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Aramis

Jornal da Tela

Com números na mão, João Aracheski, executivo da Fama Filmes no Paraná e Santa Catarina, lamenta informar: se, em 90 dias, a renda do Cinema 1 continuar em vermelho, Curitiba perde seu único cinema de arte e ganha mais uma casa de pornochanchadas e filmes na linha Kung-Fu, em sessões corridas, como os poetas Arlequim, Scala e Glória. Comparando não a São Paulo ou Rio - metrópoles que comportatam o funcionamento de casas especializadas em filmes de arte mas com cidades como Porto Alegre, Belo Horizonte , Recife e Salvador, Aracheski indaga: onde está o público que vive a exigir bons filmes? *** As rendas do Cinema 1 têm sido baixas, muitas vezes até ridículas. Não apenas de filmes nacionais - como "Um Homem Célebre" que em 7 dias não chegou sequer a Cr$ 3 mil, inferior ao gasto da publicidade feita nos jornais - mas também de produções americanas, muitas retiradas de cartaz no segundo ou terceiro dia (os filmes nacionais, por força de lei, não podem ser retirados de cartaz antes de completar uma semana). O próprio grupo Cinema 1, dirigido pela sra. Hanny Rocha, no início associado à Fama Filmes, desiludiu-se de Curitiba, como praça para produções de categorias. As baixíssimas rendas desistimulam distribuidores independentes, como Valencine, da Franco-Brasileira, a permitir a reprise em Curitiba de filmes importantíssimos como "Uma Mulher Para Dois" (Jules et Jim) de Francois Truffaut, "O Ano Passado em Mariembard" de Alain Resnais e "Grilhões do Passado" (Confidencial Reporter) de Orson Welles, 3 entre dezenas de filmes do maior significado, constantemente programado nos cinemas de arte do eixo Rio-São Paulo. Aracheski lançaria esses filmes em Curitiba, mas, infelizmente parece não haver interesse do público que prefere as pornochanchadas, os filmes de violências ou as baboseiras estilo "Love Story", cuja reprise no Lido, há 2 semanas, rendeu mais Cr$ 300 mil. *** Uma nova experiência será testada no dia 11, sábado, no cine Astor, com a representação de "Armaecord", de Frederico Fellini - o melhor filme lançado no Brasil em 1975. Será feita uma única sessão às 24 horas e, havendo bom resultado, a experiência prosseguira com reprise de filmes de Polanski, Bunuel e Bergman, sempre aos sábados, à meia-noite. Sem dúvida o horário limita um pouco o público interessado, mas é o que se pode fazer, de momento. No Cinema1, até agosto continuarão a serem apresentados filmes de categoria mas, repete Aracheski, se as rendas continuarem negativas, não há outra solução: ao invés de filmes de Altman, Bertolucci e Banuel, ali teremos fitas como "Os 7 cavaleiros do Kung-Fu", "Cada Um Dá O que Tem..." , "Assim Nem a Cama Aguenta" etc. *** Falando em cinema, a situação é mesmo desanimadora: dos 29 espectadores que compareceram domingo à noite na Sala Arnaldo Fontana para assistir "Soberba" (The Magnificent Ambersons, 1942, de Orson Welles) - em cópia dublada - mais de 10 deixaram a sala, antes do filme terminar. Hoje será exibido, pela segunda vez, um filme nacional inédito em circuitos comerciais: "O Mundo de Anônimo Júnior", 1969, de Aaron Feldman. Amanha. A pornochanchadas "As Alegres Vigaristas", de Carlos Alberto de Souza Barros, com José Lewgoy, Djanene Machado e Iriz Bruzzi, seguida de debates. Na sexta-feira, a chance de se conhecer um filme paranaense de muitas estórias: "Maré Alta", produzido em 1967, de uma idéia de Carlos Eugênio Contin (que começou a dirigi-lo, mas que se afastou da produção por desentendimentos), concluídos graças aos esforços de Rubens Mendes de Moraes, José Vedovato e do próprio ator Egidio Eccio. O filme foi rodado em Paranaguá e na Ilha das Cobras, tendo quase levado a falência o seu principal produtor - Rubens de Moraes, coronel da Polícia Militar, hoje diretor-geral da Secretaria da Justiça. Eugênio Contin foi convidado para o debate após o filme. Por que não convidam também Rubens Mendes de Moraes? No jodo comercial da música popular há uma constante renovação dos intérpretes que se destinam a chamada classe "c", com músicas de fácil comunicabilidade com o público humilde, principalmente dos bairros, mas nem por isso deixa de comprimir seu orçamento para adquirir os discos dos "ídolos" do momento. Ao Orlando Dias ou Anísio Silva do início dos anos 60, sucederam-se dezenas de nomes, com maior ou menor permanência e hoje, ao lado de Agnaldo Timóteo, Balthazar, Daniel, Erasmo Carlos, José Ribeiro, Raimundo José e tantos outros, destaca-se Sidney Magal, cujo índice de popularidade pode ser avaliado no seguinte dado: "Meu Sangue Ferve Por Você", um de seus sucessos, foi executado, apenas em um mês, anda menos que 645 vezes nas emissoras de Curitiba - graças, é claro, ao bom trabalho promocional desenvolvido por Roberto Berro e sua equipe da Phonogram. Mas o grande lançamento, em termos de consumo, de Magal foi "Se Te Agarro Com Outro Te Mato"- título que já define o seu estilo. Hoje, Magal chega a Curitiba, para, junto com Berro e Célia, desenvolver um bom trabalho de promoção de seu disco e novo compacto. _____________________ A noite veio na noite de sexta-feira: morreu o Capitão Furacão. Depois de meses de grave enfermidade - com ocasionais melhoras - Sérgio Queirolo, 44 anos, faleceu cercado do carinho de centenas de amigos, que sábado o acompanharam o seu seputamento. As palavras pouco podem traduzir da tristeza de quando morre um homem que, mantendo uma tradição familiar, dedicou toda sua vida ao entretenimento popular, principalmente das crianças, com os quais sempre teve fascinante comunicação, seja na televisão - com a criação do "Capitão Furacão", nas festas que comparecia e nos circos - onde, ao lado de seu irmão, Lafayette, primos, pais e tios, nasceu e cresceu. Felizmente, Sérgio teve a alegria de, no ano passado, ver reinaugurado o circo da família - hoje com o nome de "Chi-Chic", seu tio e grande inspirador. Que, apesar da dor da família, já na próxima semana volta a funcionar. Afinal, as lágrimas dos palhaços o público não vê e o show não pode parar. ____________________ O Banco Safra, que hoje inaugura suas novas instalações na Rua Marechal Deodoro - em sede própria - preocupa-se em prestigiar as artes plásticas: o convite traz a reprodução de um óleo de Portinari, integrante de seu acervo, e, na loja, encontra-se um grande painel, na linha "óptica art", desenvolvido pelo artista paulista Lothar Charoux, de São Paulo, que desde sábado está na cidade, trabalhando em sua montagem. Falando em artistas, José Feferbaun, proprietário do Estúdio de Artesanato Tacto (Avenida João Gualberto, 1660), que se fixou em Curitiba após 11 anos de permanência em Tel Aviv, onde desenvolveu seus estudos na criação de trabalhos em cerâmicas, trouxe agora um colega, o torneiro paulista Ítalo Mazolim, especialista em criação de objetos em barro, com o qual vem produzindo novas exclusividades.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
07/06/1977

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