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Aramis

Lincoln Center nos projetos de Lerner

O prefeito Jaime Lerner regressou de sua última circulada internacional, desta vez à Escandinávia (em Oslo, participou de uma reunião preparatória da badalada Eco 92, no Brasil) como novos projetos repletos de imagens oniricamente coloridas. Ambos tendo a sua querida Nova York - metrópole do coração que sempre inclui no roteiro de suas viagens - como ponto de referência e desta vez concentrado num dos principais espaços culturais da Big Apple - o Lincoln Center. Ainda sem detalhes maiores - mais com o estusiasmo iluminado que o faz o prefeito de melhor estrela continental - Lerner pensa em viabilizar um projeto capaz de projetar a nossa cidade numa exposição em espaços futurísticos numa das áreas do Lincoln Center, o conjunto de teatros, museus, auditórios, etc. que, em pleno centro de Manhattan, funciona como vitrine do que há de melhor em termos de criação humana. Até o designer do curitibano Ligeirinho - inovação em termos de transporte de massa, no qual adequou à realidade tupiniquim uma solução econômica para quem não possui dólares para o chamado metrô/bonde urbano - poderá ter sua estação-tubo, projetada por outro arquiteto de estrela iluminada, o sempre feliz Abrão Aniz Assad, levado a Nova York - talvez como um espaço dentro do qual aconteça uma exposição curitibana - ainda em fase de idéias - mas que dentro das decisões que caracterizam Lerner quando se apaixona por uma idéia própria só é desligada no momento em que a concretiza. Também o Lincoln Center está como êmulo de outro sonho para marcar os 16 meses que lhe restam nesta terceira administração: transformar os hoje abandonados espaços vazios daquilo que um dia os Stresser - o saudoso jornalista Adherbal (1908-1973) e seu filho, Ronaldo - nos anos dourados do poder dos Associados - idealizaram para sediar o finado "Diário do Paraná" e a TV-Paraná. Construído nas Mercês, um terreno que os mais antigos dizem ter sido um cemitério em épocas distantes, o excelente projeto que marcou o início da carreira do hoje internacional Lubomir Ficinski (desde domingo em Buenos Aires, novamente em missão do BID, do qual é consultor-senior), a sede dos Associados teve curta e acabou entregue à Caixa Econômica Federal para pagamento de uma dívida que começou com o empréstimo de Cr$ 20 milhões há 26 anos passados. Depois que os últimos inquilinos desistiram de ali permanecer - transferindo-se as instalações do canal 6 para a família Martinez e o "Diário do Paraná" fechado e sepultado - os imensos auditórios, estúdios, áreas administrativas e garagens que haviam sido idealizados para uma central-sul na produção da outrora nacional rede associada criada pelo velho capitão Assis Chateaubriand ficaram entregues ao pó, às baratas e aos ratos. Só recentemente a direção regional da Caixa Econômica disciplinou seu aproveitamento como depósito de máquinas e móveis desativados, ali mantendo alguns guardas para que famílias de sem teto não acabem ocupando a área - co0mo quase aconteceu em invernos passados. Aliás, há alguns invernos, um belo painel em madeira que o nosso artista maior, Poty Lazarotto, ali executou, transformou-se em fogueiras para aquecer [as] geladas noites de vigias que deveriam zelar pelo patrimônio. Hoje, apenas restos daquilo que era mais uma grande obra do mestre Poty restaram! A collorida aproximação que está levando o prefeito Jaime Lerner a buscar apoio junto ao Palácio do Planalto para transformar em realidade muitos de seus sonhos administrativos - e hoje com sinal verde depois que o guru Brizola aderiu ao seu ex-opositor - fortalece as negociações com o Sr. Álvaro Mendonça, presidente da Caixa Econômica Federal para duas grandes operações triangulares: a construção de uma torre de 25 andares no privilegiado terreno que a CEF possui na praça Osório - entre a Vicente Machado/Comendador Araújo/ Visconde de Nacar - e que resultaria em mais um teatro (de 800 lugares) para a cidade - e, especialmente, a permuta do antigo patrimônio dos Associados, nas Mercês, para ser transformado numa espécie de Lincoln Center Tupiniquim. O arquiteto Lubomir Ficinski já foi contactado para executar o projeto de reciclagem das construções que projetou há 30 anos - mas como sua agenda é hoje internacional, caber ao seu escritório, eficientemente dirigido pelo primogênito João Guilherme iniciar os estudos. O mais difícil é encontrar uma solução que viabilize economicamente a operação que passe para o município a propriedade em mãos da caixa. O que Lerner pode oferecer no valor de US$ 1,5 milhão - uma avaliação (superficial) daquela propriedade - para a Caixa? Desviar recursos do orçamento para tal investimento será matéria explosiva. Imóveis disponíveis do município que possam interessar a Caixa para esta permuta inexistem. Entretanto, ainda numa escala muito confidencial, existiria uma fórmula para atrair um poderoso grupo empresarial - que com milhões de dólares à disposição - tornaria possível fazer nascer nas Mercês o Lincoln Center curitibano - com auditórios, salões de exposições, museus, jardins e muitas luzes. Aliás, pouco antes de viajar para Oslo, o prefeito Jaime Lerner esteve visitando os hoje empoeirados e antigos estúdios do Canal 6, na companhia de um executivo cultural carioca, para ali verificar a possibilidade de ser implantado dentro do megalomaníaco projeto - um museu especial. Outra das idéias - esta alardeada pelo barroco deputado Rafael Greca de Macedo, em nome da complicada comissão dos 300 anos de Curitiba, é a de lá ficaria também "o museu dos 300-anos" - uma espécie de "Conceição" nascida de sua cabeça: ninguém sabe, ninguém viu, o que o Deputado pensa em reunir para este museu que, no mínimo, esvaziaria o centenário Museu Paranaense. Aliás, meses atrás, Rafael nos falava, com a verborragia que o caracteriza, de que iria ao Rio de janeiro, para convidar, durante um jantar no Bife de Ouro, a atriz Fernanda Montenegro para que começasse a ensaiar (sic) o espetáculo inaugural do teatro municipal que surgirá na Praça Osório - "quando a torre hoje idealizada ali estiver concluída". De uma coisa ninguém pode criticar a Greca de Macedo: seus sonhos são ainda maiores do que sua pretensão política de substituir o guru Lerner na Prefeitura a partir de janeiro de 1993.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
16/07/1991

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