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Aramis

Intervenção de Lerner reduz a crise cultural

Graças a intervenção enérgica do prefeito Jaime Lerner - em decorrência das denúncias feitas pela imprensa - a crise provocada pela prepotência das diretoras da Fundação Cultural de Curitiba baixou alguns graus a partir de segunda-feira, dia 6. Na edição de terça-feira, 7, O ESTADO DO PARANÁ era o único jornal que publicava a notícia em suas funções. Quinta-feira, as notícias ampliaram-se - mas dando conta que dos seis servidores atingidos, dois não seriam readmitidos: a psicóloga e pesquisadora Clara Satiko Kano (*) coordenadora administrativa e do arquivo, e o videomaker Willy Schumann, 27 anos, há três responsável pelo tráfego dos filmes no circuito de exibição da Fundação. Assim, a crise não está totalmente superada - prova disto é que desde segunda-feira, houve pronunciamento de vários vereadores, com denúncias sérias e que propõe desde a constituição de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para uma devassa na FUCUCU ou, no mínimo um pedido de informações - que o vereador Mário Celso, sempre atento aos desmandos culturais , já encaminhou. Outra proposta é de convocar a sra. Lúcia Camargo a comparecer na Câmara para ali tentar explicar inúmeras questões relacionadas a instituições, que com um orçamento de um bilhão de cruzeiros neste segundo trimestre custa, quase Cr$ 3 milhões/dia aos contribuintes curitibanos. xxx O fato das diretoras Lucia Camargo e especialmente a assistente social Celise Niero, terem sido obrigadas a reconhecer a injustiça das demissões, ao voltarem atrás e, procurando quatro dos atingidos para que continuem na casa, é maior prova de que houve arbitrariedade. Afinal, se houvessem razões concretas, com acusações que justificassem justa causa, as demissões não seriam revistas. No caso dos dois funcionários que não foram, até agora, readmitidos - Willy Schumann e Clara Satiko Kano - os mesmos já constituíram o advogado Wilsom Ramos, que deu entrada de reclamação trabalhista. Experientes profissionais da área de direito do trabalho acham que tanto Willy como Clara, terão completa vitória no TRT. No caso de Clara, como tem doze anos de serviço, estando assim protegida constitucionalmente poderá ser reintegrada ao cargo e receber todos os salários do período em que permanecer afastada, afora outros benefícios. O lamentável é que quando a sentença for pronunciada, as causadoras deste prejuízo já nem estarão mais em suas funções. Quem pagará a indenização? O município , é claro. Ou seja, dinheiro dos contribuintes para pagar despesas que seriam desnecessárias se no comando do órgão cultural estivessem pessoas competentes, capazes de, através do diálogo, encontrar soluções corretas para pequenos problemas administrativos. xxx Em momento algum se questionou o direito das diretoras da FCC em fazerem remanejamento nos cargos das várias unidades. Aliás, nunca escondemos críticas a atitudes de pelo menos um dos funcionários atingidos - despreparado para a função - mas a forma com que os fatos se deram, o desrespeito humano é a própria legislação, num rompante de autoritarismo, violência e prepotência é que fez com que toda a comunidade artística-intelectual ficasse indignada. A cobertura espontânea da imprensa, as manifestações de solidariedade recebidas e, a própria contrariedade do prefeito Jaime Lerner, exigem uma reparação destes fatos - bem como de outras graves irregularidades que ocorrem. Roberto Pitella, 31 anos, fotógrafo e administrador, afastado no dia 26 de abril, da direção do Centro Cultural do Portão, também teve sua demissão revogada. A secretária Lucia Camargo lhe pediu desculpas pelas acusações mentirosas que havia feito, quando, intempestivamente, ouviu apenas a versão apresentada pelo ator Ariel Coelho, que procurou responsabilizá-lo por problemas na temporada de "Valentim, Valentim" (auditório Antônio Carlos Kraide, dias 20 e 21 de abril), não lhe permitindo sequer apresentar sua defesa. Sentindo que Pitella não só venceria na reclamação trabalhista, mas como poderia processá-la pelas acusações que recebeu, a presidente da FUCUCU não teve outro caminho do que admitir o seu erro. Generosamente, Pitella a desculpou. xxx Francisco Alves dos Santos, que por seus 16 anos de trabalho prestados na área cultural do cinema, recebeu apoio inclusive de nomes nacionais (Cosme Alves, diretor da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, lhe encaminhou uma carta pessoal e seria o primeiro signatário de um manifesto com a solidariedade dos mais expressivos cineastas, pesquisadores e jornalistas, encontra-se agora licenciado. Traumatizado pela injustiça, necessitou atendimento médico-especializado, sendo que seus amigos se preocupam com seu estado psíquico. Quando estiver recuperado, por seu bom nível intelectual, poderá ser útil em outro setor da FUCUCU - embora, como escreveram os jornalistas Rosirene Gemael e Débora Ianklevich, pela sua própria formação devesse continuar ligado a Cinemateca. Afinal, seu substituto - cuja forma de contratação ainda é um mistério (não prestou concurso e receberá quanto? - "contra-recibo") não possui relacionamentos e nenhuma experiência na área, assim como os dois outros auxiliares "convidados" por Lucia Camargo para substituírem os funcionários afastados. Sandra Borne, que era a coordenadora administrativa dos cines Ritz, Grof, Luz e Guarany, passa agora para a área de literatura e Geraldo Pioli vai para o setor de circos. Estes dois funcionários ocupam cargos na diretoria do Sindicato dos Servidores Municipais e, portanto, não poderiam ser readmitidos. xxx Nota (*) Clara Satiko Kano, 35 anos, psicóloga formada pela Universidade Federal do Paraná na turma de 1980, casada, duas filhas, ingressou na Cinemateca em 1979, como pesquisadora. Em parceria com a jornalista Colina Alvetti, fez a monografia sobre o pioneiro do cinema paranaense João Baptista Groff e o filme "Pátria Redimida", premiada e publicada pela Embrafilme ("Oito Estudos do Cinema Brasileiro", 1981). Sob coordenação de Valencio Xavier, participou do projeto "Criança e Cinema de Animação), desenvolvido nos bairros da cidade com ótimos resultados. Infelizmente sem continuidade na atual administração e arquivo da Cinemateca. Sem atritos de qualquer ordem, estimada e respeitada, sua demissão sumária - que Lucia Camargo/Celise Niero - insistem em manter é totalmente injusta.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
10/05/1991

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