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Aramis

Intrigas do Vaticano segundo Morris West

Lançado há menos de um mês, "O Milagre de Lázaro" escala as listas dos livros mais vendidos nos últimos dias e numa pesquisa informal sobre "qual o livro que você vai ler neste feriadão?", o romance de Morris West disparou na frente. Repete, assim, o bilionário escritor australiano, o mesmo sucesso que tem marcado suas obras anteriores - a partir de "As Sandálias do Pescador", há 27 anos passados - por sinal início da trilogia que prosseguindo com "Os Fantoches de Deus" (1967) é completada agora com "O Milagre de Lázaro". A jornalista Sônia Nolasco, mulher do ácido Paulo Francis e correspondente de "O Estado de São Paulo" (e no qual, estreou há uma semana, Francis) escreveu que de todos os livros de West traduzidos em 27 idiomas e best-sellers permanentes em 40 países, "os mais notáveis são os que envolvem intrigas do Vaticano". Assim, natural que West tenha voltado ao tema neste "O Milagre de Lázaro" (tradução de Pinheiro de Lemos, 352 páginas) que teve sua gênese em dois fatos isolados mas ocorridos ao mesmo tempo: uma cirurgia para implantação de ponte de safena a que Morris West se submeteu e o comportamento do papa João Paulo II - o polonês Karol Wojtyla, um cardeal polonês que chegou a papa (como acontecia com o personagem central de "As Sandálias do Pescador"). Como West, o papa Leão XVI, personagem central de "O Milagre de Lázaro", sobrevive a um ataque cardíaco, vivendo uma experiência próxima da experimentada por Lázaro na narrativa bíblica; como João Paulo II, o mesmo Leão XVI é um papa reacionário, obcecado pela disciplina, guiado pelo conformismo, que fez questão de atualizar o dogma da inefabilidade papal. A história começa quando o cardeal Ludovico Gadda, filho de camponeses italianos, torna-se o papa Leão XVI. Gadda faz do seu reinado uma volta aos princípios mais conservadores da Igreja, oferecendo aos fiéis uma imagem de força e invulnerabilidade. Mas sua fortaleza começa a tremer quando dores no peito o obrigam a se submeter a uma cirurgia para implantação de ponte de safena. Ele é internado na clínica do professor Salviati, judeu italiano, considerado o melhor cirurgião da Itália. Os problemas do papa, porém, não se limitam ao coração: uma nova organização muçulmana radical, conhecida como Espada do Islã, resolve assassiná-lo enquanto ele se encontra na clínica de Salviati, para insinuar uma nova traição judaica. Ahron Ben Shaul, chefe da Mossad em Roma, conhece os planos dos fanáticos muçulmanos e passa a proteger o papa. Um plot perfeito unindo religião, terrorismo, suspense - para deliciar os leitores que apesar do sucesso de seus romances, apenas dois foram levados a tela: "As Sandálias do Pescador" e "A Salamandra". Aos 74 anos, West - que teve formação religiosa (deixou o seminário antes da ordenação) foi correspondente do Vaticano e tem uma obra extensa que, só no Brasil, romances editados pela Record, atinge a 1,8 milhões de exemplares: "O Advogado do Diabo" (110 mil); "Arlequim" (162); "Concubina" (110); "O Embaixador" (180); "Os Fantoches de Deus" (102); "A Filha do Silêncio" (102); "Fora de Série" (40); "O Herege" (44); "Kundu" (50); "Um Mundo Transparente" (130); "O Navegante" (160); "O Preço da Honra" (45); "Proteu" (112); "As Sandálias do Pescador" (106) e "A Torre de Babel" (72).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
29/12/1990

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