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Aramis

Integração ucraniana na longíqua Dorizom

Durante anos o nome de Dorizom era lembrado por pessoas com problemas de saúde, como uma estação de águas termais onde se processariam verdadeiros milagres. O tempo passou e Dorizom continua esquecida vila, situada ao sul do Estado e pertencente ao também esquecido município de Mallet. Se houve época em que se sonhava em sua transformação numa florescente estação de águas com potencial turístico, a exemplo de outras existentes em São Paulo, Minas Gerais e Goiás, mesmo os mais idealistas e esperançosos defensores acabaram esquecendo. O nome de Dorizom é agora lembrado não apenas pelas suas fontes de águas medicinais, mas sim como tema de um ensaio etnográfico-linguístico do professor Miguel Wouk, editado postumamente, e que após uma longa espera finalmente ganhou forma de livro. Nesta sexta-feira, 9, "Estudo Etnográfico-Linguístico da Comunidade Ucraína de Dorizon" estará sendo lançado, em solenidade programada para às 10h30min, no Setor de Ciências Humanas, 11º andar do edifício Dom Pedro I. xxx A edição deste estudo etnográfico-lingüístico do professor Miguel Wouk, falecido há poucos meses e que se dedicou integralmente ao magistério superior, é mais uma [iniciativa] do setor de editoração da Secretaria da Cultura e Esportes, que mesmo com poucos recursos, vem realizando o melhor trabalho na área. Mensalmente, a professora Cassiana Lacerda Carolo tem editado monografias, livros e álbuns de alto nível, preenchendo um espaço que se encontrava aberto. Por modéstia, o professor Wouk, nascido em Dorizon, em 1918, filho de imigrantes ucranianos, nunca se apressou em publicar este seu interessantíssimo estudo - preparado com tese de concurso, nunca realizado - onde desenvolveu um duplo "aproach": a descrição etnográfica da comunidade ucraniana de Dorizon e a análise lingüística-onomástica de seu dialeto, basicamente da região oeste da Ucrânia, da margem do Rio Dnister. Na primeira parte, que abrange três itens distintos, Wouk apresentou com muita clareza a situação demográfica de Dorizon, a história da imigração ucraniana nesta região paranaense, manifestações da cultura espiritual e material, bem como aspectos do desenvolvimento econômico da comunidade em estudo. Na segunda parte, o professor Wouk analisou a "aculturação" lingüística daquela comunidade apresentando exemplos dos mais interessantes da fonética, morfologia e sintaxe, destacando especial atenção à onomástica e ao vocabulário, sobretudo aos "brasileirismos" utilizados pelos ucranianos de Dorizon. xxx Há cinco anos, a professor Oksana Boruszenko, também filha de imigrantes ucranianos - e que há mais de 20 anos vem se dedicando ao estudo da presença eslava no Brasil, tema inclusive de tese de doutorado na Universidade Maximilian, em Munique, levou uma cópia do estudo do professor Wouk ao chefe do Departamento de Estudos Eslavos da Universidade de Manitoba, Canadá, Jaroslaw B. Rudnyc'kyj, que escreveu entusiástico elogio na revista "Slovo na storoji", agora traduzido por Oksana e aproveitada na "orelha" da edição do estudo. Jaroslaw registrou, em 1976, que "para os ucranianos que vivem em outros continentes e em outros meios lingüísticos, são de grande interesse os empréstimos condicionados à realidade brasileira, sobretudo os referente ao vocabulário agrícola, como por exemplo erva-mate, pinheiro, imbuia, mandioca, taquara, bambu, mentruz, moranguinho e outros. Wouk dividiu minuciosamente os empréstimos em várias categoria gramaticais, com os respectivos percentuais, onde os substantivos correspondem a cerca de 70% dos vocábulos tomados ao português, enquanto os verbos são poucos numerosos e recebem sufixos ucranianos. Com referência à onomástica é dedicada especial atenção aos nomes próprios usados pelos ucranianos de Dorizon, divididos em duas categorias básicas, ou seja, os tradicionais como Ivã, Vasêl, Yosef, Dmetró, entre outros, e os "novos" como Ivo, Jair, Delair, Neusa, Sabina, etc. É apontada também a combinação de nomes como Carlos Alberto, Jorge Luis, Ivo Claudio, como influência do meio de adoção. xxx Embora aparentemente uma obra hermética, destinada a especialista, o estudo etnográfico-lingüístico da comunidade ucraniana de Dorizon, que em 1965 teve uma pequena edição, o fato de agora sair um volume amplo e com maior distribuição representa uma oportunidade de se conhecer e entender melhor a presença dos ucranianos no Sul do Paraná, especialmente em Dorizon - e de sua integração a nossa cultura.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
6
08/10/1981

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