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Aramis

Kitaro, a "new age music" da esperança

É uma pena que a Rádio Estadual, a eterna ausente da vida cultural curitibana, não tenha, até agora, sequer se interessado pelo projeto da jornalista Myrna Gytszch, que há 4 meses vem apresentando pela FM Eldorado, de São Paulo, o programa "Música da Nova Era". Após ter morado por cinco anos na Califórnia, Myrna retornou trazendo o que há de mais up to date aquilo que se chama de New Age Music, com propostas inovadoras de instrumentistas originais e criativos, que tem buscado uma linha soft, relaxante em termos musicais. Alguns dos primeiros intrumentistas - compositores nesta linha começam, mesmo que timidamente, a terem seus discos editados no Brasil - numa conquista de mercado que poderá crescer em pouco tempo. A WEA, por exemplo, acaba de lançar o seu mais recente álbum ("Tenku", Geffen/WEA) - enquanto no Japão, simultaneamente, são reeditados em laser, seus elepês gravados nos últimos anos. Isto representa, ao público brasileiro a oportunidade de conhecer uma forma musical totalmente inovadora. O trabalho de Kitaro penetra no subconsciente do ouvinte e cria uma sensação de paz e harmonia. A natureza sempre esteve presente em sua infância. Filho de uma família de camponeses, ele nasceu (1953) e foi criado em uma espécie de isolamento bucólico na região de Toyohashi Prefecture, no centro do Japão. A música entrou em sua vida relativamente tarde, quando ganhou uma guitarra elétrica, no ginásio. Autodidata, apaixonado pelo rhythm & blues, ouvia muito Ottis Redding e outros sucessos da época. Ele não vê nenhuma ironia no fato de que um músico japonês, que passou a ser conhecido como inovador tecladista da música eletrônica, tenha iniciado pelo R&B americano. Seu primeiro grupo foi o Albatross, quando ainda era adolescente. No início de 1970, gravou com um grupo chamado Far East Family Band, chegando a fazer dois álbuns ("Eu já tocava teclados e apresentava um esboço da música impressionista que mais tarde iria se definir como meu estilo"). Em 1972, Kitaro viajou para a Europa e teve um encontro importante com Klaus Schulze do pioneiro grupo eletrônico Tangerine Dream. O que mudou sua perspectiva musical e também sua vida. - "Vi como ele podia criar sons diferentes com o sintetizador e fiquei fascinado. Quando voltei ao Japão, comecei a combinar esta técnica com a minha própria inspiração. Na verdade não estudei nada e nessa época parei de ouvir a música feita por outras pessoas. Na época, Steve Wonder e Keith Emerson popularizavam o sintetizador na América e Inglaterra - e Kitaro fazia o mesmo no Japão. Os japoneses ficaram fascinados pelos seus "quadros sonoros". Em uma época em que a tendência musical era jogar os decibéis cada vez mais para o alto, lucidamente ele dizia: - "Não quero ferir os tímpanos das pessoas." Em 1978, com o lançamento do lp "Tenkai", a crítica caracterizou sua música de esotérica, porque tentava unir imagens e temas da vida e do cosmos. Mesmo assim, conseguiu se tornar popular - e seus discos foram bem aceitos. - "Foi difícil para os críticos me enquadrarem em uma categoria pois sou um músico da nova cultura. A história e a sociedade japonesa são muito coloridas, muito perfeitas mas, no Japão moderno, tudo foi virado de cabeça para baixo para competirmos com o mundo ocidental. Eu quero que meu povo se lembre do que passou. Seus álbuns sempre foram construídos em torno de um única tema. "Astral Voyage" fala sobre a relação homem/universo. "Full Moon Story" é a contemplação da lua cheia. Criou trilhas sonoras para séries de televisão ("Sil Road", 1970), desenhos animados ("Queen Millennia", 1982) e fez extensas tournées pelo Japão. Agora, contratado da Geffen Records, seu elepê "Tenku" versa sobre imagens e impressões da infância. Para maior autenticidade são inclusive utilizadas vozes de crianças. Até agora, Kitaro tem preferido gravar em seu estúdio de 24 canais, em Matsumoto, onde abre as janelas e deixa entrar o vento, o canto dos pássaros, o barulho das folhas. "A natureza atua sobre a música e a música sai pelas janelas e atua sobre a natureza", diz. Kitaro possui uma visão da paz do mundo que direciona sua música e estabelece um traço de união em sua vida. - "As pessoas carregam a guerra dentro de si. Quero criar músicas que diminuam esta guerra interior (...), Minha paz interior provém da compreensão de que sou igual ao mendigo das ruas de Calcutá. A música possui uma capacidade transformadora. É possível mudar o karma de alguém através da música. Sei que isto é possível porque aconteceu, comigo." LEGENDA FOTO - Kitaro: suavidade oriental.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
7
17/05/1987

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