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Aramis

Humor Demolidor

Top Secret! Super confidencial (Cine Condor, 4 sessões) retoma deliciosa linha de comédias que fazia falta nos últimos anos: o non sense satírico e up to date, com gags que comunicam ainda mais para quem já curte cinema. Com toda razão, a United International Pictures está centrando a publicidade desse "Top Secret!" em cima do fato de ser uma realização da mesma equipe que há dois anos produziu "Apertem os cintos... o piloto sumiu", a deliciosa sátira à série "Aeroporto". Equipe é o termo que define a realização dessa fita, roteirizada e dirigida coletivamente, por Jim Abrahms, David Zucker e Jerry Zucker. O próprio fato de ser uma criação coletiva (no roteiro também participou Martyn Burke) faz com que o humor seja mais amplo em todas as seqüências. Há detalhes visuais que complementam outras piadas, numa multiplicidade de estímulos ao riso que faz com que a revisão dessa comédia se torne renovadora. Ou seja: uma fita tão divertida que pode surpreender mesmo o público que já a tenha visto, pois, numa segunda (ou terceira) vez, o interessado observará detalhes que antes podem ter passado despercebidos. Se Carl Reiner fez, há 3 anos, uma obra-prima, em termos de humor, ao utilizar seqüências de clássicos dos anos 40, em "Cliente morto não paga", Abrahms e Zucker também decidiram satirizar o próprio cinema - não com seqüências explícitas (como fez Reiner), mas reconstituindo situações que remetem o espectador a imagens de filmes que se tornaram famosos. Assim, a citação do lacrimogênico "A Lagoa Azul" acaba fazendo parte da própria história, enquanto a famosa seqüência de Steve McQueen na motocicleta, escapando dos nazistas, em "Fugindo do Inferno", é outro ponto divertidíssimo desse "Top Secret!", que inclui uma sátira aos "Canhões de Navarone" e encerra lembrando, naturalmente, o clássico - "Casablanca". (No final, ao citar o filme de Michael Curtiz, até o enquadramento da Câmara focalizando o avião é idêntico). Outros filmes também têm referências indiretas, assim como citações de artistas e personalidades políticas (até Reagan, implicitamente comentado numa das últimas cenas) são feitas ao longo dessa comédia simplesmente deliciosa. A descontração e irreverência têm sido uma das características das comédias americanas, nos últimos anos. Seja na linha grosseira e de apelo juvenil que Bob Clark inaugurou, em "Pork's" e que vem tendo inúmeros sucedâneos (como "A Última Festa de Solteiro", em 8ª semana de exibição, agora no Bristol), seja de forma refinada - explorada por Mel Brooks, Carl Reiner e, agora, pelo trio Jim Abrahms/David Zucker/Jerry Zucker. Se em "Apertem os cintos... o piloto sumiu" a ação se concentrava no espaço, nesse "Top Secret..." o desenvolvimento fica em torno da participação de um cantor de rock americano - claramente inspirado em Elvis Presley - num festival cultural na República Democrática da Alemanha. Envolvendo-se, naturalmente, numa intriga internacional, o roqueiro Nick Rivers (Val Kilmer) apaixonou-se por Hillary (Lucy Gutteridge), filha de um cientista (Michael Gough) preso pelos militares, que o obrigam a construir uma arma mortífera. Se aparentemente a sátira parece ser crítica ao comunismo, isso se dilui ante o non sense total. A confusão deliberadamente estabelecida - lembrando os Irmãos Marx, em seus melhores momentos - faz com que ideologias e países desapareçam (a resistência alemã se transforma num grupo de franceses com nomes engraçadíssimos) e fique, acima de tudo, o humor leve - que de certo deverá garantir algumas semanas de sucesso a esse filme. Maurice Jarre montou uma trilha sonora com sucessos dos anos 50, a começar por "Tutti Frutti", mas não dispensando sequer os temas de "Tubarão" e do seriado "Bonanza", para da também sonoramente uma crítica demolição ao estabelecido. Um elenco cuidadosamente escolhido, valorizando até o canastrão Omar Shariff como um desastrado detetive, que lembra o Inspetor Clouseau (criação inesquecível de Peter Sellers, nas comédias de Black Edwards), a inteligência das gags e diálogos, o ritmo intenso das seqüências - tudo contribuiu para fazer de "Top Secret!" um delicioso programa.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13/02/1985

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