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Aramis

Lembranças esparsas dos tempos históricos da TV

A história da televisão no Paraná - que assim como a do rádio e da própria imprensa - aguarda uma pesquisa ampla, há muito projetada (e em parte iniciada) é que vai contar, em detalhes, como foram os tempos das primeiras transmissões das TVs Paranaense e Paraná - as quais, somente sete anos depois, exatamente em 29 de dezembro de 1967, se acrescentaria um terceiro canal - a TV-Iguaçu. Até agora, apenas duas pastas na Biblioteca Pública com amarelecidos recortes de jornais e a coleção da "TV-Programas", além de reportagens esparsas em algumas revistas, resumem a história de nossa televisão. Inexistindo vídeo-tape, a memória visual dos primeiros tempos se restringem a filmes de 16mm, infelizmente perdidos em sua maioria. Centenas de pessoas - entre técnicos, atores, atrizes, cantores, músicos, cenógrafos etc, passaram pelas antigas instalações da TV-Paranaense - inicialmente no Edifício Tijucas, depois, já com maior espaço, numa ampla garagem na Rua Emiliano Perneta (hoje estacionamento) que tinha entrada pelo Edifício Mariza, Rua Senador Alencar Guimarães - de propriedade de Nagib Chede (e onde funcionava a Rádio Emissora Paranaense, hoje Apolo). Só alguns anos depois, em março de 1973, já na era do vídeo-tape e das transmissões nacionais, via satélite, o Canal 12 chegaria a sua atual sede, no chamado "Castelo do Lupion", no Batel - a belíssima construção edificada nos anos 20 pelo cafeicultor Luís Guimarães. Já a TV-Paraná teria no térreo do Edifício Mauá, na Rua José Loureiro, ao lado do "Diário do Paraná", a sua sede por muitos anos - só saiu dali para as instalações faraônicas projetadas pelo arquiteto Lubomir Ficinski no Alto das Mercês, hoje propriedade da Caixa Econômica Federal - que após anos em que mantêm aquele patrimônio fechado (desde que o recebeu por pagamento de dívidas do grupo Associado) vai destiná-lo a sua Central de Computação. Já a TV-Iguaçu foi a primeira televisão a ter a sua sede própria - na Cidade da Comunicação, sendo desde o início uma das emissoras mais bem instaladas no país. Em breves anotações, feitas mais na base da memória do que nas indispensáveis pesquisas e entrevistas que o tema comporte (e exige) é impossível sintetizar os 30 anos de nossa televisão em poucas linhas sem incorrer em graves erros e, especialmente, omissões. Afinal, quantos e quantos profissionais passaram pelos pioneiros estúdios de televisão na época em que a programação era feita ao vivo, sem recursos técnicos maiores, exigia o máximo de criatividade e improvisação? Osny Bermudes, 56 anos, que passou 17 anos nos Canais 6, 12 e 4, respectivamente, é uma das memórias vivas desta fase. 14 anos longe do burburinho das televisões, como assessor da gerência de Comunicação Social da Telepar, é melancólico: "A televisão que se fazia nos anos 60 era com amor, garra, o que faltava em recursos sobravam em entusiasmo e idealismo". Defensor de que ao menos uma hora de programação diária deveria ser reservada a programas ao vivo - excluindo os espaços jornalísticos - Osny mesmo admitindo o alto nível técnico alcançado pelas redes nacionais de televisão, não deixa de lamentar que a chamada terceira geração de profissionais da televisão local, mais preparada tecnicamente, melhor remunerada e valorizada, não tenha, entretanto, aquele espírito que caracterizava o trabalho de pioneiros. Mais do que o afetivo folclore bem humorado que cerca musicais pioneiros como "Jantando com as Estrelas", que Lorenzo Madrid e o ilusionista Karmaya apresentavam no Canal 12, ou "J.R. e seus cantores", que o ruivo Júlio Rosemberg tinha como atração maior aos domingos no Canal 6 - "e no qual, aparecia sempre um garotinho metido a sambista chamado Roberto Carlos", lembra-se Osny - havia produtores que, vindos de uma experiência radiofônica - como Renato Mazaneck (hoje na publicidade), Romualdo Oazaluk (falecido no ano passado, em Gramado, cidade em que residia há muitos anos), Israel