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Aramis

A "Linha do Trabalho" que Jaime vai iniciar

Livrando-se, pouco a pouco, dos encargos desgastantes no lamaçal político - que até agora mais o prejudicaram do que o auxiliaram em sua vida de homem público - o arquiteto Jaime Lerner está procurando fazer aquilo que comprovou, até internacionalmente, sua competência: a de planejador e administrador urbano. Assim é que mesmo ainda manietado por algumas escolhas infelizes que fez para duas ou três secretarias e cargos do primeiro escalão - mas cuja substituição vem procurando adiar (embora prejuízos administrativos decorram desta sua extrema generosidade), Jaime Lerner tem claras definições do que planeja nos próximos dois anos e meio de seu mandato para, ao deixar a Prefeitura, o faça com uma consagração que nenhum outro administrador municipal obteve em nossa história. Afinal, serão três vezes que teve oportunidade de administrar uma das maiores cidades do País, em condições de - mesmo com limitações de ordem financeira e, especialmente, problemas políticos (mas não tão graves que não possa solucionar) - desenvolver projetos que, hoje, já resulta em premiações e reconhecimentos de inquestionáveis instituições internacionais. A proporção que Curitiba tem projeção mundial de sua administração aumentam as responsabilidades e, mesmo a cobrança que a população, com toda razão, faz - inclusive para a solução daqueles problemas, aparentemente menores, mas que interferem no dia a dia. Assim, uma política cultural mais realista e voltada realmente a cidade é tão importante a ser desenvolvida quanto um amplo programa turístico e de lazer - como o que um dos mais competentes integrantes de sua equipe, o arquiteto Walter Angel, desenvolveu nos últimos dias. Aliás, Angel, acumulando hoje as funções de administrador da zona central e responsável pela área de turismo - até a sua entrada, totalmente abandonada após a saída do Amadeu Geara da Secretaria de Turismo (extinta) está entre os mais eficientes membros do staff de Jaime, amigo sincero e que por isto mesmo soma o seu esforço a uma sinceridade crítica. Com ótimas idéias, racionalmente a serem desenvolvidas sem entraves que tanto prejudicam os eventos (ditos) culturais da cidade, Angel tem um pacote que deve movimentar bastante a cidade nos próximos meses. Jaime Lerner, entre vários projetos destinados a alcançar os bairros - cujo "abandono" é constantemente lembrado pela oposição como o calcanhar-de-Aquiles de sua administração (embora as obras desenvolvidas provem o contrário) - vem dando as últimas pinceladas no que chama de "Linha do Trabalho". Mais uma feliz idéia para motivar a comunidade a utilizar mão de obra disponível e atingir vários segmentos. Em ônibus já desativados da frota diária, a Prefeitura criará verdadeiras oficinas de trabalho, com artesões e profissionais que poderão desenvolver uma mão de obra que tanta falta faz - de marceneiros, eletricistas, até prendas domésticas. Para transmitir os ensinamentos serão contratados aposentados, experientes nas funções que exerceram por toda uma vida, os quais, conduzidos nos ônibus - também dirigidos por motoristas aposentados - farão o circuito previamente estabelecido nesta "Linha de Trabalho" - um ovo de Colombo a mais para o omelete de sabor criativo que Jaime, bom cozinheiro, sabe preparar.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
09/08/1990

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