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Aramis

A guerra de Malaparte em

Jornalista e escritor, Curzio Malaparte (Curzio Suckers, Partu, 1898 - Roma, 1957) foi um intelectual angustiado e inquieto. Combatia a civilização requintada das cidades defendendo a volta à vida primitiva e simples do campo mas envolveu-se em questões políticas e chegou, em certa época, a admitir o fascismo. Militar, viu os horrores da Segunda Guerra Mundial e, com extrema simplicidade, produziu dois clássicos - "Kapput" (1944) e "La Pelle" (1949). Em 1956, quando já dividia seu interesse também pelo cinema (em 1950 realizou "Cristo Proibido" e ao morrer trabalhava no projeto de "I Compagno P"), Curzio publicou "Malditos Toscanos" (Maladetti Toscani). "Kapput" e "A Pele" viriam a ser filmados nos anos 70 - o segundo por Lina Cavava, com grande profundidade. E a obra de Malparte, embora reduzida, continua a entusiasmar os leitores. Ennio Silveira, que nos anos 60 já havia lançado "Kapput" na respeitada Biblioteca do Leitor Moderno, reeditou agora este romance que conseguiu, como poucos outros livros escritos sobre a Segunda Guerra Mundial, trazer um impacto emocional tão grande - em relatos que reunidos em forma de romance foram um multifacetado painel, tão pungente como a "Guernica" de Picasso. Igualmente comovente é "A Pele", um livro escrito com ódio e paixão, com fogo e fúria, com sarcasmo e lirismo. Assim ele irrita e comove, ofende e inspira, carregando o leitor de uma página a outra. Dois ótimos lançamentos da Civilização Brasileira. xxx A premiação de "A Hora da Estrela" no festival de cinema de Berlim faz com que muitos se voltem à obra de Clarice Lispector, cujo romance motivou o belo filme de um cineasta estreante em longa-metragem - que pretende agora levar à tela outro clássico desta difícil mas importante escritora: "Perto do Coração Selvagem". Difícil ao leitor desacostumado a propostas mais profundas, a literatura de Clarice é, entretanto rica e fascinante. E para melhor compreendê-la é oportuno o conhecimento de "A Barata e a Crisálida", de Solange Ribeiro de Oliveira (Editora José Olympio, 114 páginas, Cz$ 33,00). Professora universitária dedicada à literatura, Solange faz um estudo da obra de Clarice Lispector, baseando-se numa experiência de leitura de "A Paixão Segundo G. H.", quinto e decisivo romance da escritora, ao mesmo tempo em que busca estabelecer relação com seus outros livros. O romance, cuja primeira edição data de 1964, representa um momento de transição que, por um lado explicita os temas dos anteriores, ao mesmo tempo em que anuncia, formalmente, uma reorientação no romance de Clarice Lispector. xxx Com "Novos Contos Romanos", escritos entre 1954/59, a Difel possibilita aos leitores brasileiros conhecer mais um pouco da obra de Alberto Moravia, de quem há pouco havia editado "Contos Romanos". Trata-se da crônica da Roma moderna, com sua galeria de personagens extremamente humanas, algumas das quais poderiam ser encontradas nas esquinas da Rua São João em São Paulo ou outras grandes cidades. Aos 79 anos, Moravia é nome dos mais respeitados na inteligência italiana: jornalista em sua juventude, desde a Segunda Guerra Mundial engajou-se em movimentos políticos. Em 1929, no apogeu do regime fascista, publicou seu primeiro (e crítico) romance "Os Indiferentes" - que como quase todos os seus demais livros foi transformado em filme (além dele próprio, como roteirista, ter sido um dos grandes responsáveis pela força do neo-realismo). Posteriormente publicou "As Ambições Frustradas" (1935), "A Confusão" (1937) e "A Romana" (1947), todos numa linha neo-realista e, por vezes, neo-naturalista como "O Conformista" (1952) e "O Tédio" (1960). Além de "A Coisa e Outros Contos" e "Contos Romanos", já editados no Brasil, em breve a Difel lançará "Racconti Surrealisti e Satirici" e "L'uomo che guarda". A Editora Guanabara continua a fazer lançamentos importantes. Agora publicou "A Morte Vem Buscar o Arcebispo", de Willa Cather (1873-1947), escritora que se destacou na literatura norte-americana como uma sóbria narradora. Seus textos, a partir de "A Ponte de Alexandre" têm uma feição fundamentalmente pictórica. Como definiu Cesar Tozzi, em review no jornal "O Globo", "são cromos e mais cromos se sucedendo informando com minúcia o tipo de vida que os emigrantes europeus foram encontrar no Oeste americano". Descendente de três gerações de lavradores, nascida na Virgínia, cedo mudou-se para o Nebraska e ali assistiu a imigração alemã, eslava e checa. Formou-se pela Universidade de Nebraska, trabalhou em jornal e na revista "McClure's" e, em 1903, publicou seu primeiro livro de poemas. Dois anos depois lançava "The Troll Garden", com sete contos. Este "A Morte vem buscar o arcebispo" (tradução de José Paulo Paes, 224 páginas, Cz$ 60,00) é considerado seu melhor romance. Ela narra a histórica luta empreendida pelo padre Latour, primeiro bispo, depois arcebispo, da diocese de Santa Fé, e pelo padre Vaillant, seu vigário, para conquistar a confiança dos índios mexicanos e infundir no clero local o ardor religioso que os possuía e que os torna duas extraordinárias figuras humanas. xxx Mais um livro espiritualista lançado pela Record: "As Chaves de Ouro de Emmet Fox Para Uma Vida Feliz" (tradução de Luzia Machado da Costa, 249 páginas, Cz$ 54,90). Agora o tema é o próprio Fox, que em seus livros procurou sempre levar os leitores a um mundo espiritual, mas de maneira prática a obter saúde, êxito e paz interior. Escrito por Hermann Wolhorn, busca separar a vida do mestre dos ensinamentos que ministrou em seus sermões e através de sua obra publicada - o que fez dividir o livro em duas partes. Na primeira, as chamadas "Chaves de Ouro", de Emmet Fox. Já na segunda, os pensamentos do pastor em relação aos mais diferentes assuntos, contando reminiscências que Wollhourn fez com Fox pelos Estados Unidos, México e Europa. LEGENDA FOTO - Clarice Lispector: de mãos dadas com o cinema.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Leitura
32
16/03/1986

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