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Aramis

Janet, a premiada com o Grammy e outros bons pop

Transmitido pela primeira vez, integralmente, para o Brasil, a 29ª Festa de Entrega do Grammy (Los Angeles, madrugada de 25 de fevereiro) valeu, entre outros motivos, como grande promoção de novos artistas americanos que vêm aparecendo nos últimos meses - ao ponto de ganharem as nominations para o chamado "Oscar" da indústria fonográfica. Numa festa bem organizada e com muita música, desfilaram também nomes já conhecidos, em números musicais incandescentes - e que ajudaram a catapultar os lançamentos fonográficos respectivos, entre os que já aconteceram e outros que devem ocorrer agora, passada a paralisação do mercado devido ao Carnaval e também (ainda) a falta de matéria-prima. Por exemplo, a Polygram na mesma semana do Grammy, colocava nas lojas o álbum de Janet Jackson ("Control", A&M/Polygram, fevereiro/87), uma das 65 premiadas daquela noite. Terceiro elepê solo de Janet, "Control" chegou rapidamente ao topo das paradas americanas. Ao lado dos músicos e produtores Jimmy Jam e Terry Lewis (também galhardeados com o Grammy em sua categoria), Janet produziu o álbum e escreveu quase todas as canções, investindo num funk eletrônico, altamente dançante. Segundo Antônio Carlos Miguel ("Jornal da Tarde", 25/02/87), ao contrário do flácido LP anterior ("Dream Street", 1984), Janet não parece mais preocupada em seguir os passos do irmão Michael Jackson e se formos pensar em influências a mais forte é a de Prince. É o caso, por exemplo, da segunda faixa, "Nasty", que já a partir do título (sujo, obsceno) nos remete ao ótimo lp "Dirty Mind" (1980). Mas, como diz Antônio Miguel, "o toque à la Prince não fica apenas nos temas das letras, também usando vocais em falsete e as intervenções nervosas dos teclados, enquanto a percussão eletrônica sustenta o hipnótico ritmo". Definida como "um Prince de saias, com a cara de Michael", Janet Jackson procura, entretanto, fugir a influência da importante família. Bonita, sensual, dança com equilíbrio e mostra muita garra. No mesmo pacote de lançamentos internacionais, a Polygram traz a surpreendente Gwen Guthrie ("Good To Go Lover", Polydor/Polygram), cantora de ótima voz e que vem de uma experiente quilometragem sonora (já vez vocais de apoio para superstars, de Aretha Franklin a Stevie Wonder, Roberta Flack, Quincy Jones e o jamaicano Peter Tosh). Foi, aliás, com Tosh, que ela começou a despontar, tendo participado dos álbuns "Mystic Man" (1979) e "Wanted Dream & Alive" (1981) - neste com um belo dueto na faixa "Nothing But Love". Em 1982, dois músicos do grupo de Tosh, Robbie Shakespeare e Sly Dunbar produzira seu disco de estréia ("Gwen Guthrie"), misturando reggae ao funk. O seu segundo disco ("Just For You"), com tendência pop-funk, foi produzido pelo brasileiro Eumir Deodato e Steve Stanley. Agora, neste "Good To Go Lover", Gwen assumiu a produção e assina três das oito faixas fazendo ainda os arranjos de base e vocais. Um destaque interessante é a versão modernizada de um dos mais belos temas de Bachcrach/David: "Close To You". As canções de Gwen são arrebatadoras, especialmente "Ain't Nothin'Goin'On But The Rent". CONJUNTOS - Além dos discos de Gwen e Janet, a Polygram traz álbuns de grupos interessantes. Por exemplo, os harmoniosos Communards (Jimmy Somerville/Richard Coles), com vocais suaves, jazzísticos - quase lembrando ao Manhattan Transfers em alguns momentos (embora com menor formação) se constituem num momento especialíssimo, com faixas próprias como "You Are My World", "Don't Sleep Away" e "Heavens Above". O som do Communards é tão interessante que merece sucessivas audições e justifica que se estabeleça as relações entre estes grupos e outros conjuntos vocais que sempre cultivaram a harmonia e o romantismo. Apesar da carreira individual de seus integrantes, o grupo inglês The Police continua a faturar também unido. "Every Breath You Tak-The Singles" (Polygram), com exceção da faixa "Don't Stand So Close To Me" (regravada especialmente para este álbum) reúne os compactos que o trio lançou entre 1978/83 em suas versões originais. Do som rústico da estréia (com influência punk) a baladas sofisticadas como "Roxanne", esta aliás a música de lançou o The Police, especialmente promovida quando a BBC não