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Aramis

Jaime, o prefeito que sabe amar bons filmes

Cinéfilo apaixonado desde a sua infância e que mesmo nos momentos de maiores compromissos sempre consegue encontrar tempo para assistir aos bons filmes em exibição (assim como nos dias mais cansativos em suas três campanhas eleitorais), o arquiteto Jaime Lerner tem todas as razões para fortalecer o cinema em Curitiba. Afinal, em suas administrações anteriores, preocupado com o fechamento das melhores salas (Ópera, Rivoli, Vitória, entre outras), foi quem estimulou as negociações para que na construção de grandes prédios - (como os da C&A e City Bank, na Rua XV de Novembro) fossem criadas condições para a cidade ganhar excelentes salas de exibição (Ritz e Luz, respectivamente). Foi também Jaime quem ajudou ao publicitário Sérgio Mercer, quando este presidia o Clube de Criação Publicitária, e ao arquiteto Rafael Dely, a fazerem um mutirão comunitário pelo reerguimento do prédio da Confeitaria Schaeffer (destruído num incêndio) que deu lugar ao Cine Groff. A Cinemateca - que oficialmente tem o nome de "Arnaldo Fontana" (em homenagem ao crítico e pesquisador de cinema, assassinado há 15 anos passados), foi implantada na administração de Saul Raiz, por iniciativa de Valêncio Xavier - mas também teve sempre apoio de Lerner. xxx Portanto, agora que pela terceira vez administra Curitiba, Lerner vê com preocupação o fato do circuito oficial dos cinemas (Curitiba é, aliás, a única cidade em que a Prefeitura possui cinco salas de exibição) não ter o rendimento cultural necessário. Jaime pensa, inclusive, em transferir a Cinemateca de suas acanhadas instalações no Museu Guido Viaro (cadeiras incômodas, escadas perigosas, dificuldades de acesso) para um espaço mais apropriado. Também o descuido em certas salas (no Groff, durante meses, poltronas estiveram quebradas e os banheiros nem sempre são limpos como deveriam), também irritam ao prefeito Jaime Lerner, que inclusive fez questão de nomear para o conselho da Fundação Cultural / Secretaria da Cultura, um de seus melhores amigos, o médico Maurício Brick, que como ele, é um apaixonado por cinema. Entretanto, com problemas prioritários - transporte, circulação, habitação, a campanha pró-Brizola e dificuldades políticas em alguns setores, etc., - Lerner não pode ainda se deter em questões menos prioritárias, como uma redefinição da política cinematográfica. Há idéias que o fascinam, como a instituição de um grande concurso (talvez dando como prêmio uma viagem a Hollywood) para estimular maior freqüência aos cinemas e um melhor preparo (inclusive na aparência, com o uso de uniformes) dos funcionários dos cinemas. Sem falar na política de programação dos filmes, que, por erros e dificuldades de relacionamento, obriga a maioria das salas a apresentarem reprises - ou, quando de eventos especiais (festivais, retrospectivas, etc.) penalizarem o público com horários incômodos. xxx Assim, a futura destinação de recursos do Fundo Municipal de Cinema deverá obedecer a critérios sérios, que reflitam realmente no estímulo aos cineastas aqui radicados. Por exemplo, com exceção de "O Mundo Perdido de Kozak", de Fernando Severo - que no ano passado teve o maior número de premiações em festivais nacionais - o Paraná está ausente de eventos cinematográficos. Quatro curtas em produção - "Lápis" (Nivaldo Lopes), "A Loira Fantasma" (Fernanda Montani), "A Flor" (irmãos Wagner) e "Sombras no Fim da Tarde" (Fernando Severo), estão com dificuldades de finalização por falta de recursos - e dificilmente estarão concluídos a tempo de disputarem o próximo Festival de Brasília (a partir de 26 de outubro). Se o Fundo de Cinema já existisse, estas produções (financiadas pela Secretaria Estadual da Cultura/ Fundação Nacional de Cinema - mas que não cumpriu a sua parte) já poderiam estar concluídas, inclusive a tempo de concorrer ao I Festival de Cinema Texaco - Cidade de Curitiba, que graças exclusivamente ao patrocínio da Texaco / Lufthansa e ao entusiasmo do colunista Alcy Ramalho Filho, inicia amanhã no Cine Ritz. Paralelamente, há uma nova realidade: o vídeo. O excelente equipamento com que Roberto Requião equipou seu gabinete - e que no apagar das luzes do seu governo transferiu para a Fucucu - está depositado no Solar do Barão, mas com uma utilização sobre a qual não se teve, até agora, maiores informações. E hoje, o vídeo é uma excelente escola para jovens interessados em trabalhar com as imagens - de forma que as câmaras e ilha de edição pertencentes ao município, adquiridas com recursos públicos, devem servir a quem de fato se dispõe a trabalhar na área - independente de simpatias ou "proteções" dos eventuais "donos" do poder cultural do município. Uma questão que também deve merecer atenção (e fiscalização) do prefeito Lerner, antes que vereadores atentos como Mário Celso sejam obrigados a exigirem informações oficiais. LEGENDA FOTO - Teresa Trautman - ao centro, olho no visor da câmara, entre dois assistentes - durante as filmagens de "Sonhos de Menina Moça", que concorre no I Festival de Cinema Texaco - Cidade de Curitiba.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
24/09/1989

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