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Aramis

A importância de ser Tonico & Tinoco

Eles têm um dos maiores públicos no Brasil. Já fizeram milhares de gravações e é difícil quem não os conheça. São estimados e admirados em sua simplicidade. Mas até hoje, com raras exceções, sempre foram marginalizados pelos veículos mais sofisticados de informação, o que, em absoluto, não os preocupa. Preferem dedicar-se apenas a sua faixa - que é imensa! Estamos falando da dupla Tonico e tinoco (João Salvador Peres e José Peres), que comemora agora 35 anos de ininterruptas atividades. Data assinalada com a edição de um álbum duplo, pela Continental, e uma série de shows, dois dos quais em Curitiba (dia 19, Ginásio Pinheiros, na Vila Guaíra, dia 20, Cine Teatro Primavera, em Umbará). Insistimos sempre na necessidade de se (re)pensar na música sertaneja, sem preconceitos elitistas, como documentação de uma realidade. Estética a parte, é um campo imenso de estudos e pesquisas, que começa agora a ganhar os seus primeiros ensaios de nível universitário, como os dos sociólogos José de Souza Martins ("Capitalismo e Tradicionalismo" - Biblioteca Pioneira de Ciências Sociais, 161 páginas, 1976) e Waldenyr Caldas ("Acorde na Aurora", Companhia Editora Nacional, 166 páginas, 1977). E para qualquer apreciação sobre a música sertaneja, é indispensável o estudo da obra de Tonico & Tinoco, paulistas de São Manoel, que desde janeiro de 1942 atuam principalmente em São Paulo. Foi através do admirável Capitão Furtado (Ariovaldo Pires), a maior memória da música sertaneja no Brasil, que a dupla estreou, no programa "Arraial da Curva Torta" da Rádio Difusora. Tonico & Tinoco ali concorreram com 40 outros violeiros e foram vencedores. O prêmio foi um contrato com a emissora onde passaram a atuar todos os domingos abrindo um público que somente cresceria com o passar dos anos. Tonico & Tinoco foram também pioneiros na TV Tupi, fazendo ao lado de Hebe Camargo e Marinho Gouveia o show inaugural. Mas sempre foi o rádio o grande veículo para a sua música. Ficaram 17 anos na Difusora, 10 na Nacional e agora estão na Bandeirantes onde fazem um dos programas de maior audiência, "Na Beira da Tuia" (Tuia é o local onde se armazena o café nas fazendas e quando a mesma fica cheia os empregados comemoram com danças ao seu redor). É impossível fazer um estudo sobre o rádio, principalmente em São Paulo, sem analisar a força de comunicação de duplas como Tonico & Tinoco, que abrem as programações, com acordes nas auroras como disse Waldenyr Caldas. Além de "Na Beira da Tuia", apresentam na mesma emissora "Onde Canta o Sabiá", a partir das 5 horas da manhã. Tonico & Tinoco pertencem a uma geração de artistas sertanejos que o sucesso e o dinheiro não tiraram a simplicidade - segredo da comunicação de suas músicas. Ao contrário de duplas jovens, como Leo Canhoto & Robertinho - que vendem milhões de discos pela RCA Victor - não eletrificaram seus instrumentos. Tonico e Tinoco - como muitas outras duplas sertanejas - adquirem um sentido de documentação sociológica, e, independente de qualquer apreciação estético-crítica, merecem atenção.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
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15/11/1977

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