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Harry Berger, um novo personagem de Joffily

Ao lado de suas atividades de empresário bem sucedido - como presidente da Herbitécnica, em Londrina, José Joffily, 73 anos, consegue manter uma incrível dedicação à pesquisa histórica. Agora vai publicar um novo livro, a exemplo dos anteriores, destinado a provocar polêmicas e ter grande repercussão: "Harry Berger", a história das idéias e das lutas do famoso agente do Komintern, que esteve preso no Brasil durante quase dez anos (de 26.12.1935 a 05.05.1945). Em "Olga", o best-seller de Fernando Moraes - o livro de maior sucesso nos últimos cinco anos e cujos direitos para cinema passaram agora a interessar até à televisão soviética - Harry Berger já apareceu como personagem secundário. Joffily, entretanto, vai a fundo na vida deste ativista comunista, até hoje esquecido na história oficial do Brasil. xxx Responsável pela obra que resgatou a personagem de Anayde Beiriz e sua importância na revolução de 1930, a começar pelo assassinato de João Pessoa, no Recife - e que foi levada à tela por Tizuka Yamazaki ("Parahyba Mulher Macho"), Joffily gosta de tocar o dedo em feridas incômodas da história. Há dois anos, quando todos badalavam os 50 anos da fundação de Londrina, Joffily, corajosamente, publicou um livro questionando os aspectos colonialistas da fundação pelos ingleses daquela cidade. Ninguém se atreveu a contestar suas colocações... Constituinte em 1945, político dos mais atuantes na Paraíba - e só não chegando ao governo de seu Estado por ter sido um dos primeiros cassados pela revolução, em abril de 1964, Joffily radicou-se em Londrina, de onde vem produzindo obras marcantes. xxx Em "Harry Berger" - a ser lançado pela editora Paz & Terra em poucas semanas - Joffily além de resgatar a memória do emissário do Komintern, mostra a luta do povo soviético por um mundo melhor e justifica a ação do órgão da URSS. - "Na realidade, não há o que recear. Harry Berger foi efetivamente agente do Komintern e o Komintern era o braço secreto do governo russo. Funcionava para neutralizar a ação das organizações clandestinas do imperialismo, destinadas a desestabilizar o regime soviético, tendo à frente o British Inteligence Service. No entanto, o maniqueísmo da esquerda teima em empurrar Harry Berger para trás das cortinas". xxx Harry Berger (Prússia,? - Berlim Oriental, 1959) foi uma das principais figuras internacionais da chamada Intentona Comunista de 35, no qual convergiram nomes como Luís Carlos Prestes, Alan Byron, Rodolfo Gioldi e Olga Benário - esta resgatada em sua história no livro de Fernando Moraes. Como observa o sociólogo Cezar Benevides, sobrinho e colaborador de Joffily - e agora na direção da Provopar - "sem receio dos monstros sagrados, José Joffily desvenda o incrível erro de avaliação das lideranças do Partido Comunista Brasileiro, em sua fase embrionária. Tamanho foi o erro que não perceberam o complexo jogo da correlação de forças internacionais, custando-lhes o fracasso da Intentona e provocando profunda crise nos seus quadros, que vem se refletindo até os dias atuais". xxx O nome de Harry Berger (na verdade, Arthur Ernest Ewert) está inscrito num quadro kafkiano, diz Joffily. Os principais historiadores de 1935 raramente se referem ao militante alemão, enquanto os memorialistas mais conhecidos, chegam ao extremo de omitir seu nome. Está Berger situado entre tergiversações, evasivas e silêncios. Tudo a pretexto de um "pragmatismo" que está atrofiando as esquerdas no Brasil. Ao revisitar esta figura de nossa história contemporânea - polêmica, esquecida, questionável - Joffily acrescenta mais um importante título a sua bibliografia, que já lhe valeu, há 6 anos, o Prêmio Clio de História, da Academia Paulistana de História.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
17
04/04/1987
Só tenho a agradecer ao autor do livro que resgata este fabuloso personagem de nossa história mundial e que deveria na verdade ser homenageado anualmente ao invés de esquecido por todos e quando digo todos refiro-me principalmente aos de seu partido que vergonhosamente velam a história. No livro de Graciliano Ramos, Memórias do Cácere, chegou-se ao cúmulo de censurar partes.

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