Corrêa, Clemente Chem (também já falecido), entre tantos outros, faziam programas que, numa época em que o Ibope não assustava ninguém (porque praticamente inexistia), tinham audiência cativa dos curitibanos que, privilegiadamente, já possuíam aparelhos de televisão - então símbolo de status da classe média, enquanto era grande o número dos chamados televizinhos, atraídos pela novidade. Vindo da Rádio Guairacá, da qual havia sido um dos fundadores em 1948, Aluísio Finzetto (15/3/1917 - 6/12/1968) seria o grande diretor artístico da TV-Paraná desde sua inauguração. Homem culto, experiente em termos de comunicação, viajando anualmente à Europa e Estados Unidos, Aluísio voltou-se sempre a valorização dos artistas paranaenses. Entrando no ar à tarde e tendo uma média diária de 10 horas de programação, tanto o Canal 12 como o 6 tinham que buscar programas para preencherem seus espaços. Assim, Ary Fontoura e seus companheiros da Sociedade Paranaense de Teatro - como Maurício Távora, Jane Martins, Sinval Martins, Odelair Rodrigues e tantos outros, levavam o humor bem curitibano do Dr. Pomposo Ribeiro - personagem tão simpático e popular que nas eleições de 1962, recebeu 21 mil votos como deputado estadual, numa espontânea forma dos eleitores protestarem contra os já desacreditados políticos da época. Glauco Flores de Sá Brito, poeta, dramaturgo e diretor de teatro, gaúcho de Montenegro mas aqui radicado, com seu "Teatro de Equipe", fazia montagens de grandes textos, adaptados pelo então jovem Valêncio Xavier, hoje aos 57 anos, diretor do Museu da Imagem e do Som, e um dos raros produtores daquela época que ainda permanece na ativa integrando a equipe da TV-Paranaense. Dois jornalistas, Luís Renato Ribas - hoje empresário do setor de vídeo e indústrias gráficas - e Adherbal Fortes de Sá Júnior produziriam um avançado programa para a época - "Vai Acontecer", com inovações em termos de atrações para o público. Luís Renato, com sua visão empresarial, não ficou apenas na produção: associado a um colega de trabalho na Receita Federal, Rubens Hoffman, criou a revista "TV Programas", que editaria por muitos anos. Ao lado de Jamur Júnior - ainda na ativa, hoje no Canal 4 - Jota Jota (João José de Arruda Neto), 48 anos, 30 de televisão, há mais de dez na direção da TV Paranaense, embora admita que com a era do tape, transmissões via satélites e redes nacionais, o espaço para as realizações locais exauriu-se, acredita que "a criatividade substituiu o tempo que antes dispúnhamos à vontade". Cita, como exemplo, campanhas comunitárias, valorizando paranaenses - como a série "Bicho do Paraná" que, em seu entender, "deram até um novo sentido de paranismo para as novas gerações". Dez anos após a chegada da televisão no Paraná, vieram as imagens coloridas: às 16h10 de 22 de outubro de 1970, Curitiba viu pela primeira vez uma transmissão de televisão a cores. A primeira transmissão foi no Centro de TV da Embratel, quando um especial com os melhores momentos do Festival da Canção, produzido pela Rede Globo, trouxe o sistema Palm M a Curitiba. Mas esta transmissão foi feita em circuito fechado, pois em termos de transmissão pública a nova fase só aconteceria 14 meses depois, a partir de março de 1972. Assim como em 1960 eram raras as famílias que já possuíam televisões em preto e branco, em 1972 os altíssimos preços dos aparelhos a cores - Cr$ 6 a Cr$ 7 mil cruzeiros na época - limitavam, no início, a novidade. O consórcio Nasser foi um dos que se antecipou e colocando aparelhos em pontos estratégicos conseguiu boas vendas, pois em 28 de março daquele ano, seu diretor Miguel Nasser anunciava que já havia 700 consorciados, embora até as primeiras transmissões, só tivessem entregue 15 aparelhos. LEGENDA FOTO - Aniversário de quatro anos da pioneira TV Paranaense: Dirceu Graeser (falecido) e Enéas Faria, no estúdio do Edifício Tijucas.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
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16/09/1990

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