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Aramis

Jornalismo econômico e a notícia como produto

Campo árido, de leitura dirigida para segmentos muito específicos, o setor econômico adquiriu, nos últimos anos, a condição de vedete na imprensa. Quem imaginaria, há 15 ou mesmo 10 anos, que as cadeias de televisão abririam nobres espaços para informar sobre o complexo mundo das finanças e que páginas inteiras nos jornais diários, com as dicas para melhor aplicação dos (pouco) cruzados que eventualmente sobram, passariam a ter um número de leitores cada vez maior? A força dos jornalistas especializados em economia é cada vez maior dentro da valorização que a informação correta, honesta e independente vem obtendo - numa mostra do amadurecimento do mercado e novos interesses dos leitores (e telespectadores). O jornalista Ilson Almeida, editor de economia de "O Estado do Paraná", com mais de 30 anos de imprensa, é uma prova disto: semanalmente recebe convites para fazer artigos especiais para diferentes publicações, além de propostas para elaborar livros - inclusive um sobre o fenômeno da industrialização de Toledo. Assim, o aparecimento de "O Jornalismo Econômico no Brasil depois de 1964", do jornalista Aylê-Salassiê Filgueras Guintão (Livraria Agir Editora, 214 páginas) é significativo, pois numa linguagem objetiva e agradável, o autor - ex-coordenador de comunicação Social do Ministério da Reforma e Desenvolvimento Agrário na gestão do ministro Nelson Ribeiro, ex-repórter da "Folha de São Paulo" (por 14 anos) e atualmente cobrindo o Palácio do Planalto, em Brasília, para o "Diário Popular" (São Paulo) e o "Jornal de Brasília", discorre sobre o papel desempenhado pelo jornalismo econômico a partir dos anos 60. Com o relato de fatos político-econômicos e depoimentos de economistas, editores e outras pessoas ligadas a área, Aylê-Salassiê faz uma retrospectiva econômica, abordando o boom da Bolsa, o milagre econômico, a política e a própria sistemática da informação da área econômica - numa contribuição das mais interessantes para a bibliografia da comunicação. Significativo também que a Agir, tradicionalmente uma editora reservada em seus lançamentos, comece a abrir sua produção para livros atuais como este "Jornalismo Econômico no Brasil". A bibliografia sobre a comunicação tem crescido nos últimos anos e uma das editoras que mais tem contribuído para que se tenha cada vez mais (e melhores) textos referenciais é a Summus, que em sua coleção "Novas Buscas em Comunicação" já editou 24 títulos - com as mais diferentes abordagens. A esta coleção acrescentou neste início de ano a segunda edição, revista e ampliada, de "Notícia: Um Produto à Venda" (192 páginas, Cz$ 670,00), onde Cremilda Medina propõe um modelo de análise de fenômeno jornalístico que esclarece vários aspectos do processamento da notícia. Elaborada a partir da tese de Mestrado de Cremilda Medina, ex-repórter e editora de arte e cultura de "O Estado de São Paulo", defendida há 13 anos na Universidade de São Paulo (onde é professora na Escola de Comunicação e Artes), este texto é dos mais interessantes pela abordagem que propõe. Ao contrário da orientação normalmente dada aos estudos sobre a imprensa, como fenômeno inserido na indústria cultural, em que os esquemas de reflexão sobre o jornalismo raramente se aproximam do processo interno de elaboração da notícia, em "Notícia: Um Produto à Venda", o tratamento das informações jornalísticas é abordado no próprio âmbito das redações, onde se cria e formula um produto para a venda em banca: a notícia.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
05/02/1988

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