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Huston, 80 anos, com humor e competência

No ano de seu 80° aniversário, John Huston era o favorito na festa do Oscar-86. Afinal, além de sua competência como diretor ao longo de 35 filmes marcantes - mesmo nos momentos mais fracos - havia o aspecto emocional: poderia repetir-se no Dorothy Chandler Pavillion, em Los Angeles, na noite de 24 de março último, indiretamente o que emocionou os espectadores na 25ª festa do Oscar, em 1948: John Huston recebendo os troféus de melhor diretor e roteirista e seu pai, Walter Huston (1884-1950) premiado como melhor coadjuvante por "O Tesouro da Sierra Madre". Afinal, entre as oito indicações que "A Honra do Poderoso Prizzi" havia obtido dos membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, estava a de Huston para a direção e de sua filha, Angélica, para melhor coadjuvante. No final, o Oscar de melhor diretor foi para Sidney Pollack ("Entre Dois Amores/Out of Africa") mas Angélica Huston ganhou o de melhor coadjuvante - num páreo duro em que concorriam Margaret Avery e Ophrah Winfrey por "A Cor Púrpura" (The Color Purple, lançamento no Brasil em agosto), Meg Tilly ("Agnes de Deus") e "Amy Madigan" ("Twice in a Lifetime"). O VELHO MESTRE Dentro de três semanas, em 5 de agosto, quando Huston completar seus 80 anos, os cadernos especiais e revistas de atualidades por certo estarão dedicando páginas ao velho mestre do cinema. Afinal, numa idade em que normalmente as pessoas estão aposentadas, este ex-boxeador, ex-jornalista, ex-pintor, continua vigorosíssimo - e tanto como ator como diretor, já está em novos trabalhos. Sucesso de bilheteria nos EUA, elogiadíssimo pela crítica e mostrando que Huston está em plena forma, "Prizzi's Honor" teve nada menos que merecidas oito indicações ao Oscar: direção, ator (Jack Nicholson, que perdeu para William Hurt, por "O Beijo da Mulher Aranha"); atriz coadjuvante (Angélica Huston); ator coadjuvante (William Hickey, que perdeu para o veterano Don Ameche, por "Cocoon"); roteiro adaptado (Richard Condon/Janet Roach), vestuário e montagem. Da leitura do romance de Richard Condon - autor de "The Manchurian Candidate" (1959, filmado por John Franknheimer em 1962: "Sob O Domínio do Mal"), Huston que havia concluído "A Sombra do Verão" (Under The Volcano), entusiasmou-se com a história sobre os mafiosos de Nova Iorque, tratada com muito humor. Do entusiasmo a um telefonema do veterano produtor John Foreman - (com quem fez filmes maravilhosos como "O Homem Que Queria Ser Rei", "O Homem de Mackintosh" e "Roy Bean, O Homem da Lei") - foi questão de dias e logo Huston estava em Nova Iorque, filmando no inverno de 1984, este seu 35° filme, tendo na equipe velhos colaboradores - como Rudi Fehr (que em 1948, foi montador de "Paixões em Furia/Key Largo" e "O Falcão Maltês", em 1941), o compositor Alex North e, naturalmente, o próprio produtor Foreman. Recém-chegados à equipe de Huston, o fotógrafo Andrzej Bartkowiak ("Laços de Ternura", "O Veredito", "Príncipe da Cidade"), o figurinista Donfeld (indicado para o Oscar por "Vício Maldito") e o diretor de arte Bruce Weintraub ("Um Homem Fora de Série"). Assim, com uma equipe altamente competente, o velho Huston não teve dificuldades em realizar um filme marcante e no qual o elenco foi dos mais harmoniosos. Se Nicholson, um veterano, dos mais competentes e a própria filha de Huston, Angélica, pouco conhecida no cinema (fez sua estréia em "Caminhando Com o Amor e a Morte", 1969, dirigida pelo pai) tem, em compensação, larga experiência teatral, a presença de maior appeal é de Kathleen Turner, firmando-se como o grande sex symbol desta década, tanto em papéis dramáticos e que mostram sua sensualidade ("Corpos Ardentes", sua estréia no cinema; "Crimes da Paixão", em exibição no cine Ritz) como na comédia ("Médico Erótico", "Tudo Por Uma Esmeralda" e "A Jóia do Nilo"). Como a bela, insinuante e cruel Irene Walker, Kathleen Turner tem em "A Honra do Poderoso Prizzi" mais uma grande interpretação. Mas no elenco de apoio há atores marcantes - incluindo William Hickey (como o patriarca Don Corrado Prizzi), desconhecido no Brasil, num papel que lhe valeu a indicação ao Oscar como coadjuvante. Outros intérpretes de suporte: Robert Loggia (Eduardo Prizzi), John Randolph (Angelo "Pop" Prizzi), Lee Richardson ("Dominic Prizzi"), Michael Lombard (Filargi) e George Santopietro (Plumber). O respeitadíssimo Vincent Can by, do "The New York Times", escreveu sobre o elenco: "Todos os intérpretes são ótimos, mas os quatro principais, incluindo Angélica, são formidáveis. O trabalho de Nicholson é tão bom como qualquer outro que ele já tenha feito. O seu Charley cresce dramaticamente dentro do filme, enquanto ele evolui de homem estritamente fiel da "família" para um líder que pode pensar por si mesmo e tomar suas próprias não ortodoxas decisões de negócio. Kathleen Turner combina o vigor de seu desempenho em "Corpos Ardentes" com a comédia de "Médico Erótico" para criar uma espécie de metafeiticeira que não mais se vê com frequência".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
7
13/07/1986

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