Grosso do Sul, próximo à fronteira, uma cidade com o mesmo potencial que Guaíra, para absorver essa demanda. Como conseqüência desses eventos, abre-se também um potencial para o incremento da agroindústria, notadamente no futuro eixo da Ferroeste entre Guaíra e Cascavel. As cidades próximas a este eixo (cujo traçado definitivo ainda não se conhece), terão suas potencialidades aumentadas, como por exemplo, Marechal Cândido Rondon e Toledo.

Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:

Veiculo: Estado do Paraná

Caderno ou Suplemento: Almanaque

Coluna ou Seção: Tablóide

Página: 3

Data: 03/02/1990