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Aramis

Inédito de Ary Barroso gravado pela Revivendo

Além de 22 históricos fonogramas, com registros que vão desde os Hinos à Bandeira Nacional (1906) e o "Hino Nacional Brasileiro" (1822), até "Isso é Brasil" (1947, José Maria de Abreu / Luiz Peixoto), a arqueologia ufanista promovida por Leon Barg incluiu uma faixa inédita. Trata-se de "Onde o Sol Doira as Espigas" (1944), samba de Ary Barroso (1903-1964), que só foi cantado no rádio duas vezes pelo cantor Moraes Neto em 1944. Hoje aos 73 anos, residindo em Curitiba desde 1989, Moraes Neto contou a Leon Barg sobre esta música inédita do grande Ary, que sofreu a censura na época. É que a letra foi interpretada como "realista dos males da II Guerra, que poderia baixar a moral do povo e da FEB, prejudicando o esforço nacional contra os países do Eixo". Ary Barroso chegou a escrever versos para a primeira parte e mudou o título para "Uma Página da História". Já os versos da segunda parte, de exaltação, permaneceram. Moraes Neto, que a interpretou no rádio (mas nunca a música foi gravada integralmente), conservou uma cópia da partitura, já que a original perdeu-se num incêndio na Rádio Tupi. Com base neste arranjo, numa gravação feita no Estúdio Audisom, em Curitiba, com a participação da Banda de Música da 5ª RM, sob direção do capital Silas Viana de Souza, foi feito o registro que agora sai em CD. xxx Com uma capa colorida, sobre ilustração da dupla Chris e Jeans, num trabalho de designer de Laís Barg, "Brasil, Canto de Amor" é uma proposta tão idealista quanto arriscada em termos comerciais. Reúne registros históricos de canções cívicas e hinos integrados a nossa história. Gravações estas raríssimas (o pesquisador Luciano Lacerda, já falecido, possuía algumas delas, que montava em fita para amigos) que agora podem ser apreciadas em seu significado histórico, explicado no sempre didático texto do pesquisador Abel Cardoso Jr., no encarte. Por exemplo, "Avante Camaradas", marcha-hino que Antônio Manoel do Espírito Santo (1884-1913) compôs em 1910, para a Banda da Força Pública do Estado da Bahia, se tornou um clássico no repertório castrense e motivou, há alguns anos, até um belo documentário cinematográfico a seu respeito. O dobrado "Barão do Rio Branco" (1904) foi gravado pela Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro em 1910 na Casa Edison. Outro dobrado da mesma época é "Saudades da Minha Terra", de Castro de Assunção (1858-1925). "Canção do Marinheiro" (Cisne Branco), o dobrado do mesmo autor de "Avante Camaradas", teve sua primeira gravação pelo histórico Baiano (Manuel Pedro dos Santos, 1887-1944), mas para esta edição foi escolhida a interpretação de Dalva de Oliveira. Sete das 23 faixas são dedicadas a canções que surgiram nos anos 40, quando a Força Expedicionária Brasileira (que hoje é ofendida por fascistas medíocres e desonestos), compositores e intérpretes davam seu apoio aos nossos pracinhas: "Sabemos Lutar" (Antônio Nássara / Erastatones Frazão); "Terra Virgem" (Mário Rossi); "Desperta Brasil" (Grande Otelo); "Pelo Brasil, Pela Vitória" (Caio Lemos / Humberto Teixeira); "Canção do Expedicionário" (Spartaco Rossi / Guilherme de Almeida); "O V da Vitória" (Lamartine Babo) e "Canção do Soldado" (Almirante Ulysses Sarmento), em vozes de Elisinha Coelho, Vicente Celestino, Linda Batista, Silvio Caldas, Francisco Alves e outros nomes notáveis da época de ouro da MPB. Ao lado de fonogramas com pouquíssimas informações - como "Batista de Melo" (dobrado de Manuel Alves, 1942), há curiosidades como "Meu Caboclo" do violonista Laurindo de Almeida (*), lançado em 1942 por Orlando Silva. Neste desfilar de temas ufanistas estão também canções como "Minha Terra", de Waldemar Henrique, o dobrado "Saudade de Minha Terra", de autor anônimo, e até um hino esportivo - "Terra Brasileira", que João de Barro / Alberto Ribeiro, compuseram em 1939. Nota (*) Laurindo de Almeida, paulista de Miracatu, 74 anos completados na última segunda-feira, 2 de setembro, é músico desde garoto. Violonista e compositor, trabalhou nos cassinos e rádios do Rio até 1946, quando radicou-se nos EUA. Em 1947 já aparecia no filme "A Song is Born", e integrou a orquestra de Stan Kenton, fez trilhas para dezenas de filmes e tem mais de 50 elepês gravados nos EUA, infelizmente a maioria inédita no Brasil. Há 4 anos, foi homenageado na abertura do Free Jazz Festival.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
07/09/1991

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