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Harry Luhm, o homem que salva os velhos filmes

Se um dia o curioso e referencial "The Guinness Book of Movies - Facts & Feats" - dedicar uma edição ao vídeo no Brasil, o nome de um curitibano terá que forçosamente ali constar: o de Harry Luhm, primeiro brasileiro que conseguiu legendar a cópia de um filme estrangeiro em nosso país. Aquilo que hoje é feito em questão de minutos - a partir das legendas traduzidas (e operado por computador), exigiu mais de um mês de dedicação de Harry, que com legendas batidas no tipo-gigante de uma arqueológica Remington 1937 e uma geringonça de projeções simultâneas, conseguiu colocar legendas nos 100 minutos de "O Jovem Frankstein" (Young Frankstein), 1964, de Mel Brooks. Além de fazer esta dificílima parte técnica, em termos praticamente artesanais, Harry, dominando o inglês - que fala desde a juventude, assim como o alemão - havia feito a tradução dos diálogos. A decisão de colocar legendas, numa cópia em vídeo importada, veio do desafio que lhe fez Luís Renato Ribas, primeiro empresário do setor de locação de vídeo no Paraná (e um dos pioneiros no Brasil), há quase dez anos passados. - "Eu sempre gostei de desafios. Quando alguém me diz que é impossível fazer algo, então eu decido provar o contrário". Graças a esta filosofia, imagens preciosíssimas de nossa memória visual têm sido recuperadas pela habilidade oriental (conjugada à competência vindo da descendência germânica) de Harry Luhm, que praticamente trocou a profissão de dentista pela paixão ao cinema e ao vídeo. Reconhecidamente, um dos melhores técnicos em transcrição (e sonorização) de filmes 8mm, super-8, 16 e 35mm para vídeo do país (e o único, ao que se saiba, a fazer de forma competente este trabalho no Paraná), Harry Luhm não se considera nem cineasta, muito menos comerciante no perigoso setor de pirataria de imagens. Ao contrário, orgulha-se de jamais ter feito qualquer cópia de filmes para fins de exploração comercial, trabalhando, isto sim, com material inédito, geralmente de cinegrafistas amadores ou antigos fragmentos de documentários, jornais da tela e mesmo filmes rodados por pioneiros e focalizando cenas afetivas, de cidades e viagens. Apaixonado por cinema desde a infância (ver segundo texto nesta mesma página), Harry Luhm começou a se interessar pelas possibilidades de transcrever para o vídeo as imagens praticamente perdidas de velhíssimos filmes em outras bitolas a partir da chegada da tecnologia do home vídeo no Brasil no final dos anos 70. Dezenas de amigos lamentavam que possuíam cenas familiares e de viagens, rodadas com paleolíticas câmeras super 8 e mesmo 16mm, que eram difíceis de serem vistas. Além das dificuldades de utilizar os projetores destas bitolas - de manutenção complexa e manuseio que exige uma habilidade que nem todo mortal possui - havia o problema do estado frágil das cópias, sujeitas a se romperem e mesmo incendiarem-se se submetidas a projeções seguidas. Assim, Harry começou a desenvolver trabalhos de reedição, montagem e, finalmente, transcrição de imagens para vídeo, sofisticando os recursos, acrescentando sonorização e obtendo até efeitos especiais. Tudo isto com alguns poucos aparelhos de vídeo e antigos projetores, instalados numa antiga garagem em sua residência-consultório no bairro das Mercês, onde reside há 35 anos. Vencida a proposta de recuperar em vídeo as imagens das bitolas menores, veio o desafio maior: fazer o mesmo com filmes em 35mm. De princípio, um problema de velocidade - encontrar uma forma de ajustar a projeção dos 24 quadros por segundo (35mm) para as 30 imagens na velocidade da televisão - o que provocava desintonia na banda sonora com reflexos na qualidade de imagens. Aquilo que muitos ditos "entendidos" diziam que seria impossível, apenas dava mais força para Harry procurar, de forma autônoma, como verdadeiro inventor, a solução: - "Gastei muito dinheiro e, principalmente, tempo, para encontrar soluções que, pouco a pouco, mediante ajustes e adaptação, possibilitaram que eu fizesse aquilo que mesmo técnicos tarimbados em cinetelagem achavam impossível". Um de seus melhores amigos, o veterano Zito Alvez Cavalcanti, 66 anos, 52 de cinematografia, é o homem que mais conhece a técnica de projeção no Paraná, lhe deu uma dica sobre um velho projetor Zeiss, L-Man-7B, abandonado no depósito do único cinema de Ipiranga (50 km de Ponta Grossa). Harry lembra: - "O cinema da cidade funcionava com um único projetor, por uma razão econômica: o proprietário, Osmar Carneiro, que era também único motorista de taxi da cidade, vereador e operava as sessões, tinha que fazer intervalos demorados na hora de trocar as bobinas para sua mulher movimentar a bomboniere. Assim, nunca havia utilizado o segundo projetor que já tinha adquirido de quinta mão. Quando vi o velho Zeiss, jogado num depósito, não me importei pelo seu estado físico: a parte mecânica estava boa e trouxe para recuperá-lo". Recuperando o projetor - e adaptando-o para a telecineagem, dentro de um sistema que lhe custou meses de pesquisas (e investimentos), Luhm conseguiu resultados que surpreendem, até hoje, a todos: faz perfeita projeção de filmes em 35mm para sua transcrição em vídeo. Claro que, com toda razão, não revelou o segredo da adaptação - até agora, procurada por alguns concorrentes. Com o equipamento em 35mm, Luhm pode salvar antigos documentários e cinejornais de produtoras como a Famma Filmes, de Hermes Gonçalves e Eugênio Félix e outros pioneiros de nossa cinematografia que estavam partidos. Pena que, até agora, muitos que possuem ainda material desta nova história do cinema não o tivessem procurado mas, mais lamentável ainda, é o fato de que a maior parte do acervo - especialmente da Famma Filmes (vendida posteriormente a Flag, e, esta, por sua vez, adquirida pelo comerciante Júlio Kruger, das Produções Guaíra) tenha se perdido. Apesar disto, Harry realizou dois emocionantes documentários sobre o Clube Curitibano, focando a inauguração da sede urbana, em 1948, quando Joffre Cabral e Silva (1914-1972) presidia a entidade ("Um Sonho que se Tornou Realidade", de Eugênio Felix e "Club Curitibano", de Hermes Gonçalves). Com fragmentos de vários pioneiros caçadores de imagens - especialmente do farmacêutico e cinegrafista amador Carlos Stellfeld - montou "Sinfonia Curitibana", que inclui imagens magníficas. O último trabalho que fez foi a transcrição em vídeo de um documentário de 14 minutos realizado pelo crítico Armindo Ribeiro Pinto, quando existia o Cineclube do Paraná, chamado "Curitiba 1951". Infelizmente, a qualidade da única cópia encontrada deste documentário rodado há 40 anos é bastante precária - embora, como todo material existente, tenha sua validade.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
17/02/1991
Estou desativando um arquivo de filmes 16mm e 35mm, com 1800 títulos de filmes e que foi montado desde 1940 pelo cineasta Cesar Nunes. Estou vendendo filmes para a cidade de Petrópolis e os clientes estão pesquisando quem digitaliza os filmes. Quem me indicou voçe foi o Hernani Heffner do M.A.M. Eu gostaria de saber se eu posso indicar voçe para os clientes que eu já vendi filmes. São eles: Faculdade de Medicina de Petrópolis- Fundação de cultura de Petrópolis e TV adonai-canal 15. Aguardo contato, Marcio Nunes.

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