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Aramis

Leon vai reeditar disco de Stelinha

Stelinha Egg, a cantora paranaense que teve maior prestígio nacional (160 discos 78 rpm, 15 elepês, mais de 20 compactos gravados entre 1943/75) viveu um sábado de muitas alegrias e emoções. De princípio, a felicidade de rever uma das mais queridas amigas, sua colega dos tempos da rádio Nacional, Zezé Gonzaga, que não via há muitos anos. Foi um longo abraço, que provocou lágrimas nas duas amigas, e também emoção nos animadores culturais Hermínio Bello de Carvalho e Cláudio Ribeiro, que presenciaram o encontro. Mais tarde, na residência do colecionador Leon Barg, nova emoção esperava por Stelinha: a notícia de que um dos próximos volumes da série Revivendo, será dedicado em algumas faixas as melhores gravações folclóricas feitas por Stelinha. Dentro de um válido projeto cultural em reeditar jóias da MPB, especialmente as que nunca saíram em elepês, Leon Barg programou um disco que terá Stelinha Egg - dividindo um álbum com outra notável cantora folclórica, Estefania Macedo. Um outro disco trará Zezé Gonzaga, considerada "a cantora dos músicos" pela afinação de sua voz - como puderam sentir os espectadores que, na segunda-feira, tiveram uma noite histórica e emocionante no auditório Bento Munhoz da Rocha Neto: o lançamento de "O Canto do Pajé" (Editora Espaço & Tempo), proporcionou que o autor do livro, Hermínio Bello de Carvalho, reunisse no palco Zezé e uma cantora (e violonista) lendária, Olga Praguer de Coelho, interpretando várias canções de Villa-Lobos, com letras de grandes poetas. Incansável animador cultural, produtor de uma centena de elepês absolutamente históricos na MPB, desenvolvendo os mais importantes projetos em favor da cultura popular, Hermínio Bello de Carvalho ficou entusiasmado com o esforço que Leon Barg, 64 anos, vem fazendo em favor da MPB. Como já registramos várias vezes, Barg, dono de mais de 40 mil registros em 78 rpm, garimpeiro de tudo que há de importante em nossa história musical, vem há mais de quatro décadas procurando completar sua coleção de 78 rpm, que supera, mesmo aos acervos de Nirez (Fortaleza), Gracio Barbalho (Natal), Miécio Caffé (São Paulo), e Jairo Severiano (Rio de Janeiro), entre outros organizadores colecionadores-pesquisadores, com os quais Barg mantém intercâmbio de suas raridades. Após ter lançado os cinco primeiros volumes da série "Revivendo" (no qual inclui não só gravações inéditas em lps de cantores famosos como Orlando Silva, Sílvio Caldas, Francisco Alves, Carlos Galhardo etc., mas também raros registros de cantoras desconhecidas como as paulistas Laís Marival e Sonia Carvalho), Leon Barg traz agora mais cinco álbuns. O primeiro deles, a partir de hoje em sua loja (Sartori, Rua Barão do Rio Branco, 28/36) reúne o Trio de Ouro (Herivelto Martins, Francisco Senna - depois substituído por Nilo Chagas - e Dalva de Oliveira). Os 4 Azes e Um Coringa (1909-1969), o duo Joel (de Almeida, 1913) e Gaúcho (Francisco de Paulo Brandão Rangel, 1911-1971) e mais Ataulfo Alves (1909-1969). De cada um, Leon selecionou três registros - feitos entre 1936/1947, que reprocessados por Ayrton Pisco (um verdadeiro milagreiro em termos e reconstituição sonora) oferecem excelente qualidade sonora, sem ruídos e chiados. Nos próximos dias chegarão os volumes "Preciosidades" (reunindo Orlando Silva/Gilberto Alves/Nestor Amaral/Arnaldo Amaral), "Paraguassu, O Cantor das Noites Enluaradas", os duetos entre Mario Reis e Francisco Alves e um elepê com o grupo Anjos do Inferno. Em cada uma dessas produções, Leon selecionou aquelas gravações mais representativas, dando sempre preferência a registros que somente haviam saído em 78 rpm, forma de gravação abandonada há 26 anos e que hoje praticamente não têm sequer aparelhos para reprodução. Assim, para toda uma nova geração interessada em conhecer a riqueza de nosso cancioneiro, a série "Revivendo" tem sabor do inédito, o que justifica que Barg mereça um apoio dos órgão oficiais, já que até agora fez um investimento pessoal de mais de Cz$ 3 milhões para que possamos conhecer, por exemplo, o "Calado Venci", samba de Ataulfo Alves/Herivelto Martins, gravado em dezembro de 1946 pelo Trio de Ouro, o delicioso (e atual) "Eu Também Quero Roubar", marchinha de Hervé Cordovil com a dupla Joel e Gaúcho, gravada em novembro de 1936, sem falar no primeiro registro de "Leva Meu Samba" com Ataulfo Alves (em dezembro de 1940) ou "Trem de Ferro", marcha do cearense Lauro Maia, que os 4 Azes e 1 Coringa lançaram em setembro de 1943 - e que posteriormente, em 1961, seria regravado, em estilo Bossa Nova, por João Gilberto. xxx Leon Barg tem inúmeros projetos para os próximos meses, dependendo, obviamente, da absorção destas primeiras dez edições (tiragem de 2 mil exemplares cada) que se destinam a um público especial. Atualmente, está montando a fita master de um projeto cultural da maior importância, "Cem anos de Abolição", com canções ligadas ao tema negro. Para este álbum original, Leon Selecionou as seguintes faixas: "Terra Seca" com Déo; "História de um Capitão Africano" com Josué de Barros (que lançou Carmem Miranda, por sinal presente neste registro); "Melodia Africana" (J. B. Carvalho/Odette Amaral); "Navio Negreiro" (Caymmi); "Algodão" (Sylvio Caldas); "Mãe Preta"(Mariano Gouveia, cantor desconhecidíssimo mesmo por experts); "Cem anos Atrás" (Nelson Gonçalves); "Mamãe Baiana" (Aracy de Almeida); "Negro Também é Gente" (Francisco Alves); "Pai João" (Gastão Formenti), "Canoa Imperial" (Sergio Schonbor); "Leilão" (Jorge Henrique); "Lamento Negro" (Trio de Ouro), "Abolição" (Wilson Batista/Orestes Barbosa) com Francisco Carlos. Em iniciativa pessoal, até agora sem qualquer estímulo oficial, Leon Barg vem realizando um trabalho musical da maior importância cultural. Mais um idealista batalhador pela preservação (e divulgação) de nossa combalida memória musical.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
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27/04/1988
Caro Leon, sobrinho de Estefania gostaria de saber onde posso encontrar discos, na época eram 78 rotações,de minha tia ou se já saiu seu album de Stelinha Egg com tia Estefania.Agradeço sua atenção. Abraços Gabriel

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