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Aramis

Lançamentos à portuguesa com filmes de todo mundo

Quando a esmola é demais, o espectador desconfia! Pois é! A mesma Fucucu quer há três semanas desperdiçou, por absoluta falta de iniciativa, o documentário "Shoah", de Claude Lanzmann (Cine Groff, agora a segunda parte em exibição prevista para duas semanas), num boicote em relação a comunidade israelita de Curitiba - que deveria ter sido agilizada para agilizar a temporada de um filme desta importância - agora inundou as salas da Cinemateca e Ritz com duas programações importantíssimas, mas que exigem um tour-de-force dos mais entusiasmados cinéfilos para poder ser acompanhada. Na incômoda e desconfortável Cinemateca, inicia terça-feira, dia 7, uma Semana do Cinema Português, com três filmes inéditos e representativos da cinematografia daquele país. Há muito que insistimos da importância de mostras de filmes trazidos por representações diplomáticas terem exibição em salas normais, com mais de uma opção em horários para o público, já que representam, na maioria das vezes, a única oportunidade de se conhecer obras que normalmente não terão lançamento comercial. Alega a diretoria da Fucucu que foi o próprio Sr. Cônsul de Portugal que teria "exigido" a Cinemateca para a mostra dos filmes "O Meu Caso", 86, de Manoel de Oliveira (dias 7 e 8, 20h30); "Tempos Difíceis" 87, de João Botelho (dias 9 e 10) e "O Desejado ou as Montanhas da Lua", 87, de Paulo Rocha. Difícil entender que um diplomata culto, sintonizado com a importância de que filmes que mostram obras de cineastas portugueses levados a vários festivais internacionais, sejam massacradas em sessões numa sala tão incômoda, em poucos horários, como acontecerá com estes três filmes. Afinal, existe um público em potencial interessado em conhecer tantos filmes do veterano Manoel de Oliveira - um dos mestres do cinema lusitano - como o premiado João Botelho, de "Tempos Difíceis", baseado em romance de Charles Dickens (e que foi apresentado no FestRio-89). Portanto, mais uma vez, uma boa promoção cultural, trazida por um país estrangeiro, se perde em sua apresentação improvisada, em Curitiba. O pior, porém, é que esta Semana do Cinema Português, coincide com a abertura de uma síntese da XIII Mostra Internacional de Cinema. Graças ao generosíssimo patrocínio do Banestado, a Fucucu viabilizou NCz$ 200 mil para trazer a Curitiba 20 dos 100 filmes que Leon Cakoff apresentou na capital paulista, durante as últimas semanas. O projeto de incluir Curitiba na amostragem de Cakoff era antigo e as negociações foram conduzidas meio na base do segredo, aceitando, afinal, a Secretaria da Cultura, as exigências do produtor daquele evento. Desconhece-se quais os critérios de seleção dos filmes que a partir de segunda-feira, 6, estarão sendo exibidos no Cine Ritz. Há produções que poderiam sair de São Paulo, outras que já estão com seu lançamento comercial garantido através da venda dos direitos a distribuidoras (inclusive para vídeo) - mas o frisson que o evento, mesmo que reduzido provoca entre os cinéfilos tupiniquins é imenso. A abertura não será mais com "A História do Vento" documentário-testamento de Joris Ivens (1898-1989), que sua companheira e colaboradora, Marceline Loridan, 61 anos, trouxe pessoalmente ao Brasil, e que acompanharia a Curitiba. Para atrair o público mais jovem, a mostra será aberta com "Mistery Train", de Jim Jamuschi ("Daunbailô", "Estranhos no Paraíso"), que foi o filme mais badalado no festival de Cannes deste ano - e que já está sendo negociado para lançamento comercial no Brasil. Terá uma única exibição (dia 6, 19h30), antecedido do curta "Pas a Deux", Holanda, 88, de Renault e Gerrit Van Dijk (Urso de Ouro no Festival de Berlim, 1989). Na segunda-feira, às 22h, o curta canadense "Naddles", de J. Falconer, e "Heavy Petting", EUA, 88, de Obie Bens - este em versão original. Desde o início da semana, a imprensa está dando uma generosa divulgação ao evento - o que deverá garantir casas lotadas, ao menos para os filmes badalados. Durante a mostra, em São Paulo, a "Folha de São Paulo", "Jornal da Tarde" e "O Estado de São Paulo", deram intensa cobertura a todos os filmes apresentados, o que ajuda, obviamente, que este evento, mesmo que reduzido, tenha um boa repercussão. Até o próximo dia 1º, em programas alternados - com direito a reprises de alguns títulos - filmes de diferentes países, alguns legendados em portugues, inglês ou francês, outros em versões originais (sem legendas) mostrarão um pouco do que há de mais up to date na produção cinematográfica - levada aos festivais internacionais dos últimos meses. É válida a iniciativa da Fucucu em mesmo investindo uma elevada soma (subvencionada pelo Banestado) para trazer a Curitiba uma parte dos filmes que Cakoff, em suas andanças internacionais, consegue para sua hoje a consagrada mostra paulista. Justificou-se, inclusive sua realização meio improvisada, em termos locais, como uma experiência para tentar fazer com que em 1990 a mostra possa ser apresentada integralmente em Curitiba. Será ótimo. Merecerá nossos aplausos. Só que para um setor que tem mostrado tantas fragilidades, desperdiçando oportunidades diversas e valorizar filmes especiais, a tentativa de fazer um salto em altura como este nos parece, de momento, bastante arriscada. Vamos ver os resultados e torcer para que o dinheiro investido - afinal nunca houve uma subvenção tão grande para que filmes estrangeiros viessem para pouquíssimas exibições na cidade - esteja sendo bem aplicado.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
04/11/1989

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