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Joffre, o homem, o sonho & o teatro

Na próxima sexta-feira, dia 10, quando o musical "Arena Conta Tiradentes" de Boal Guarnieri-Lobo; estrear no palco do Teatro de Arena em Jacarezinho, não será apenas o diretor Oracy Gemba que merecerá aplausos. Tanto - ou mais que ele - os cumprimentos devem ser endereçadas a um humilde funcionário da Prefeitura daquela cidade, aposentado há 3 anos, gordo, pequena estatura, que é uma espécie de símbolo do teatro amador, feito sem interesses financeiros, apenas por amor e entusiasmo: Joffre Elias, 57 anos, fundador e presidente do Conjunto de Amadores de Teatro desde a sua criação, a 1º de julho de 1955. Nos últimos 22 anos, Joffre Elias tem vivido apenas em função de um sonho: construir um grande teatro de 500 lugares. Solteiro, tesoureiro-chefe da Prefeitura de Jacarezinho durante 36 dos 42 anos que ali trabalhou, Joffre Elias é o grande condutor de uma obra que vem sendo erguida, tijolo a tijolo, graças ao seu esforço, com apoio da comunidade de Jacarezinho. Dos Cr$ 3 milhões até agora investido no teatro, apenas Cr$ 500 mil de subvenções oficiais. O saldo foi obtido das mais suadas maneiras - promoções culturais, rifas, mensalidades de associados (são 250 atualmente) e o "Baile do Texas", há 17 anos promovido e acontecimento importante na região. *** O conjunto de Amadores de Teatro de Jacarezinho foi fundado em 1955 e desde então Joffre luta pela construção do teatro. A pedra fundamental foi lançada a 2 de abril de 1960, a 15 de fevereiro de 1961 foram iniciadas as obras que, naturalmente sofreram inúmeras paralisações. Finalmente, em 24 de outubro de 1970 foi inaugurado o teatro de arena, com 200 lugares e considerado um dos melhores do País. Desde então, é intensa a atividade naquele teatro - sem esquemas oficiais, apenas motivado pelo entusiasmo de Jofrre e seus colaboradores. Agora, com novos recursos do Serviço Nacional de Teatro e Fundação Teatro Guaíra, as obras são reiniciadas e, salvo novos imprevistos, a inauguração do auditório de 500 lugares ocorrerá em março de 1978. *** Esforços como o de Joffre Elias são raros no Brasil, onde a política cultural, ao menos no Paraná, faz lembrar a frase de um personagem interpretado por Eddie Constantine, no filme "O Desprezo"(Le Mepris, 1963, de Jean Luc Godard): "quando ouço falar em cultura pego logo o meu talão de cheque". Pois Elias, idealisticamente, sonhou em construir um teatro - não para si, mas para sua comunidade. E está conseguindo faze-lo, pedra, tijolo a tijolo, com a argamassa do entusiasmo e do amor. FOTO LEGENDA- Teatro de Jacarezinho: tijolo a tijolo, construído com o entusiasmo da comunidade. Sexta-feira pela manhã, ao sair de sua casa, no Rio de Janeiro, Victor Assis Brasil quase quebrou o indicador da mão esquerda, num pequeno acidente automobilístico. Chegou a Curitiba, à tarde, com o dedo enfaixado, mas a partir das 21h20min. No Guaírão, ninguém percebeu este detalhe: ao saxofone e piano, mostrou a mesma criatividade que o faz um dos mais admiráveis instrumentistas brasileiros. O público que soube assistir a sua única apresentação foi reduzido - menos de 400 pessoas - mas, em compensação, bastante interessado: com exceção de meia dúzia de cocotinhas acompanhados de despersonalizados rapazes de bonés (a nova moda da "atualidade" jovem) e ralas barbas, que deixaram o auditório, incapazes de "entender" o som", os presentes acompanharam com o máximo interesse o concerto coerente, tecnicamente perfeito do quarteto: Victor no sax-piano, Hélio Delmiro na guitarra, Paulo Laijão na bateria e Paulo Russo no baixo. Seria injusto mencionar o concerto como de Victor e seus músicos, pois realmente, em que pese o natural destaque do saxofonista, o espetáculo teve uma igualdade instrumental difícil de ser encontrada: cada um foi responsável pelo altíssimo nível instrumental da noite. A abertura com "Waving", seguida de "Epistrophy", ambas composições de Victor, seguiu-se o primeiro número solo: "All The Things You Are" de Jerone Kern (1885-1945), na emocionante execução de Hélio Delmiro, 30 anos, 16 de vida profissional, hoje, sem dúvida, um dos maiores virtuoses da guitarra no Brasil. Com a sensibilidade de um Django Reinhardt (1910-1953) e a segurança de um Wes Montgomery (1925-1968) - aliás os dois instrumentistas que mais o influenciaram - Delmiro foi, sem dúvida, um momento especial na noite, numa colaboração que voltaria a exibir no número seguinte, "Ballad To Nadia", em dueto com Victor "Night and Day" (Cole Por ter), numa recriação toda especial encerrou a primeira parte. No retorno, a abertura foi com novo tema de Victor: "Pro Zeca", ao qual se deveria seguir a "Suite Para Piano e Guitarra". Mas da platéia alguém pediu "Marilia", uma das faixas do 5º lp de Victor ("Esperando", gravado em 1970, lançado no ano passado pela Tapecar, mas do qual não chegou nem um exemplar nas lojas da cidade) e o tema entrou no programa. Em seguida, outro momento de virtuosismo: Laijão na bateria e Russo no baixo, em dois temas longos e altamente desenvolvidos, com o feeting que se exige dos grandes instantes jazzisticos. O mesmo clima de sentimento envolveu o tema-solo "Pedrinho", com Victor, desta vez, exibindo-se exclusivamente ao piano - instrumento que domina tão bem quanto o saxofone. E, encerrando a noite, um "Blues" da maior voltagem, em que se teve, mais uma vez, a fusão perfeita dos quatro instrumentistas. Espetáculos como o de sexta-feira à noite são eventos de especial significado. Só graças ao entusiasmo de J.D. Baggio, diretor-artístico da Fundação Teatro Guaíra, foi a produtora-empresária Gaby Leib incluiu Curitiba no roteiro de apresentações que o grupo vem fazendo por todo o País. Já em 3 ocasiões anteriores, trazendo nomes internacionais (Charles Tollier, 1971; Horace Silver, 1974 e Art Blakey, 1977), Gaby teve grandes prejuízos em Curitiba. Apesar disso acorajou-se mais uma vez e, embora, infelizmente se confirme mais uma vez a impermeabilização do público curitibano para espetáculos musicais de nível superior, o clima artístico obtido foi tão bom que o esforço compensou. Victor Assis Brasil embarca em julho para Nova Iorque, de onde segue como um dos Messengers do grupo de Art Blakey, em excursão a Ásia. Delmiro vai cuidar da gravação de seu primeiro lp-solo e Laijão e Russo, unidos a Paulo, um pianista recém-chegado dos EUA, formam um trio que talvez retorne a Curitiba. Apesar do grande público da terra ainda preferir as Perlas e Benitos Di Paula do que os espetáculos como o de sexta-feira. E por essas e outras, Charlie Mingus só passou pelo ar sobre Curitiba e o mesmo talvez ocorra com Dave Brubeck, Count Bassie e Ella Fitzgerald.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
05/06/1977

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