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Aramis

Leon, Chico, Manzo e outros caçadores de sons perdidos

Até o final dos anos 70, quem pretendesse conhecer a chamada época de ouro da música popular brasileira tinha poucas opções de escutar as grandes vozes, músicos e autores do período que cobre as décadas de 20 a 50. Se não tivesse a felicidade de ter amigos apaixonados (e organizados) colecionadores - destes capazes de qualquer sacrifício para reunir um acervo de preciosidades e que são tão fanáticos quantos raros - a opção era se sujeitar a poucos, chiados e estragados discos vendidos, geralmente a preços altíssimos, em algumas lojas do Eixo Rio-São Paulo, por comerciantes-colecionadores - como o sisudo Walter Teixeira, com sua lojinha na Praça da Sé, na capital paulista - que cultuam preciosidades a preço de ouro. Nos últimos anos, felizmente, o panorama começou a mudar. Paralelamente a era do CD trazer uma reedição do que foi feito de melhor já na fase dos elepês, especialmente a partir da década de 60 (que também eram raridades), colecionadores sérios, apaixonados e, especialmente, com um olho na generosidade para dividir seus tesouros sonoros com outro numa justa fonte de renda extra, passaram a produzir discos com tratamento especial para retirar os chiados dos velhos 78 rpm reunindo-os por intérpretes, gêneros ou mesmo temas em elepês com identificação de data de cada gravação, ilustrações e um bom acabamento técnico. Assim, hoje, além de produções isoladas - e sem maior continuidade - há ao menos quatro importantes etiquetas especializadas em resgatar um pouco do que existe de mais belo em nosso cancioneiro: a Revivendo, de Leon Barg, em Curitiba - hoje aproximando-se dos 70 títulos editados em três anos; a Moto Discos, de Francisco Almeida Aguiar; a Collector's, do José Maria Manzo, com 25 elepês e mais de 250 fitas cassete e, sem a mesma regularidade e precária distribuição, a Filigranas Musicais, que, ao que consta, parou em duas dúzias de lançamentos. Há também o selo Evocação, de um apaixonado colecionador, Paulo, que tem ainda um catálogo reduzido. Mesmo concorrendo entre si, estas etiquetas tem muitas aproximações. São dirigidas por pessoas apaixonadas pela música brasileira, geralmente na faixa acima dos 50 anos, e todos recorrem a um único técnico especializado num trabalho que exige paciência oriental: o carioca Ayrton Pisco, um ex-oficial da Marinha Mercante que, também apaixonado pela nossa música e colecionador insatisfeito com os chiados das históricas gravações em 78 rpm, foi desenvolvendo uma tecnologia própria para limpeza de sulcos e remixagem sonora que o transformou hoje num dos maiores especialistas do mundo. Vivendo folgadamente daquilo que era hobbie e hoje é fonte de (boa) renda, Pisco é o homem que tecnicamente possibilita que todo um tesouro sonoro seja regularmente reeditado - até há pouco apenas em vinil, mas agora já em CDs, com mais de dez lançamentos nesta nova tecnologia. Trabalhando com os acervos que foram ignorados por décadas nas grandes gravadoras - tanto pelas multinacionais EMI/Odeon, RCA e CBS, com também na brasileira Continental (antiga Columbia), Barg, Chico, Manzo e outros caçadores dos sons perdidos tem realizado um trabalho cultural da maior importância. Se, a partir de nossa idéia pioneira nascida no I Encontro de Pesquisadores da MPB (Curitiba, 28 de fevereiro a 2 de março de 1975), tornou-se possível deslanchar toda uma operação de arregimentação, estímulo e editoração de pesquisas, publicações e livros relacionados a nossa cultura musical - que sofria de uma morte precoce por falta de memória - os trabalhos de colecionadores-editores como os que acima citamos - e outros mais que, mesmo bissextamente, também tem bancado reedições, os fazem merecedores da maior admiração e respeito. Hoje, os discos da Revivendo, Motos Discos, Collector's ou Filigranas, podem ser encontrados em alguns pontos de vendas em vários estados. Mas o melhor e mais seguro, aos que não residem em Curitiba ou Rio de Janeiro, é adquiri-los pelo serviço de reembolso postal. A sede da Revivendo é à Rua Barão do Rio Branco, 28/36, 1º andar, fone (041) 224.2313, Caixa Postal 122, CEP 80010, Curitiba. A da Moto Discos na Rua 7 de Setembro, 163, CEP 20050 - fone (021) 252.8585. A Collector's, que além de discos, editou 200 volumes em fita da série "Assim Era" e que agora está no volume 33 da "Coleção de Ouro", com o acervo da Continental, em 78 rpm, atende pelo reembolso ou venda com pagamento por banco (neste caso com desconto de 10%) atendendo pelo endereço Rua Visconde de Pirajá, 550, subsolo 112, CEP 22410, Ipanema, Rio de Janeiro.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
14/04/1991

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