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Aramis

A hora da verdade para tape-clubes

Um aparelho de video-tape está custando entre Cr$ 2.700.000,00 (o mais simples modelo da Sharp) a Cr$ 3.200.000,00, com previsões de novos aumentos nos próximos 30 dias. O modelo Betamax, da Sonny (fabricado em Curitiba), custar ao redor de Cr$ 2.700.000,00. A fita virgem, para gravação, se aproxima dos Cr$ 50 mil - e um original, com filme ou show, não fica por menos de Cr$ 120 mil. O aluguel de um filme já está entre Cr$ 5 a Cr$ 10 mil, por 24 horas. No Brasil, há aproximadamente 500 vídeo-clubes com um total de 2 milhões de cópias e originais de mais de 4 mil títulos de filmes e espetáculos de várias épocas. Ao menos 98% deste material é pirata - ou seja, entrou no País e está sendo comercializado de forma ilegal, sem pagamentos de qualquer taxa de direitos aos seus legítimos proprietários, ou os produtores dos filmes e shows. Mais da metade deste fabuloso acervo é constituído de cópias, feitas ilegalmente, de filmes exibidos na televisão ou extraídos de fitas originais trazidas dos Estados Unidos. Um cálculo a grosso modo, estipula que o movimento dos video-clubes - que se multiplicaram nos últimos dois anos - ultrapassar casa dos Cr$ 500 milhões mensalmente. Dezenas de pessoas que investiram neste mercado acabaram fazendo grandes fortunas nos últimos meses, pois paralelamente ao boom da era dos video-tapes (apesar dos altos preços dos aparelhos), o mercado estava totalmente a descoberto até o início deste mês. xxx Domingo, 22, ao falar na abertura da XVIII Jornada de Cineclubes, o sr. Sérgio Oliveira, simpático presidente do Conselho Nacional de Cinema, chamou a atenção dos cineclubistas para a importância de que estas entidades não venham a serem usadas, na boa fé de seus dirigentes, por grupos interessados em escapar da fiscalização que o Concine inicia dentro de algumas semanas para sanear e moralizar o mercado de video-tapes. Dos 500 video-clubes existentes no Brasil, cerca de 400, através de seus diretores proprietários, assinaram um protocolo de intenções com o Concine, pelo qual se comprometem a paralisar as produções ilegais de fitas e, até novembro, retirar 30% dos títulos que estão comercializados de forma ilegal. Este percentual será substituído por fitas colocadas legalmente no mercado, tanto de produções internacionais como nacionais. Apesar do protocolo ter coroado uma série de delicadíssimas negociações ("Parecia um acordo de paz entre árabes e judeus", comentava conosco, no domingo, Sérgio de Oliveira), nem tudo são flores. Muitos rebeldes, que não concordaram com o documento, tentam medidas jurídicas, enquanto equipes de fiscais já se preparam para, pela fórmula de amostragem ou atendendo denúncias, lacrarem os tapes-clubes que não cumprirem o acordo. xxx Em Curitiba, Luís Renato Ribas, 50anos, que em 22 de maio de 1981 criuo o primeiro tape clube no Paraná - e é dono do maior acervo (3.774 fitas, com mais de 1.500 títulos diferentes), tem sido um dos que mais se preocupa na legalização do mercado. Foi ele quem estimulou a fundação da Associação Paranaense de Vídeo, que hoje agrupo 8 outros clubes de Curitiba, Ponta Grossa e Londrina. Sua organização já começa a se adequar a esta sistemática, e que, entretanto, obrigará a desativação do VideoArte, idealizado pelo engenheiro cinemaníaco Marcelo Marchioro (ex-diretor de arte e programação da Fundação Teatro Guaíra) - que vinha se especializando na difusão exclusivamente de tapes com clássicos do cinema. xxx Paralelamente à ação fiscalizadora do Concine nos videoclubes, a CIC-Video, associação de duas das maiores produtoras americanas - a Universal e Paramount, que detém mais de 400 títulos de fitas de vídeo cassete, decidiram investir 300 milhões de cruzeiros para associar-se a um grupo nacional e lançar, antes do final do ano filmes com sucessos atuais como "Laços de Ternura", "Scarface" e "Flashdance"(mas cujas cópias piratas, há muito estão em circulação). Conforme declarações de Stephen Murphy, representante da CIC na América Latina, à revista "Veja" que está nas bancas, "antes do Natal, estaremos nas ruas vendendo nossos filmes". Murphy reconhece que o grande problema é a pirataria, que colocou o mercado brasileiro sob suspensão dos produtores estrangeiros. Para cada 160 filmes registrados na Embrafilmes atualmente existem 6.000 cópias piratas, Contra a duplicação ilegal de cópias - freqüentemente, elas recebem dublagem que tornam o texto original irreconhecível - o Concine baixou uma resolução, há quase um ano, obrigando a aplicação de um selo especial, fornecido pela Embrafilmes, em toda fita que seja comercializada.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
27/07/1984

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