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Aramis

A guerra dos mundos teve início em Paranaguá

Efemérides de datas redondas não faltam e espaços diários para registrá-las nas cada vez mais econômicas limitações da imprensa é que são elas! Entretanto, algumas datas especiais não podem ser esquecidas - por sua importância ou curiosidade. Um exemplo: há 50 anos, exatamente no "Thanks Giving Day", o Dia de Ação de Graças, um jovem de 23 anos que desde os 11 já fazia teatro e, nestas alturas, era um profissional em ascensão em Nova Iorque, provocou a maior comoção nos Estados Unidos, ao adaptar, dirigir e narrar uma versão para o rádio, da mais famosa obra de ficção que o inglês Herbert George Wells (1866-1946) havia publicado 40 anos antes: "A Guerra dos Mundos". Referencial básico da biografia de George Orson Welles (Kenosha, Wisconsin, 06/05/1915 - Los Angeles, 10/10/1985), a forma com que o realizador de "Cidadão Kane" a levou para a cadeia nacional de rádio CBS ficou como um exemplo da força dos meios de comunicação - e os riscos que existem junto a massa. Passado meio século das horas de terror vividas por milhões de americanos que, ouviram pelo rádio, a narrativa da invasão da Terra por marcianos, na forma criativa que Welles montou o programa, o fato é citado como exemplo. Curiosamente, aqui vai uma revelação: no final dos anos 50, quando os Associados possuíam em Curitiba duas das principais rádios - Ouro Verde e Colombo, aconteceu um fato semelhante. Dois jovens radialistas, Renato Mazaneck (hoje publicitário dos mais conceituados) e Romualdo Oazaluk (pioneiro do rádio e TV do Paraná, há anos desaparecido e que procuramos inutilmente para a gravação de um depoimento), inspirados no exemplo de Welles, também fizeram uma transmissão pela então poderosa Rádio Colombo de "A Guerra dos Mundos", começando a narrativa como se um disco voador tivesse caído em Paranaguá. Ao longo de várias horas - tal como Welles fizera - a transmissão radiofonizada foi intercalada de forma jornalística e quem não ouviu a introdução - e apanhava apenas a emissão já em andamento - acreditava que realmente os marcianos tinham chegado. Pânico, desespero, telefonemas. Na manhã seguinte, uma situação tensa: o diretor da rádio, Ronald Stresser, furioso, tinha que dar explicações para centenas de pessoas que, desesperadas ao ouvirem "as notícias", haviam se deslocado em táxi do Litoral para Curitiba, exigiam ressarcimento das despesas. Vários casos de pessoas que sofreram problemas de saúde. Felizmente, não chegou a haver mortos ou feridos - mas um imenso susto que, vinte anos depois do grande embuste de Welles, provava que o rádio tinha uma força muito maior do que se poderia imaginar. Ronald Stresser, então um jovem executivo, filho do poderoso tycoon dos Associados do Paraná, o jornalista Adherbal Stresser, soltava fumaça pelas ventas, gritava e esbravejava - querendo a cabeça dos (ir)responsáveis pela noite de terror que a Colombo havia provocado. Embora não existisse ainda Ibope com sua tirania de números, nunca a emissora havia tido tamanha audiência. O que salvou Renato e Romualdo de perderem seus empregos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
21/10/1988

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