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Aramis

Letícia e Rosi, as mulheres e as cores

Paralelamente a 2.ª Mostra de desenhos Brasileiros, (hall do grande auditório do Guaíra, até o dia 27 de julho), onde se destacam vários trabalhos de artistas plásticos - numa presença marcante da mulher nesta área, duas outras mostras de mulheres que transmitem sua visão do mundo através de óleos, desenhos e outras técnicas, realizam-se na cidade. Na galeria do Centro Cultural Brasil-Estados Unidos (Rua Amintas de Barbos, 99), bastante intensa em sua programação, foi inaugurada ontem a noite, a individual de óleos de Letícia Faria, enquanto na galeria do Senac (Rua André de Barros, 750), desde o dia 25, a mostra << Blumenau e o Vale do Itajaí >> revela a arte de Rosi Maria Darius. *** O jornalista, publicitário e contista Domingos Pellegrini Jr., de Londrina, hoje a maior expressão da nova literatura paranaense, vários livros publicados, é quem apresenta Letícia, 27 anos, mineira de Uberlândia, uma bela mulher que desde 1976 atua em Londrina, onde lecionava no Departamento de Comunicação e Artes da Universidade local e atualmente dedica-se ao atelier, Letícia, formada em Ribeirão Preto, várias presenças em coletivas e algumas premiações. Diz Pellegrini Jr. a respeito desta nova artista que agora chega a Curitiba: << A busca de uma linguagem própria é, para o artista, o encontro com o mundo. Sem uma linguagem inconfundivelmente sua, organizadamente sua, o artista não consegue cumprir quaisquer outros objetivos para a sua arte. Seu primeiro compromisso deve ser com a expressão e o resultado disso será o enriquecimento expressivo de quantos comunicarem com o artista através de suas obras. Nas telas de Letícia Faria - antes de ver ou saber que ela pinta bóias-frias - vejo uma visão purificada, higiênica, rigorosa e organizada. A primeira função do artista plástico é essa: oferecer uma diferenciada visão do mundo, para enriquecer nossa visão. A partir disso, Letícia não se debruça discursivamente sobre um tema (como tantos já fizeram com os bóias-frias, geralmente com uma piedade ou uma revolta que ficam mais como testemunho do que como arte). Letícia encara os bóias-frias plásticamente antes de tudo - o que não quer dizer que não haja solidariedade. Pelo contrário, ela centra sua visão sobre esses homens e mulheres, eliminando a natureza e apontando, assim, a falta de perspectivas de vida dessa gente. As primeiras visões de Letícia sobre o tema, comparadas às que estão aqui expostas, evidenciam uma busca e um acerto: ela concentrou-se sobre os corpos, eliminando detalhes e faces (e assim denunciando ou indicando a brutalização dessa gente pelo trabalho) e também esterilizando a paisagem. Resultaram essas visões - << tão colorida e tão tristes >> como disse alguém a ela - essas visões depuradas de uma realidade social bruta. Quando não existirem mais bóias-frias, certamente essas telas de Letícia - sem pieguísmo ideológico nem facilitarismo expressivo - testemunharão por eles >>. *** Rosi Maria Winkler Dárius, catarinense de Blumenau, só começou a mostrar suas pinturas há 8 anos, com modestas individuais, principalmente no Vale do Itajaí. Sua pintura é definida como << um caso típico de amor à terra natal. Um amor entranhado, vibrante, declarado, feliz. E sua obra artística é uma autêntica manifestação desse amor >>. Assim são as paisagens amor >>. Assim são as paisagens de uma das mais belas regiões dos País que estão em seus desenhos - lápis, pastel, nankin e aquarelas, num total de 60 trabalhos, que até o dia 11 poderão ser apreciados no salão de exposição do Senac. FOTO LEGENDA - Letícia: a visão dos bóias-frias.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
28/06/1980

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