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Aramis

Leon continua escavando as riquezas da boa MPB

Em novembro do ano passado, a Collector's reuniu várias gravações inéditas de Paulo Tapajós, deixadas em acetatos que durante anos perambularam por vários depósitos, e produziu um elepê documental do maior valor. O trabalho que Costa Manso vem fazendo através de sua editora especializada em recuperar gravações inéditas - e graças a qual já saíram 18 álbuns - não é, entretanto, o único que vem ocorrendo no Brasil. Enquanto que no Rio também o Chico, da Moto Diseos, e a etiqueta Filigranas, vem promovendo importantes reedições em Curitiba, num trabalho mais intenso - e que já aproxima-se dos 50 títulos - Leon Barg vem obtendo com a série Revivendo um justo reconhecimento nacional. Como não nos cansamos de aqui destacar, Barg, dono de uma das mais bem organizadas (e amplas) coleções de discos 78 rpm, preocupa-se não apenas na reedição de fonogramas de cantores(as) conhecidos, mas - e isto lhe dá especial valor - trazer aqueles intérpretes que, por diferentes razões, ficaram apenas em alguns registros de 78 rpm, jamais chegando ao elepê e permanecendo, assim, praticamente desconhecidos mesmo de pessoas interessadas na história de nossa MPB. Mais três exemplos estão nos discos que Barg lançou há poucas semanas e que, como das vezes anteriores estão tendo simpática acolhida nacional, especialmente por parte dos colecionadores de raridades. Desta vez, recorrendo a fonogramas originais da RCA Victor, nunca lançados em LP, abrangem seis anos (1929/1935) com intérpretes como o galã e tenor Raul Roulien (hoje com 87 anos, mais lembrado como o brasileiro que filmou em Hollywood nos anos 30 do que como cantor), o folclorista Breno Ferreira (1907-1966), Gastão Formenti (1894-1974) e as sopranos Alda Verona (-?-?) e Jesy Barbosa (-?-1987), tão esquecidos que nem o pesquisador Abel Cardoso Júnior, arqueólogo musical que auxilia a Barg em suas pesquisas, conseguiu informações a seu respeito. Mas há outras preciosidades como Elisa Coelho, 80 anos, a estrela de revista Otília Amorim (1894-1970) e os conjuntos Tupy e o Trio T.B.T. xxx A "Folha de São Paulo" destacou em matéria especial a importância de Barg ter incluído no álbum "Sempre Sonhando", três das seis músicas gravadas por Alda Verona - "Papai Noel" (1932), "Um pouquinho de amor" (1933) e "Tão fácil a felicidade" (1934). Ela deixou apenas cinco 78 rpm para a RCA e uma para a Columbia, gravados quando já tinha 19 anos de carreira, iniciada como corista do Teatro Carlos Gomes (Rio, 1911). Mulher belíssima, foi a primeira atriz de revista a levar ao palco um número de samba, vestindo-se de baiana (1918). xxx No elepê "Cadê Viramundo", Barg reuniu três pioneiros grupos vocais, dos quais apenas o mais conhecido, o Bando da Lua, originário de um bloco Carnavalesco do Flamengo, em 1931, e que existiu até 1955, quando Carmem Miranda, dos quais foram acompanhantes por muitos anos nos EUA, morreu em Los Angeles. Mas independente de Carmem, o Bando da Lua - que teve várias formações, embora com alguns integrantes sempre presentes (entre eles Aloísio de Oliveira) gravou só na RCA nada menos que 38 78 rpm contra 74 músicas, quatros delas (no período 1934/35) agora inlcuídas no elepê da Revivendo: "A noite vem descendo", "Tristeza", "Mangueira", e "É do barulho". No mesmo álbum, dois outros conjuntos vocais, estes absolutamente esquecidos: o conjunto Tupy, liderado J. J. de Carvalho (1901-1979), que entre 1931/43, participou de 42 discos (77 músicas). Já o Trio T. B. T. teve a duração efêmera: entre dezembro de 1931/junho de 1932, gravou apenas 4 discos e 8 músicas na Odeon e outro tanto na RCA. Era formado pelos irmãos Trajano, Abner e Abdaná (os dois T da sigla) e por jaime Brito (o B do meio, solista vocal, que depois faria gravações sozinho). O Conjunto Tupy pode ser ouvido em batuque ("Vira-Mundo"), cateretê ("Bamvaia") e sambas ("Foi sem querer" e "Fica no Mocó", de J. B. Carvalho). Já o trio T. B. T. comparece com os sambas "Ao romper da madrugada", "Para amar e não sofrer", "Ai que dor" e "Como Eu Te Amei". No terceiro elepê do pacote da Revivendo ("No Rancho Fundo"), temos ao lado das vozes de Breno Ferreira, Elisa Coelho e Jesy Barbosa, o então jovem (23 anos) Sílvio Caldas, interpretando "Teu Desprezo", "Mão no Remo!" e "Ela não jurou".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
02/12/1989

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