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Jeanne Moreau, diretora num filme que poucos assistiram

Reiniciando suas promoções cinematográficas, a Aliança Francesa trouxe nesta semana um filme dos mais interessantes - "A Adolescente" - segunda (e ao que parece última) experiência de Jeanne Moreau como diretora-roteirista. Hoje ainda, às 14 horas, haverá uma projeção na nova sede da Aliança (Rua Ubaldino do Amaral, 929) deste filme rodado em 1978; dois anos após Jeanne ter feito seu primeiro longa como realizadora - "Lumiére" (apresentado apenas na televisão no Brasil, com o título de "No Coração, a Chama"). Uma das mais notáveis atrizes européias, musa da Nouvelle Vague, Jeanne Moreau, 62 anos, 42 de cinema, é daquelas atrizes que teve a felicidade de fazer filmes marcantes, com os melhores diretores, no momento certo. Assim é que se sua estréia, em 1948, com "Dernier Amour", passou desapercebida, em 1954 já explodia em "Gisby, o Ouro Maldito" e num dos episódios de "Segredos de Alcova". Seria, entretanto, nos anos 50/60, que atingiria a grande fase de sua carreira, trabalhando em filmes marcantes como "O Salário do Medo", "Alma Satânica", "Ascensor para o Cadafalso", "Os Amantes" (de Louis Malle, 1958, cujas cenas de sexo o levaram a ser proibido em vários países, inclusive no Brasil), a primeira versão de "As Ligações Amorosas", 1959, de Roger Vadim e "Os Incompreendidos" (Les 400 Coups), o longa de estréia de François Truffaut. Mulher independente, desejando sentir a sensação de dirigir, fez dois longas: "Lumiére" trouxe uma trilha sonora marcante de Astor Piazzolla (com quem, na época, ele teria tido um caso), enquanto que "A Adolescente" representou um mergulho nostálgico na França rural dos dias que antecederam a II Guerra Mundial. Marie (Laetitia Chaveau), 13 anos, com seus pais - Jean (Jacques Weber) e Eva (Edith Clever), vai passar as férias no Interior, com a avó paterna, Mamie (Simone Signoret). Para Marie, saída de Paris, há o encontro da simplicidade da vida rural, as pessoas amigas, as outras crianças, mas também uma primeira paixão pelo médico Alexandre (Francis Hustler), que, ironicamente, se torna um amante eventual de sua mãe. "L'Adolescente" tem um toque que só uma mulher saberia transmitir. O rito da passagem de menina para a moça, a primeira menstruação, o amor, o desejo, são tratados com imensa ternura num filme em que há doçura e emoção em cada seqüência. Jeanne Moreau - que ao contrário do que havia em "Lumiére", não atua defronte às câmeras - mostra ter mão leve no desenvolvimento da história, tão identificada a uma forma natural de dizer as coisas que muitos viram nesta história toques autobiográficos. Em distribuição exclusiva pela Aliança Francesa, para exibição em cineclubes, cinematecas e salas de arte, "A Adolescente" mereceria ser visto por maior número de espectadores do que atraiu nas suas duas primeiras sessões na sede da Aliança (a sessão de hoje a tarde será bastante voltada aos alunos da instituição). Um filme de toques suaves, com belíssima fotografia de Pierre Gautard e uma magnífica trilha sonora de Philippe Sarde, que passados 11 anos de sua realização se constitui numa obra praticamente inédita. Assim como "Lumiére", exibido há anos, numa das redes de televisão, também foi visto por um público que não é, absolutamente, aquele que gostaria de curtir a Jeanne Moreau como realizadora, tanto quanto admirou-a como a grande atriz do melhor cinema francês em momentos clássicos como "Uma Mulher para Dois" (Jules et Jim). xxx Enquanto a Aliança Francesa promoveu nesta semana as três apresentações de "A Adolescente", há poucos metros, no auditório do Goethe Institut, realiza-se a mostra "A Fronteira Alemã no Cinema", com filmes inéditos, recentes, abordando aspectos das relações entre as duas Alemanhas - o que é especialmente significativo agora, com a queda do muro. Hoje, quinta-feira, será apresentado "Maria Morzek", 1976, de Horst Flick. Amanhã (sempre às 18h30 e 20h30), "Nenhuma Conclusão Aqui, Apenas Transição", 1977, de Reiner Wolfhardt. No sábado, "Uma Vez Ku'Damm - Ida e Volta", 1984, de H. Ballmann. xxx Hoje, nada menos que cinco importantes estréias no circuito comercial, o que obrigará os cinéfilos a desembolsarem mais de Cr$ 600,00 para assistirem aos bons filmes. No Bristol, o aguardadíssimo "Contos de Nova Iorque", em episódios de Woody Allen, Martin Scorcese e Francis Coppola ("Sociedade dos Poetas Mortos" continua com público e passa para o Cinema I). No Ritz, "Camille Claudel", do estreante Bruno Nuytten, que valeu a Isabelle Adjani a indicação ao Oscar de melhor atriz. No Condor, "Assassinato sob Custódia", de Euzhan Palcy, que com Marlon Brando aparecendo menos de 10 minutos, ganhou sua indicação ao Oscar de melhor coadjuvante. No Astor, Paul Newman e a ninfeta Lolita Davidovich em "Blaze, o Escândalo", com um tema bem atual - políticos envolvidos em tramas sexuais. No Plaza, finalmente, um filme questionando a justiça: "Justiça Corrupta", de um novo diretor, Joseph Ruben. Portanto, uma semana apetitosa em termos visuais. LEGENDA FOTO - Marlon Brando aparece menos de 10 minutos em "Assassinato sob Custódia" (Cine Condor, a partir de hoje) teve indicação ao Oscar de melhor coadjuvante - que foi entretanto para Denzel Washington Jr. ("Tempo de Glória").
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
17/05/1990

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