aprovou o tema da letra: a paixão de um sujeito por uma prostituta. Cada integrante do Police venceu também autonomamente. O baterista Stewart Copeland fez no ano passado um disco interessantíssimo, antecipando ao africanismo, que agora (especialmente após Graceland", de Paul Simon) começa a ter um marketing internacional: "The Rhyth-mists". Acompanhado do cineasta belga D. P. Dutilieux, Copeland embrenhou-se pela África, munido de equipamentos de som e vídeo, para "redescobrir a música, os ritmos africanos". Resultou um disco e vídeo (inédito no Brasil), com um som evocando os mistérios do Continente Negro. O guitarrista Andy Summers também partiu para um vôo solo, sem tantas viagens mas igualmente bem sucedido, enquanto que Sting é hoje um nome consagrado, não só como compositor-cantor, mas também ator, aparecendo em filmes como "Duna", de David Lynch, "A Prometida" de Franc Roddam (que fracassou em Curitiba, no Cinema I), e "O Mundo de uma Mulher", de Fred Schepsi - para só citar seus três trabalhos mais conhecidos. Portanto, este "Every Breath You Take" é um complemento a quem acompanha a carreira destes três artistas - e "The Singles" não deixa dúvidas sobre a liderança de Sting, baixista, vocalista e autor de todas as canções. Entre os destaques estão "Message In a Bottle" e "Walking On The Moon" (do segundo lp, "Teggatta De Blanc", 1979). Depois de dois discos de transição ( "Zenyatta Monatta" (1980); "Ghost In The Machine" (1981), eles voltariam a abrir novos caminhos com o excelente "Synchornicity" (1983), do qual, além de "Every Breath You Take", estão também nesta coletânea "King of Pain" e "Wrapped Around Your Finger". Para os que curtem a música pop, outro álbum dos mais interessantes é "Boucing Off The Stalites" com o grupo B-52 (Warner/WEA). Com 12 anos de estrada, o B-52, formado na Georgia, é considerado uma das mais originais bandas new wave dos anos 70. Quando chegou a Nova Iorque, em 1979, o grupo já tinha um público especial. Curiosamente, o nome do grupo surgiu num sonho do baterista Keith Strickland, no qual havia um conjunto cujo organista possuía o penteado bufante (igual ao que as duas moças do grupo usam). Acontece que na Georgia e outros Estados do Sul dos Estados Unidos, tal penteado chama-se exatamente B-52. Portanto, não há nada em relação com os aviões-bombardeiros americanos com esta sigla. O grupo é integrado por Kate Pierson (voz, órgão, baixo e guitarra), Fred Schneider (voz, piano, baixo), Keith Strickland (bateria/percussão), Cindy Wilson (voz, bongos, guitarras e tamborim), Ricky Wilson (guitarra e alarme de incêndio). O B-52 sempre utilizou os instrumentos mais insólitos possíveis em seu som - e buscou o humor e a sátira como, no Brasil, fez o Premê e o Rumo. Neste "Bouncing Off The Stalites", produção de Tony Mansfield, há faixas curiosas como "Theme For a Nude Beach", "Juicy Jungle" e "Sge Brakes For Rainbows". A CBS trouxe como novidade o grupo Huey Lewis & The News ("Fore!"), o quarto álbum desta banda, reunindo 10 canções inéditas, dentre baladas, R&B, rocks e outros, interpretados com a voz rouca de Huey Lewis. Temas dançantes como em "I Know What I Like", "Simple As That" e "Forest For The Trees", ou rocks pesados em "Whela Lotta Levin" e "Jacob's Ladder". Don Johnson, personagem principal do seriado "Miami Vice"(que, no Paraná, é apresentado pelas TVs Iguaçu/Tibagi/Naipi) é também cantor. E assim o detetive Sonny Crockett, responsável pelo recorde de audiência desta série de televisão, surge agora como cantor: Don Johnson em "Heartbeat" (CBS) alcançou os primeiros lugares das paradas em poucas semanas. Johnson convidou alguns amigos para participar de seu álbum de estréia: os guitarristas Steve Ray Vaughan, Ron Wood e Dickie Betts atuam juntos em "Love Roulette", um rock da pesada composto por Don e o baixista Leonard. Stevie Ray também toca em "Hearache Away", com Bonnie Raitt nos vocais (ele participa também em "Lost In Your Eyes", balada de Tom Petty). Bof Seger contribuiu em outra balada, no estilo country, "Star Tonight", Zappa toca guitarra em "The Last Sound Love Makes". "Coco Don't", "Voice On A Hotline", "Gott Get Away" e "Can't Take Your Memory" completam o repertório de "Heartbeat".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
7
08/03/1987

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