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Jornalistas reunidos sob o sol da Amazônia

MANAUS - Hoje à noite, com um churrasco de Tambaqui no Bosque da Ponta Negra, encerra-se a XI Conferência Nacional dos Jornalistas Profissionais, com a posse da nova diretoria da Federação, presidida pelo paranaense Ayrton Baptista. Durante três dias, quase duas centenas de profissionais, representando todos os Estados, discutem o objetivo temário do encontro: exercício da profissão, formação profissional, atuação da Federação Nacional dos Jornalistas Profissionais e liberdade de imprensa, esta a grande temática da conferência. Já na sessão solene de abertura, realizada quinta-feira à noite no luxuoso Hotel Amazonas, o tema liberdade de imprensa versus censura foi a tônica de dois dos mais aplaudidos discursos: o jovem Mesaias Sampaio, do Sindicato do Amazonas organizador da Conferência, falou, com sinceridade, que "não é hora de discursos bonitos quando há prisões de jornalistas e se torna cada vez mais difícil o exercício da profissão. Precisamos encarar o problema com seriedade e tomar as decisões que levem as autoridades a reconsiderar o que tem sido feito e que vem dificultando o trabalho dos jornalistas". Audálio Dantas, presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, calmo e ponderado, também lembrou em sua oração, falando em nome dos profissionais da região Centro-Sul, destacando o momento importante que a imprensa brasileira se defronta, "sendo mais do que nunca necessário de uma posição lúcida e equilibrada". Joezil Barros, presidente da Federação, que transmite o cargo a Ayrton, iniciou sua oração lembrando que "todos nós, jornalistas brasileiros, lutamos para atingir a plenitude de uma atividade profissional, onde os salários sejam compatíveis com as responsabilidades assumidas pelos que se propõem a exercer um jornalismo correto, onde o trânsito às fontes de informação e a divulgação dos acontecimentos não sofram obstruções técnicas". O temário da Conferência repete, evidentemente, a de outras reuniões, conferências e congressos. Infelizmente, porque os problemas continuam os mesmos: baixos salários, descumprimento do Decreto-Lei que regulamentou a profissão e, principalmente, a luta pela liberdade de imprensa. Os sindicatos do Rio Grande do Sul e São Paulo trouxeram substanciosas teses a este respeito, levantando agora um novo enfoque da censura: a sua ação no rádio e televisão, o que é particularmente importante num país com percentual muito elevado de analfabetos e de semialfabetizados, em que o conjunto de todos os meios impressos de informação atinge a um potencial de leitores que não vai além dos 20 por cento da população. "Censurar rádio e televisão é tirar a única fonte de informação disponível ao povo", frisam os autores da tese apresentada pelo Sindicato Gaúcho, acrescentando: "O rádio atinge a 80 por cento da população brasileira e os 12 milhões de aparelhos de televisão têm um público potencial de 45 milhões de espectadores". As teses, discutidas exaustivamente ao longo das sessões de sexta-feira e sábado, trazem relatórios de várias ações da censura no rádio e na televisão, em vários Estados, exercida de várias formas, "a começar pela própria natureza da propriedade nesses meios de comunicação". O controle começa na concessão dos canais a título precário, deixando ao Estado todo o poder sobre as emissoras. A concessão pode ser suspensa ou cassada a qualquer momento, "o que deixa as emissoras permanentemente sujeitas ao arbítrio do poder e os seus proprietários submetidos ao temor da perda do canal, que poderia decorrer, entre outras coisas, da transmissão de informações consideradas críticas ao governo". Com uma organização perfeita em que o conforto perfeita em que o conforto das instalações da Superintendência da Zona Franca de Manaus - onde se realizam as sessões - ameniza o calor de 35 graus, a XI Conferência Nacional dos Jornalistas Profissionais teve o seu belo símbolo - o sol vermelho da Amazônia sobrevoado por uma pomba branca - criado pelo publicitário Alípio Domingues, paranaense de Assaí, 34 anos, que até o ano passado residia em Curitiba, trabalhando como publicitário e "designer" para várias agências. Explica o símbolo da Conferência por suas características e apesar da existência de algumas idéias e associações básicas que originaram, admite interpretações sob os mais diversos ângulos e níveis, de acordo com a "posição do observador".. Santa Catarina participa da Conferência com duas delegações: uma, pelo Sindicato, com o presidente Moacir Pereira, Hugo Silveira Lopes e Antônio Kowalsky Sobrinho, e outra, da Casa do Jornalista, integrada pelo presidente José Nazareno Coelho, mais Vânio Costa e José Carlos Soares. Divergências profundas separaram a atual diretoria do Sindicato da Casa do Jornalista, em Florianópolis, trazidas agora a nível nacional. Enquanto Pereira trouxe duas contribuições à Comissão de Liberdade de Imprensa, uma delas sintetizando as conclusões da II Semana Catarinense de Jornalismo e um informe sobre o Dia Catarinense da Imprensa, a delegação paralela, da Casa do Jornalista, veio municiada de material crítico à atual administração daquele Sindicato, até o momento não distribuído aos participantes da Conferência. O Paraná, com uma delegação de cinco participantes - Ayrton Baptista, Danilo Cortes (presidente e conselheiro eleitos da Federação, respectivamente), Sandra Wambier, Sidney Davidson Santos e Aramis Millarch, participa das comissões com várias contribuições - moções e teses, principalmente nas comissões de exercício e formação profissional do jornalista.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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Tablóide
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28/08/1977

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