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Aramis

Loucura cinematográfica

A loucura vista pelo cinema já comporta, sem dúvida nenhuma, um amplo estudo. As fronteiras da lucidez e da loucura são, muitas vezes, mais difíceis de se estabelecer do que se imagina e isso tem permitido a roteiristas e cineastas de talento criarem verdadeiras obras-primas, muitas vezes com apropriadas colocações político-contemporâneas, das quais o premiado "Um Estranho no Ninho", do checo Milos Forman, é o mais recente exemplo. "O Segredo das Velhas Escadas" (Cinema 1, hoje, 14h 30min e 20h 30 min, últimas exibições) representa um novo mergulho do cinema no mundo cinzento e assustador de um asilo de dementes, na Itália fascista, no período anterior a eclosão da II Guerra Mundial. O romance de Mário Tobino teve da parte de Mauro Bolognini, 55 anos, 30 de cinema, uma adaptação corajosa, densa e válida. Ao contrário de Milos Forman, Bolognini não buscou a linha do humor, do absurdo: sua narrativa é envolvente mas asfixiante, fazendo o espectador "viver" realmente aquele universo limitado, terrível - captado em imagens perfeitas pela esplêndida fotografia de Enio Guarnieri e uma trilha sonora onde Ennio Morricone aproveita, com felicidade, os recursos eletroacústicos, fazendo quase todo um fundo sonoro de ruídos ao invés de música. A tirania do Dr. Bonarccorsi (Marcelo Mastroianni), poderoso médico de um hospital, psiquiátrico em Toscana, em 1930, seu relacionamento com as mulheres que ali vivem - Bianca (Marthe Keller), Carla (Barbara Bouchet) e Francesca (Lucia Bose), o choque provocado com a chegada da Dra. Anna Bersani (Françoise Fabian), vão, pouco a pouco, colocando em discussão os conceitos tradicionais (ou não) da psiquiatria, os limites da loucura, até um final que é, ao mesmo tempo, irônico e político. Lamentavelmente, "O Segredo das Velhas Escadas" veio em sua versão dublada para o inglês. Longe de ser o melhor filme sobre este tema - é, entretanto, um trabalho seguro, denso e mesmo polêmico - que deve interessar especialmente a médicos, psicólogos e estudiosos ligados à saúde mental.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
4
10/05/1978

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